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ECOS DE FÉRIAS
Por: Mattusstyle em 12.12.2021 às 18:35
CORTEGAÇA
Verão de 1990. Neste ano não marcamos férias. Deixamos o tempo correr.
Naqueles verões as férias eram mais saborosas quando improvisadas.
Aquele ano foi assim:
Carregamos o carro com e essencial, e lã fomos sem destino definido.
Em cima da hora, não íamos sentados sobre nenhum relógio, partimos rumo a sul.
Não fomos muito longe. Era difícil sem marcação antecipada, encontrar algo disponível naquela altura.
Sem pressas fomos andando, quer dizer, rolando. O lema era: “Em frente é o caminho”.
Pouco depois de Espinho, lembrei-me de uma localidade que tinha visitado anos antes, que achei simpática, Cortegaça. Para lá nos dirigimos.
Entramos num minimercado e perguntamos se havia alojamento para férias. Há uma casa que ainda não foi alugada porque os donos passam muito tempo no hospital, porque a filha está doente.
Vivem em Maceda. Foi a resposta. Para lá nos dirigimos, até porque é perto!
Conversa para lá e para cá, alugou-nos a casa por um preço demasiado acessível. Achamos estranho, mas não se reclama quando é barato.
Entregou-nos a chave e voltamos.
Surprise!... As condições eram mínimas! Mas foram umas das boas férias da nossa vida.
Para férias agradáveis, nem sempre é preciso grandes condições. É preciso sim, espírito para vivê-las da melhor maneira.
CORTEGAÇA 1990
Como é belo acordar pela manhã com o barulho das ondas a rebentar na areia, sendo beijados pelo sol através das janelas, ao serem abertas de para em par, e acariciados por uma brisa
marinha com sabor a sal.
Almoçar na varanda, debaixo do guarda-sol, sentindo a pele queimar, enquanto olhamos a imensidão do mar à nossa frente, sabendo que mesmo em casa, se trabalha para o bronze.
Caminhando ou descansando nos bancos do passeio gigante, ajardinado e bem iluminado à noite, onde a miudagem rola e farta-se de rolar, nas suas minibicicletas, enquanto os adultos
individualmente ou aos pares, apanham o ar fresco da noite, antes de irem para a cama.
Dar ao pé dançando na discoteca Dacasca, tomar o café no simpático, acolhedor e bem decorado Dacasca Bar. Ouvindo boa música gravada ou ao vivo a partir das dez horas da noite. Comer
uma pizza na Pizzaria Itália-Itália do italiano, tomar uma bebida curtindo música no acolhedor Coksi's Bar (Pub), ou ainda uma água na esplanada junto ao Parque de Campismo.
Efetuar as caminhadas matinais de manutenção - 3Km - até Esmoriz - Barrinha, e tomar um café com natas no Barqueiro ou um gelado (Pasolini) no Calypso.
Assistir à lota do peixe, e no regresso, dar duas de treta com o Sr. Telmo (Porteiro do Parque de Campismo de Esmoriz). Chegar e fazer praia.
Habituais escapadelas a Espinho à noite, descendo e subindo o passeio alegre lá do sítio, onde em grande número se podem ver turistas estrangeiros, das mais variadas nacionalidades,
alguns de higiene duvidosa.
Percorrer toda a feira de Espinho de tenda em tenda, numa Segunda-feira, com um calor de rachar, a suar em bica a quase desidratar. Ao chegar a casa, esgotar todos os líquidos
disponíveis, e chupar fatias e fatias de melancia fresca e deliciosa, qual melhor gelado da Olá, Pasolini ou Gelatti Motta!
Manhãzinha cedo, caminhar ao longo da praia, até ao ponto da chegada do barco carregado de pescado, assistindo à venda do peixe vivinho a saltar em estertores lutando contra a morte.
No regresso, escolher pedras macias (jogas) multicores, para nelas escrever frases alusivas a Cortegaça.
Alguns raids - passeatas pelas localidades da zona: Furadouro/Ovar, Aveiro, Feira, Gafanha, Costa Nova e Barra. Nesta última, mirando a Ilha de S. Jacinto ao longe, contemplando o farol
e admirando a imensidade de água entrando que vai formar a Ria.
Rolar ao longo da Ria no percurso Furadouro S. Jacinto. Comprar melões e melancias. Regalar os olhos vendo os barquinhos de recreio navegando com suas velas multicoloridas, e alguns,
talvez dos últimos moliceiros, sempre agradáveis de ver, ancorados nas suas margens, outrora utilizados na apanha do moliço, que vai rareando, devido à poluição da sua superfície
líquida, e não só.
Ver o postal vivo da pesca artesanal de arrasto na Torreira. Os bois bem nutridos, arrastando as redes para a praia, onde muitos turistas e não só, contemplam a faina e aguardam a
chegada do peixe e respetiva lota que irá ser feita.
Regalando os olhos, apreciando as lindas vivendas junto à localidade, e os chalés em madeira, de muito bom gosto, construídas num ponto da praia.
Saborear as simples e agradáveis refeições, que devido ao estado de espírito de férias, sabiam sempre melhor que em qualquer outra altura, servidas dentro de casa ou ao ar livre.
O banho diário ao fim da tarde, com água aquecida pelo sol, no depósito em cima do telhado, quais placas de luz solar!
O fim aproxima-se e é o regresso à rotina doentia do dia-a-dia do trabalho e a saudade de algo simples, belo e repousante que fica para trás.
PORTONOVO / SANXENXO
Estamos em 2003 e mais coisa menos coisa o mês das férias está aí em cima de nós. Ainda não sabemos nem temos ideia nenhuma para onde vamos.
Os dias estão lindos de um sol radioso. As esplanadas estão cheias de gente com o mínimo de roupa, meio vestidos meio despidos. O cheiro a férias anda no ar.
Temos de tomar uma decisão, tomar um café e tomar uma atitude positiva.
Em trabalho fiz algumas viagens para o norte de Espanha e encontrei sítios bonitos na Galiza. É para esta zona balnear que estamos a pensar ir.
Praticamente decidido que está o destino, falta escolher o local certo. Enquanto correm estes dias devagar, dei comigo a desfolhar uma revista da especialidade. Reparei num hotel que
me pareceu interessante e com preço ao alcance da nossa bolsa em Portonovo / Sanxenxo. Estava encontrado o local.
Numa agência pediram-me o dobro do valor que vi na revista! Achei estranho e abusivo. Saí como tinha entrado, sem decisão. Enchi o peito de orgulho e disse de mim para mim: Vamos lá
diretamente e veremos se é assim. Se não for este arranjamos outro.
Com alguns pertences na bagagem, iniciamos a viagem que, não é assim tão longe como isso! Aproveitaríamos o passeio, caso não batesse certo.
Chegamos lá. Foi uma agradável surpresa. O hotel está situado numa zona linda de pinhal e praia. O preço realmente acessível e não tivemos de pagar adiantado.
A viagem foi agradável e o percurso é muito bonito. As várias rias por onde passamos dão uma beleza refrescante àquela costa!
Já instalados, fomos inspecionar os arredores. Para começar, em Portonovo há tasquinhas onde se podem comer as tapas de marisco como em La Guardia. Há um cais de embarque e desembarque
para visitas às diversas ilhas turísticas. A mais selvagem e mais procurada é a ilha de Onz. As praias não são grande coisa. Por sorte, o hotel tem piscina.
A cerca de 5 quilómetros, a caminho de Grove, há um parque de diversões, o Paris Dakart. Assim se chama. Fomos até lá. Tem karts para adultos e crianças com duas pistas com dimensões
razoáveis. Num outro ponto, tem canoagem num lago grande. Jogamos uma partida de mini-golfe. Há pessoal a divertir-se nos trampolins. Um bar/restaurante de apoio e um quiosque com muitas
recuerdos.
No percurso, porta sim porta sim há uma hostal (hospedaria ou residencial).
Fomos a Grove ver um aquário gigante com diversas espécies de peixes e os viveiros de douradas e robalos.
Aproveitamos já que era perto e demos uma saltada a La Toja ou como também se diz, A Toxa. Ilha lindíssima, não muito grande, com várias atrações. Esta ilha tem dois ou três hotéis de
luxo, uma feira durante todo o verão de artesanato local, uma fábrica de sabonetes e outros produtos de higiene, um pequeno casino, um campo de golfe cheio de árvores numa das encostas,
um centro de estágios para desporto e vivendas de encher o olho!
A partir de Grove, há uma ponte de acesso a La Toja. Devo dizer que aquele espaço aquático, é mais uma das muitas rias que por lá existem. É preciso fazer quilómetros para nos descolarmos
de um lado para o outro, pois tem que se contornar aquela imensidade de água.
Portonovo acaba onde começa Sanxenxo e verse-virsa. Entre estas duas localidades, há uma feira semanal.
Foi bom e enriquecedor. Só foi pena que ao 4º dia uma carga de água que nunca mais acabava tomasse conta da região. Todos ou quase todos os hóspedes do hotel incluindo nós, tiveram de
passar o tempo a jogar cartas, dominó ou a ver televisão no salão nobre. Isto porque não dava para sair, tal era a tempestade! Aguardamos dois dias. Como a chuva não parava, viemos embora.
No regresso passamos em Vigo e aproveitamos para comer paella e uma parrilhada argentina no Flunch e fazer umas comprecas no Al Campo.
Atravessamos a fronteira entrando em Portugal. Uma sensação desconfortável das férias acabadas antes do tempo era evidente!
Tinham na realidade tinham acabado, mas no ano seguinte haveria mais.
PRAIA DA ROCHA
Férias no Algarve em 2006 - Praia da Rocha.
PARTIDA
Chegou finalmente o dia da partida para férias!
Ainda faltavam umas horas largas, e a tolice já estava instalada, aliás, a tolice já estava instalada há muitas semanas atrás!
Escolha de hotel e respetivo preço, malas, roupas, meio de transporte, etc, etc, etc.
Como ia dizendo, o dia chegou.
Um amigo do nosso filho foi também. Mais novo um pouco, mas ambos miúdos. Estávamos à espera dele, fartinhos, mortinhos e vivinhos de saber que a mãe não o iria trazer tão cedo. Não
sei porquê, a ansiedade estava a tomar conta de nós.
Tudo pronto para a partida. O preço incluía viagem de autocarro.
Apanhamos o transporte em Braga à meia-noite. A essa hora iniciamos na central a nossa viagem.
Chegamos um pouco cedo. Ainda esperamos um bom bocado. Deu tempo para num bar próximo, tomar qualquer coisa fresca.
A noite estava cálida. Um calor abafado e sufocante fazia-se sentir, como que a anunciar uma tempestade. Uma queda de granizo já se tinha abatido sobre nós, que mais pareciam calhaus
a baterem no tejadilho dos carros. Até assustava!
Meia-noite em ponto, eis os autopullmans da Renex. Mais parece um nome de medicamento para as dores de cabaça ou para a má digestão! Depois de cumpridos alguns trâmites normais: Arrumar
malas, vistoriar bilhetes e despedidas, lá partimos.
O ar condicionado ou forçado, sei lá, funcionava mal e porcamente. O calor era muito. Por causa disso, comecei a sentir uma pressão de dentro para fora, uma mistura de calor e humidade
pesava-me no corpo. O suor estava vivinho para espirrar por tudo quanto era poro.
Estávamos completamente sós com mais cerca de quarenta ou cinquenta pessoas para nos fazerem companhia naquela viagem.
Paragem em Famalicão para o bicho comer mais gente e seus pertences. Toda a parolice da zona entrou naquele autocarro. Um baixo nível desgraçado e desgraçadamente atroz.
Os vizinhos dos bancos logo atrás de nós, brindaram a plateia, com piadas de gosto duvidoso e de um humor barato. Tinham a mania que eram engraçadinhos. Os amigos eram muito
"agardecidos", pois riam a bandeiras despregadas. Aquilo foi muito giro, quase vomitamos.
Depois da ilusão que não se sai do sítio e que não se chega a lado algum, eis o Porto.
Até aqui foi assim.
No Porto a espera foi um pouco longa e penosa. Voltas e mais voltas nas ruas estreitas daquela cidade até que paramos ao lado dos jardins da Cordoaria.
Enquanto esperávamos sem saber por quem e para quê, valeu a risota: Um "manco" esteve largos minutos a tentar estacionar o carro, orientado por um daqueles arrumadores de carros,
tão ou mais "tota" que ele. É caso para pensar que aquele condutor é dos que lhe faz muita confusão o carro ter três pedais e ele ter apenas dois pés!
A voz do condutor fez-se ouvir, interrompendo a risota: Senhores passageiros, os que forem para o Algarve têm de mudar. Então! - Ouviu-se um grupo de vozes:
- Disseram-nos que era direto!... Temos de mudar?
- É melhor, este faz escala em Lisboa e aquele nem a Lisboa vai.
- Ok, Ok!... - Disseram as mesmas vozes.
Valeu a pena. O ar condicionado ou forçado funcionava e a temperatura tornou-se bem mais agradável.
Por fim, lá partimos.
A velocidade era razoável. Foi comer asfalto quilómetro após quilómetro, durante muitos quilómetros.
A noite foi dando lugar à madrugada. O cansaço começou a tomar conta do pessoal. Cada um procurava a melhor posição para "cubar", que é como quem diz, bater uma boa sorna.
O motor gemia mesmo por baixo de nós, principalmente quando o motorista fazia reduções.
Corria a madrugada. A noite já há muito nos tinha engolido a todos. Os contornos das árvores, como que sombras, corriam no sentido contrário ao autocarro.
A minha gente procurava a melhor posição para dormir, e assim, vencer o cansaço que se estava a apoderar dela. Ora de frente, ora de lado, encolhida, com os pés sobre os meus joelhos,
e assim por diante.
O nosso vizinho do banco do lado dormia com os fones do MP3 nos ouvidos. A música era perfeitamente audível. Não sei como conseguia dormir!
Eu, moi meme, de vez em quando passava pelas brasas, mas fugazmente. Adormecia e um minuto depois já estava acordado com dores no pescoço, e a sensação que tinha dormido horas.
Às páginas tantas, adormeci um pouco mais profundamente. Raiava o dia quando acordei. Estávamos a entrar numa área de serviço qualquer em pleno Alentejo.
Nunca cheguei a saber qual era. Também não quis perguntar. Uma ténue claridade rompia no horizonte. Era a alvorada de mais um dia. O cansaço tinha sido mais forte, venceu-me. As dores
no pescoço estavam presentes.
Têm quinze minutos, ouviu-se a voz do motorista.
Todo o mundo estava impaciente para sair. Todos tinham o estômago vazio, bexiga cheia, todos precisavam desentorpecer as pernas e alguns fumar o seu cigarrito. Pareciam formiguinhas a
sair da toca em filinha para a casa de banho!
Como era evidente, os finos e ricos, iam fazer xi-xi. Os parolos e pobres iam mijar.
Depois de verter águas despejando a bexiga, era preciso matar ou por quieto, o ratinho que roía no estômago. Para vesse efeito, havia muita coisa. Tudo para o bar. Bolos, sanduíches,
sumos, cafés, etc. e tal, estavam à disposição, pagando, claro!
Esgotados os quinze minutos, as formiguinhas voltaram à toca ambulante. Esta pôs-se a rolar.
O terreno era plano e a paisagem um pouco agreste. Estava tudo muito seco! Aqui e acolá, um grupo de oliveiras e terra seca à sua volta. A certa altura, alguém comentou para os amigos:
Olha os teus primos! Eram vacas pascendo a erva seca por entre alguns pinheiros mansos e oliveiras.
O Algarve recebeu-nos ainda a dormir.
A bifurcação Faro/Albufeira apareceu finalmente! Volta e mais volta, chegamos a uma localidade perto da Guia-Albufeira, chamada Vale de Paraíso. Paragem no terminal de autocarros.
Eram 7H30 da manhã.
Senhores passageiros vão ter de mudar para outro autocarro:
Nº 1 - Albufeira, Vilamoura e Quarteira - 8H30.
Nº 2 - Faro, Olhão, Tavira, Monte Gordo e Vila Real de S. António - 9H00
Nº 3 - Portimão, Alvor e Lagos - 8H30.
Esta última era a nossa carreira. Mais uma hora de espera. Partimos quando ainda faltavam dez minutos para a hora marcada.
Torres, torres e mais torres. Empreendimentos turísticos ora ao longo da estrada nacional 125 ora junto às praias. Albufeira, Guia, Porches, Armação de Pera e outras, iam ficando para
trás.
Passamos Alcantarilha e respetivo Aqualand (Big One) e Lagoa e o seu "Slids and Splashs" (Parque aquático). A linda e bela ria de Portimão estava à nossa frente. A zona urbana estava
já ao alcance da vista, mas ainda faltavam cerca de três quilómetros. Atravessamos a cidade. As placas dizendo Praia da Rocha sucediam-se. Enquanto estávamos atentos a estas placas, a
voz do motorista interrompeu a nossa observação.
- Praia da Rocha - disse.
Temos de sair. Cadê o mar?!...
Nada de mar à vista! Este era a cerca de 500m.
Já fora do autocarro, enquanto recolhíamos as malas, perguntamos ao condutor: - Por favor, onde é este hotel? Mostramos-lhe um papel. - Nesta rua em direção à praia, mais ou menos a
meio.
A a avenida a romper as rodas das malas no asfalto, enquanto os nem sequer tinha iniciado a marcha!
Olhei para trás para os chamar, e eis o hotel bem conhecido das revistas e internet. Saímos mesmo em frente e não demos por isso! Lá tivemos de voltar. Motorista estúpido!
O HOTEL
Torres e muitas torres encimadas por ogivas arredondadas.
Guardamos as malas numa sala apropriada. A mesma onde ingleses e franceses guardam as bags e valizes.
.Dirigimo-nos à receção para o check-in. Foi-nos colocada uma pulseirinha de identificação de All Inclusive.
O hotel era mesmo grande. Um pequeno mundo! A zona envolvente à receção era muito bonita.
Tinha dois restaurantes, um internacional e outro italiano. Havia ainda o bar das piscinas, onde havia quase permanentemente um self-service sem pagar mais um tostão: Sanduiches várias,
gelados, água fresca e outras bebidas como: Vinho, cerveja, colas, ices, sumos diversos, café, leite, capuchinos, etc.
A esplanada junto às piscinas, era grande e coberta. Tinha mesas e cadeiras normais de um lado, sofás do outro. No exterior tinha espreguiçadeiras e guarda sois. Tudo amarelo.
O idioma mais falado além do português, era o inglês. Mas também o espanhol.
Um duo musical, abrilhantava as noites no salão nobre, tocando e cantando êxitos de várias décadas. Era agradável ouvir e ver ao vivo, músicas que marcaram os nossos tempos, embora
executadas por outros intérpretes. Beatles, Santana, Eric Clepton, Scorpions, Rui Veloso, eram alguns dos muitos com que fomos brindados. Como a maioria das letras eram em inglês,
muita estrangeirada acompanhava cantando nos seus lugares, enquanto ingeriam tudo quanto era bebida. Pareciam odres a beber, sobretudo canecadas de cerveja! Enquanto decorria o
espetáculo, tomávamos a nossa bebida, acomodados nos sofás que eram muitos.
O ar condicionado refrescava o ambiente, que contrastava e muito com a temperatura do exterior, embora a noite não fosse desagradável de todo. Mas naquela noite não saímos.
A PRAIA
Antes de descer, um olhar panorâmico sobre a praia. Praia extensa e linda. Ao mar de água juntava-se um mar de areia que nunca mais acabava. Grupos de guarda-sóis com áreas bem definidas,
distinguiam-se perfeitamente. Cada grupo com sua cor. A vista geral era um todo multicolorido. Lindo!
Ao longo da praia, foi construída uma rua toda em madeira em cima de estacas. De espaço em espaço, bares com esplanadas, que à distância pareciam contentores. Desta rua em madeira, havia
vários passadiços de acesso e saída da praia.
As vistas do mar para terra, também eram agradáveis. A falésia e os edifícios lá em cima desafiavam o mar.
O pior era regressar. Em alguns pontos, havia escadarias quase a pique! Parte do solário do Hotel Algarve Casino estava suspenso entre dois morros. As pessoas em cima não se apercebiam
de tal.
A água do mar era boa. Havia a preocupação de manter a areia limpa. Muitos barquinhos e motos de água para alugar, destinados a pequenos raides nas ondas daquela superfície líquida.
Comemos as célebres bolas de Berlim, compradas aos vendedores ambulantes de caixa ao ombro, que palmilhavam todo o areal.
Várias fulaninhas fazendo topless, com a pele muito queimada. O preto das mamas não se distinguia do resto do corpo. Aquelas trabalhavam intensamente para o bronze.
ESTADA
O hotel de apartamentos era muito grande tanto em largura como em altura. No exterior, as árvores ao seu lado, embora grandes, pareciam pequenas. O vento soprava forte nas alturas.
Não havia toalha que aguentasse no parapeito das varandas. Algumas voavam e só paravam nos ramos dessas árvores. Era caso para dizer, que aquelas árvores davam frutos coloridos, tipo
toalha de praia.
A gordura era formosura. A maior parte da estrangeirada eram gordos, gordos! Ao lado desta gente, sentimo-nos elegantíssimos. Era evidente uma certa satisfação interior.
Era Domingo. A tarde estava no seu começo. Tínhamos acabado de almoçar. Resolvemos tomar o café no bar da piscina. Os vermelhões na perna da minha cara-metade diziam que a alergia ao
sol estava presente. Era preciso agir rapidamente ou estragava-nos as férias. Ainda estavam no princípio! Gel ou spray à base de cortisona era o mais indicado. Era preciso ir
imediatamente à farmácia local comprar os ditos cujos medicamentos. Nem sequer sabia onde era!
O relógio naquele momento marcava três horas da tarde. A farmácia devia estar a abrir. Precisava descobrir onde era. Estava um calor de rachar àquela hora da tarde. O suor escorria
por mim abaixo. Escolhi um percurso à sombra de alguns hotéis. As toalhas continuavam penduradas na árvore a servirem de frutos. O mesmo vento que do parapeito das varandas as atirou
para lá, não as atirou para o chão.
A farmácia fica perto da praia, num dos lados onde ainda não havíamos ido. Estava fechada. Nada informava se abria ou não. Era Domingo...
Informado por alguém, fiquei a saber que abriria às quatro horas. Sem outro remédio, tive de esperar. Voltar para trás estava fora de questão. Nem morto! Com aquele calor!...
Aproveitei para fazer algumas descobertas. Dirigi-me para o lado esquerdo em ralação ao acesso à praia. Era uma zona bonita com muitas lojinhas de bijuterias e bares com esplanadas
castiças de mesas e banquinhos fora do comum. Comprei alguns postais meios marados! Resolvi ir lá com toda a prole, mas noutra altura.
Segui rua abaixo. O forte estava já muito perto, mas não continuei. Estava muito calor e já me sentia cansado.
Regressei com a pomada e as indicações para aplicar à sombra.
Numa tarde qualquer daqueles dias daquela semana, passeava com famelga na rua marginal junto à falésia da praia. Surprise!... Esbarramos com a família caracol. Caracol? Sim, quer dizer,
Ziza, marido e filhotes. Estavam numa das muitas esplanadas a comerem qualquer coisa. O puto é giro. Carregado de óculos parecia um doutor em miniatura! A carapaça, aliás, a rulote,
tinha ficado algures em qualquer sítio daquela terra. Não a chegamos a ver. Conversamos sobre tudo e sobre nada. Tinham feito uma pausa para lanchar. É sempre agradável encontrar alguém
conhecido.
Falamos de coisas conhecidas e outras desconhecidas. Enfim, trocamos galhardetes, quer dizer novidades. A conversa estava boa, mas tínhamos de continuar. Despedimo-nos.
Os caracóis iriam com certeza partir para outro local qualquer com a sua casa às costas.
O tempo continuava limpo. A tarde caminhava para o seu fim. O sol fugia rapidamente. Uma cor indefinida de luz e sombra, pairava sobra a praia. A marina avistava-se a certa distância
através dos mastros dos iates aí ancorados. Esta marina situa-se na margem direita do rio Arede, cujas águas corriam calmamente para o mar.
A pouca distância, o forte ou ruínas dele, guardava as entradas e saídas do rio. Terá sido a sua função noutros tempos.
A temperatura no final do dia estava agradável para dar um pequeno passeio. Era sempre melhor a essa hora, que durante o dia com o calor intenso e o sol sobre as nossas cabeças,
derretendo-nos os miolos. Estes passeios serviam para descobrir outros pontos, outras ruas menos frequentadas. E descobrimos: Ginásios, bowlings, lojas e restaurantes chineses, outros
hotéis e residenciais. Foi uma caminhada diurética. Era preciso andar.
A noite caiu entretanto apanhando-nos em algumas daquelas ruas pouco iluminadas. Regressamos ao hotel. No salão nobre, estava no auge uma sessão de karaoke. Uma jovem hospede, cantava
uma canção de Dulce Pontes, demasiado bem para ser uma simples amadora. O espetáculo acabou. Dirigimo-nos para o elevador. Contra o que era habitual, pouca gente à espera do mesmo. 9º
Andar. Aí chegados, apartamento 914, o nosso. O dia ia terminar como todos os outros: Na cama a dormir. Acordaríamos no dia seguinte com a sensação de ter passado apenas um pequeníssimo
intervalo entre o fim de um dia e o início de outro.
Manhã cedo, tínhamos direito à sinfonia da gaivota ou gaviota como diziam os espanhóis, e eram muitos os que lá estavam. Gritos estridentes faziam-se ouvir. Os seus filhotes, nascidos e
criados no terraço da nave central daquele hotel, tentavam sem sucesso, os seus primeiros voos. Não sei como, alguns putos conseguiram chegar aquela parte do teto. Talvez através do
elevador, não sei. Com medo que lhe roubassem as crias, a mãe ou pai gaivota, iniciavam voos picados sobre os intrusos, acompanhados de altos gritos. A canalha foi obrigada a fugir
rapidamente por onde tinham saído, antes que a sua integridade física ficasse em perigo. Passados uns dias, uma das crias conseguiu voar e desapareceu daquele lugar. A outra ainda ficou.
Talvez mais temerata, não quis arriscar. Quando partimos ainda lá estava.
As vistas do 9º andar eram muito boas. Avistavam-se as águas espelhadas do Arade ao longe. As pontes sobre a ria. O mar estendia o seu lençol líquido era muito azul.
Avistava-se também o empreendimento vermelho junto à marina (Arade Hotel). Os edifícios e o verde que os rodeava. Viam-se as piscinas do próprio hotel e os pontos à sua volta que eram
as espreguiçadeiras. Os outros pontos em movimento eram as pessoas deslocando-se de um lado para o outro. As cúpulas arredondadas das outras torres. As árvores e a relva na orla da
pequena rua no interior do empreendimento eram bonitas vistas de cima. A estrada que seguia para o Alvor e Lagos e o nosso imaginário do que estaria para lá da linha do horizonte.
Passeata noturna. Aperaltados para sair, ainda deu tempo para tomar um cocktail e assistir a parte de espetáculo musical, que decorria no salão nobre. Já com os miúdos, iniciamos
o passeio. Havia animação de rua: Homens estátua, música, pintores retratistas, caricaturistas e grafiters. Também lojinhas e tendinhas de bugigangas, recuerdos, lembranças. As lojas
de rua e o centro comercial estavam todos abertos. O FM aproveitou para comprar uma t-shirt preta da seleção nacional, no centro comercial, numa loja de artigos de marca, como não podia
deixar de ser. Numa loja de artigos diversos, compramos também algumas prendinhas.
O miradouro estava cheio de gente. Era fresco e as vistas sobre a praia eram magníficas àquela hora da noite. Um arzinho fresco e agradável vindo do mar, fazia-se sentir, acompanhado de
um cheirinho a maresia. Ao fundo da rua, num espaço apropriado, crianças e adultos, rolavam nuns carrinhos de três rodas dando ao pedal.
Exceto alguns minutos de um determinado dia, o céu esteve sempre azul e limpo. O sol esteve sempre intenso de manhã à noite. Os seus raios queimavam e bem.
Nas espreguiçadeiras do solário junto à piscina, na praia ou ainda no caminho, foi um trabalhar constante para o bronze. Por acaso não foi muito conseguido, mas que tentamos, tentamos.
Com o cair da noite, vinha também uma brisa fresca com um certo sabor a sal. Esta brisa refrescava o ar, e era bom para dormir.
A manhã ia a meio. No solário, duas espreguiçadeiras à nossa frente, uma fulana gorda e bem gorda, fazia topless. As mamas enormes pareciam ovos de avestruz estrelados, esborrachados
no peito. Só visto!
Na piscina infantil, muitos miúdos de várias nacionalidades e diversas cores: brancos, pretos e amarelos, brincavam chapinhando na água. Alguns pais ajudavam e amparavam os seus rebentos.
A água escorrendo do cogumelo, formava como que um paraquedas líquido. Mais parecia uma alforreca gigante.
AQUALAND
Panfletos com lindas imagens e tabelas de preços dos vários divertimentos, que o Algarve tinha para oferecer, desde divertimentos aquáticos ou de interior, era o que mais havia na
receção do hote: Parques aquáticos, caça, safaris e outros. Até os bilhetes vendiam para as diversas excursões! As partidas e chegadas eram mesmo à porta do hotel.
Depois de alguma ponderação, relativa ao que era melhor em termos de preços, diversão, espaço, comodidade e condições, a escolha recaiu no Aqualand.
Tomada que foi a decisão, fomos comprar os bilhetes e pedir o respetivo piquenique. Com o regime All inclusive, tínhamos direito a ele. Uns minutos antes da partida, dirigimo-nos ao
minimercado, mesmo em frente num outro hotel pertencente aos mesmos donos. Entregamos a senha que nos tinha sido fornecida para o efeito, e esperamos.
Não queríamos acreditar que aquilo era o piquenique que nos haviam reservado! Dava vontade de rir, para não chorar, claro! Uma maçã, uma garrafinha de água, um pão, um pacotinho de
manteiga e outro de geleia, e um pacote de batata frita. Paciência!
Eram vários os transportes para aquelas diversões. Para cada parque o seu autocarro. À hora marcada partimos. Uma voltinha pela localidade. Duas de treta com o motorista. Passamos
pelas salinas. Atravessamos novamente Portimão. Seguimos para Alcantarilha - Aqualand (Big One).
Introduzidos no interior do parque, procuramos naquele imenso espaço, o melhor sítio para passar o dia. Os miúdos não demoraram a percorrer tudo quanto era diversão.
Depois de ingerir o frugal piquenique, tomamos café no restaurante que havia lá dentro, enquanto os rapazes tinham desaparecido. Tiramos e tiraram-nos fotografias. Compramos suvenirs
na botique: Biquini, toalha de praia, postais e outras merdices.
Às páginas tantas, sem que ninguém esperasse, umas bátegas fortes de chuva caíram impiedosamente sobre toda a gente. À pressa, recolhemos as roupas, que foram postas a salvo debaixo
do para-sol de palha. O tempo manteve-se cinzento durante algum tempo, não muito.
Enquanto numa das piscinas, tentava ensinar a minha mais que tudo a nadar, mas sem sucesso, caiu mais um pouco de chuva. Só se estava bem na água, pois a temperatura fora dela era um
pouco mais baixa. O calor depressa voltou, ajudando a que fosse um dia agradável e bem passado. À hora regressamos.
Fomos informados que o autocarro iria dar uma volta maior para largar passageiros. Sem saber ler nem escrever, íamos ter um passeio extra e conhecer algumas localidades daquela zona.
Que bom!
Primeira paragem em Lagoa - Hotel no centro da cidade. Em Portimão seguimos em frente na direção de Alvor. O autocarro parou e ouviu-se a voz do motorista - Quinta Nova. Saíram dois
jovens. Pela pinta, nórdicos. Era esta a Quinta Nova Sun Club! Estivemos quase, quase para ir para lá. Ainda bem que não fomos. A praia é longe p'ra caramba!
Nova paragem, desta vez no centro de Alvor. Mais perto da praia, mas mesmo assim ainda bastante longe. Continuamos e chegamos ao Vau.
Hotéis e empreendimentos de luxo! Paramos
num deles. Um mundo! Saiu um casal de estranjas. O autocarro quase dava a volta lá dentro!
Novamente em movimento. O autocarro acaba por ser um ponto muito bom para observar a paisagem, visto estar a uma distância razoável acima do solo.
Junto à via, empreendimentos espetaculares. As chamadas villas. Aldeamentos de casinhas individuais, com piscinas e jardins bem cuidados. Lindas! Lindas! O preço devia ser uma nota
preta. Aquilo só para gajos ricos. É lá que Mário Soares passa as suas férias. Quando for grande, quero passar férias num sítio assim.
Estava a observar, quando à distância, mas perfeitamente ao alcance da vista, vejo o hotel em forma de cunha. Estávamos a chegar à Praia da Rocha. Descemos a avenida das palmeiras e
paramos no ponto de chegada. Saímos.
A excursão acabou onde tinha começado. Ali mesmo.
Antecipamos para a véspera o nosso regresso. Estávamos a ficar pretos de corpo e alma com aquilo tudo. Ligamos à Renex, fizemos as malas e despedimo-nos do apartamento.
Foi bom enquanto foi.
Malinhas a rolar para o elevador e dali para o exterior. Algo lindo, belo e repousante, tinha acabado. Para o ano, num outro local qualquer, haverá mais. Até lá.
As situações relatadas, não tiveram nada de especial. Foram iguais a muitas outras. A maneira como foram vistas e vividas, é que foi diferente. Vistas com outros olhos e vividas
com outro espírito. O espírito de férias. Mais calmo e relaxante, mais positivo e menos crítico.
A forma stressante como vivemos o dia-a-dia, não nos deixa ver a beleza das coisas.
REGRESSO
Bilhetes validados pelo telefone. Uns minutos antes, já estávamos no ponto de encontro com respetivas valises, bags, malas. À hora marcada, o autopullman lá estava para nos transportar
de regresso.
Várias paragens para recolher mais pessoal. Lagoa (Slids and Spalsh), Porches, Armação de Pera, ficaram definitivamente para trás.
Finalmente chegamos a Vale de Paraíso - Albufeira, terminal de autocarros. A tarde caminhava para o seu fim, mas ainda havia sol. Este aproximava-se lentamente da linha do horizonte,
para se esconder, dando lugar à noite. Alguma espera até que o autocarro comesse toda a carga: passageiros e bagagem.
Deu-se a partida. Depois de algumas voltas, demos por nós na autoestrada. Algum tempo para a ambientação. De repente fomos engolidos pela noite. Os contornos das elevações do terreno
pareciam fantasmas a deslizar na escuridão.
Uma amálgama de vozes fazia-se ouvir. Todo o mundo conversava. Nada se percebia em particular. Aos poucos foi diminuindo de intensidade. As vozes deram lugar a um murmúrio e este ao
silêncio. O cansaço tomou conta daquela gente. A maioria dormia.
Uma placa dizendo, área de serviço de Almodôvar, veio ao nosso encontro e rapidamente ficou para trás.
Não havia um lugar vago. Todo o mundo teria de se acomodar no seu para passar pelas brasas.
Uma música suave brotava das colunas e espalhava-se naquele ambiente. O ram-ram do motor também se fazia ouvir. Mais intenso a subir. Dava para perceber o sofrimento daquele motor
arrastando todo aquele peso. A agonia da camioneta carregada na subida.
Paragem por alguns minutos na área de serviço de Aljustrel. O mesmo de sempre. Bar, casa de banho, mas sobretudo fumar o seu cigarrinho. De muitas bocas, espirais de fumo iam para o ar.
Notava-se um ar de satisfação nas pessoas.
Novamente a caminho a comer mais uns quilómetros de asfalto. Depois de comidos uns largos deles, eis uma grande cobra luminosa: A ponte Vasco da Gama com toda a sua plenitude. Dezasseis
quilómetros para chegar ao outro lado. Doze em cima de água.
Arredores de Lisboa a nossos pés. Paragem na Gare do Oriente para mudar de transporte e distender os músculos das pernas. É madrugada. Uma etapa estava vencida.
Iniciou-se o regresso definitivo ao norte. O Minho verde Minho espera-nos. Depois de uma ou outra paragem, a cidade do Porto e os jardins da Cordoaria. Ia alta a madrugada.
A torre dos Clérigos não deixou de se evidenciar. Ali ao lado, já fervilhavam os preparativos para a feira de Vandoma (feira franca de usados e antiguidades), embora ainda estivesse a
algumas horas de acontecer.
Central de Famalicão para vomitar alguma da carga que tinha comido - passageiros e malas.
Ao amanhecer, chegamos a Braga - Central. O Rover levado pela Maria lá estava. O sol rompia e uma claridade cor de fogo, surgia nos limites do nosso alcance, quando chegamos a Guimarães.
Lar doce lar. Tiramos o dia para dormir. Recuperar da viagem era preciso. Ao acordar, uma sensação estranha de não se saber onde se está. No Algarve ou já em nossa casa? Os números
luminosos do relógio na mesinha de cabeceira, diziam que eram nove horas.
Da manhã ou da noite? Da forma como o sol entrava pela janela, não eram da noite. A ilusão que tinha dormido uma eternidade era evidente, tal era o cansaço. Enfim, era o despertar
para a realidade. As férias tinham acabado! A seguir? A seguir nada. Rotinas habituais.
QUINTA DO PIROLEIRO
Como fomos parar a Afife e à Quinta do Piruleiro em 2008?
Por motivos vários, decidimos ficar por cá a "pastar".
Um dia:
- Vamos dar um pequeno passeio. - Aonde? - Não te interessa, entra no carro. Carro apontado à estrada, entrei na portagem da A11, desta à A3 e depois à A24 em direção a Viana do Castelo.
Aqui chegado, apontei à estrada nacional e só parei em Afife, e mais propriamente na Quinta do Piruleiro. Uma amiga falou-nos desta Quinta, que para descansar não havia melhor nestas
redondezas.
Gostamos mesmo daquele espaço! Tanto que demos logo um sinal e ficamos presos a um compromisso de uns dias depois passar umas pequenas férias para descansar.
Como a querida, minha mulher, estava à beira dum esgotamento, aquilo era mesmo o ideal para ela naquela altura. Duplicou a dose dos medicamentos para arrebitar e aterrou. Anda sempre
ao contrário!
Demos uns passeios nos arredores, mas a maior parte do tempo passou-o a dormir. Dormia bem de noite, dormia bem de manhã e à tarde não tinha insónias!
2008 Agosto, Quarta dia 6.
Não planeamos férias. O nosso filhote vai quinze dias para qualquer lado com namorada e amigos. E nós? A dita amiga falou-nos numa quintinha para lá de Viana, Quinta do Piruleiro -
Afife. Até o nome é engraçado!
Vamos tentar.
Apetrechos e mudas necessárias para uma semana não mais. Rodinhas na estrada e lá vamos nós. Três quartos de hora andando nas calmas e Afife a nossos pés. Para encontrar a dita cuja,
é preciso penetrar no interior da povoação. Aí é que são elas! Quintinhas e residências antigas, mas recuperadas, bem bonitas, com muros altos, mas os caminhos estreitos que só cabe um
carro de cada vez. Caso se encontrem, o que tiver mais condições tem de recuar, o que não é nada agradável. Tirando estes inconvenientes, aquilo até é giro. Não me importava nada de ter
lá uma quintinha de férias.
A serpentear naquelas vias apertadas seguindo sempre as indicações, que, diga-se a verdade, não faltavam, lá chegamos.
Primeira impressão foi de agradável surpresa. O espaço não era grande, mas todo relvado, e tinha várias árvores de sombra. Logo na entrada à direita estava a receção e um grupo de
casinhas geminadas (apartamentos T1 e T2). Logo a seguir num plano ligeiramente superior, um grupo de apartamentos, T1s em cima e T2s em baixo. Como só precisávamos de 1 T1, ficamos
em cima. Simpático e apetrechado com tudo que era preciso. A piscina e o bar estavam ali à mão de semear.
Acomodamos tudo e fomos à praia. Bem boa, vigiada e com um grande restaurante de apoio. Não dava para ir a pé, porque a distância ainda era razoável.
Novamente a rolar naqueles caminhos estreitos e apertados. Mas but.
Intercalamos praia com piscina, demos alguns passeios e fomos ao Continente de Viana fazer as compras para a semana. A minha metade da laranja, aproveitou para dormir bastante, visto
que estava à beira de um esgotamento.
Como em grande parte dos dias ela estava a dormir, eu aproveitava para andar a pé pela localidade, conhecer os pontos mais interessantes e tirei fotografias a tudo quanto me agradava
do ponto de vista fotográfico: Casas antigas, quintas, arbustos e flores, plantas autóctones, animais, etc.
O espaço era mesmo acolhedor e simpático. De quando-em-vez, passávamos um tempinho no bar a conversar com a dona daquilo, enquanto tomávamos o cafezinho da ordem.
Um dos passeios foi a Vigo. Fomos dar uma vista de olhos àquela cidade galega. Tem alguns pontos de interesse. De resto é uma cidade como todas as cidades: Prédios e mais prédios com
ruas a passar no meio, mais nada!
Doía-me o joelho. Amanhã vai chover, comentei com a minha companheira durante a viagem de regresso de Vigo. Mas não, não choveu. O sol também não apareceu. Está um dia muito nublado e
a fugir para o cinzento! Peguei no livro que fala de África e sentei-me na esplanada improvisada na pequena varanda do apartamento. A garrafinha do panaché e o pires com tremoços também
marcaram presença.
Fiz uma pousa na leitura e pus-me a contemplar o nada, absorto em pensamentos e ao mesmo tempo, observando tudo há minha frente. As três casas modernas com grandes portas de vidro e
espaços relvados, do lado de lá do estreito caminho que nos divide, lá estavam a provocar-me alguns pensamentos: Quem me dera assim uma casa de férias!
A maré está a montante. O barulho intenso das ondas a rebentar na areia, faz-se ouvir, apesar da distância, cerca de um quilómetro. Algumas rolas e gaivotas cruzam o céu a pouca altura.
No relvado da casa em frente, a mais à esquerda, três gatinhos jovens brincam. Dois deles amarelos e pretos e o outro branco e preto. Às tantas, tentam passar uma grade para uma
propriedade das traseiras. Um deles consegue passar, mas os outros não. Tentaram contornar o muro com cerca de três metros de altura. O perigo era eminente. Caindo não tinha hipóteses
de regressar. Desistiram. Entretanto o outro regressou e juntou-se aos companheiros. Correram a brincar para trás da casa. Perdi-os de vista.
Por breves instantes perdi o olhar na distância observando a linha do horizonte. As copas dos pinheiros inertes roçavam o céu. O vento suave nem bulia com a sua ramagem.
Quando direcionei novamente o olhar para as casas à minha frente, acabava de aparecer um gato adulto no palco da minha observação. Pai ou mãe dos infantes. Atravessa uma grade e salta
para um muro um metro e meio mais abaixo, e daí para um terreno ao lado que parece abandonado, à espera que alguém o compre. O terreno está pejado de capim seco, árvores gigantescas e
arbustos em estado selvagem. O gato caminhava devagarinho por entre os arbustos como quem procura algo. De repente pôs-se em posição felina para o salto de ataque a alguma presa.
Esteve assim durante alguns segundos. Não aconteceu nada e voltou à sua posição descontraída. A vítima que não foi deve ter fugido e gorou-se a possibilidade de caça. O gato desapareceu
naquela densa vegetação e virei a minha atenção para outros pontos.
Regressei ao meu livro e conforme lia imaginava aqueles locais que conhecia minimamente. Muitos daqueles nomes eram-me familiares.
A minha companheira dormia. Gostava de dormir de manhã.
O tempo continuava triste do género: “Não chove nem sai de cima”. Soprava uma brisa marinha, trazendo consigo o barulho do mar que continuava com os seus rugidos.
Planeamos ir à praia. Se o tempo continuar assim, o mais certo é não haver praia para ninguém.
De vez em quando este tempo cor de chumbo, nem sol nem chuva, marcava a sua presença. Tempo estúpido que tinha influência na nossa disposição. Nem chove nem deixa chover, nem sol
nem “guardanhol”, que provocava o vamos à praia ou ficamos na piscina?
A semana acabou e regressamos ao ram-ram das rotinas. Mas valeu, pois, o médico disse à dona do meu coração que os sonos que ela aproveitou salvaram-na do esgotamento!
Disse tudo? Talvez não. Não me ocorre mais nada que mereça realce.
ALDEAMENTO DO CAMARIDO
Em 2009 o cansaço na minha companheira aproximou-se perigosamente da linha vermelha. É preciso mudar urgentemente de ares, para fugir ao cansaço e às rotinas do dia-a-dia.
Na costa norte de Portugal, há zonas bonitas, verdejantes e repousantes. Ouvimos falar no Aldeamento Turístico do Camarido, em Moledo do Minho. Estamos determinados a passar lá uns
dias para descansar e aliviar a cabeça do dito cujo stress.
As responsabilidades letivas em acumulação com funções de coordenação e gestão escolar, contribuem para que no final do ano, princípio das férias, atinja um cansaço extremo.
Julho 18 de 2013. Esta data é o fim do período escolar e início das férias deste ano. Escolhemos o dia seguinte 19, para partir rumo ao norte, distrito de Viana do Castelo. Neste dia e
depois de munidos das toalhas de praia, respetivos cremes, mudas de roupa e outras tretas que achamos necessárias, metemos tudo no carro, incluindo o Zullu, o nosso cãozinho Shar Pei,
iniciamos a marcha, para percorrer mais ou menos setenta quilómetros, até ao destino, Camarido.
Decidimos seguir pelas estradas nacionais, não só para não pagar portagens, mas também por causa do Zullu. Este após os primeiros quilómetros mostrou-se um pouco receoso. Andar de carro,
não eram propriamente os seus hábitos. Daí… era preciso andar devagar até se ambientar. Para rolar a baixa velocidade, não justifica utilizar as autoestradas!
Depois de passar Braga, notou-se que o cãozinho estava um pouco stressado. Aproveitamos um pequeno parque na estrada Braga-Barcelos e fizemos uma pequena paragem para o deixar dar uma
voltinha fora do carro, beber e fazer algumas das suas necessidades fisiológicas básicas.
Resolvidos estes breves contratempos, lá fomos e não voltamos a parar, até chegar ao local
onde fomos passar uns dias para desopilar.
A viagem foi decorrendo sem acidentes nem incidentes. No desvio para a Amorosa, poucos quilómetros antes de Viana, os semáforos ficaram de repente vermelhos. Paragem repentina para não
transgredir, e o Zullu é projetado do banco de traz revestido com uma manta para não sujar os estofos, contra as traseiras dos bancos da frente com certo estrondo. Ficou ainda mais
stressado. Tivemos de o acalmar.
Enquanto esperava o verde para iniciar o andamento, acenderam-se na minha mente, algumas lembranças e recordações antigas: Do lado direito estava o restaurante “Caracol”, do esquerdo
o desvio que seguia até à Amorosa. Era o FM muito pequenino. Nessa altura, íamos a caminho de um pequeno período de férias na Amorosa. Antes de embicarmos nesse desvio, estacionamos o
carro no parque daquele restaurante e entramos. O relógio no pulso mostrou-nos a hora. Eram duas e vinte e cinco da tarde. A especialidade era marisco. Não era suposto pedir outra coisa!
Um arroz de marisco veio a calhar. Talvez porque o tivessem poupado com os outros clientes, a nossa travessa o que mais tinha eram aqueles bichinhos que chamam camarão, lagostins e
outros que tais! Era preciso procurar o arroz no meio de tanto marisco. Foi uma sorte. A outra recordação foram uns dias felizes que passamos os três na Amorosa e dos passeios
maravilhosos que fizemos nesses tempos.
- O sinal já está verde, não andas?
Fui acordado para a realidade e para o presente pela minha companheira.
Ao passar na ponte velha sobre o Lima, que liga Darque a Viana, reparei na marina no rio mesmo por baixo da ponte, com lindos barcos aí ancorados. Todos sabem, pelo menos os que me
conhecem melhor, que gosto de barcos, aliás, tudo que diz respeito ao mar. Mais peixe que carne na alimentação. Gosto de praia, barcos, pesca, etc. etc. Gostava de fazer cruzeiros
em cidades flutuantes. Tenho estes pensamentos, enquanto converso de coisas totalmente diferentes com a cara-metade a meu lado!
Ao passar em Afife, reparamos que o Zullu estava mais calmo, e já se deitava no banco de traz para dormir. Por falar em Afife, afloraram outras recordações mais recentes da Quinta do
Piruleiro. Quinta pequena, mas muito acolhedora e simpática.
Conforme avançamos, revemos locais que há muito não víamos. Passamos no Parque de Campismo de Gelfa e atravessamos Vila Praia de Âncora. Avivar de mais lembranças antigas desta
simpática cidade. Mais dois quilómetros e Moledo a nossos pés. Como não vimos nada que indicasse o aldeamento, fomos andando. Apontamos para a foz do rio Minho, pois aquela pequena
floresta, é conhecida pela mata do Camarido! Fomos dar ao Parque de Campismo. Aí informaram-nos que ficava do outro lado da linha férrea. Voltamos para traz, que remédio! No sentido
norte/sul, chegamos à rotunda de Moledo, e aí apontamos agulhas para Cristelo. Andamos cerca de mil e quinhentos metros e finalmente o aldeamento. Entramos, estacionamos o carro e fomos
fazer o check-in. Rececionista simpática e sorridente recebeu-nos. Deu-me a chave com o número 10 e indicou-nos a situação do apartamento. Estacionamos o carro à porta e entramos nos
nossos temporariamente aposentos. O Zullu ambientou-se rapidamente ao seu novo espaço.
O Aldeamento
Simpático e bastante maior que a Quinta do Piruleiro. Situado a meio caminho entre Moledo e Caminha, cerca de um quilómetro e meio para cada lado e servido por uma estrada secundária
que liga estas duas localidades no sentido de Cristelo. Podemos chamar-lhe aldeia, bairro ou simplesmente aglomerado de casinhas geminadas rés-do-chão e primeiro andar. Entre cada
corrente de casinhas, existem passeios de e para a piscina, de e para o bar e de e para diversos pontos do aldeamento.
O edifício principal onde estão a receção, as salas de jantar e de estar, o bar e os serviços administrativos, parte o aldeamento a meio. O acesso a qualquer dos lados é feito através
de um túnel nesse edifício. Para os carros, há duas entradas a partir do exterior norte e sul.
Foi-nos destinado o número 10, t1 rés-do-chão, bem situado, pertinho da piscina. No exterior contiguo à porta da sala, há relva com cadeiras e pufes em plástico, onde se pode apanhar
sol, ler e descansar.
O empreendimento está num sítio aprazível inserido na mata do Camarido. Mesmo em frente à receção, uma garagem e pequeno estacionamento.
Nessa garagem estão dois carros clássicos,
lindos!
Era nas cadeiras de plástico na relva junto à sala que era feita a leitura dos livros que levamos.
Os estrangeiros lá hospedados eram muito simpáticos, a maioria alemães. Quando não queriam arriscar um goodmorning ou um gootmoken, presenteavam-nos com um sorriso.
Em alguns daqueles dias, esperamos pelo final da tardinha, quando as praias já estão quase desertas, levamos o Zullu para o areal de Moledo. Correu como um tolinho numa alegria louca
aos saltinhos naquela areia. Ficou com tanta areia no focinho, que mais parecia um panado. Valeu a pena pela contagiante alegria que demonstrou. No regresso tomamos café numa das
esplanadas de Âncora Praia para matar saudades.
Nesse período, decorreu a feira medieval em Caminha. Uma manhã fomos até lá. Nas tasquinhas assavam porcos no espeto. Havia muitos cheiros no ar, e o Zullu estava inconstante no
comportamento.
Numa daquelas tardes em que paramos numa das agradáveis esplanadas, metemos conversa com um casal simpático a propósito do Zullu e falamos sobra a vila.
Caminha é muito bonita e tem muitos indícios históricos. Em frente do outro lado do rio, é o Monte de Santa Tecla em terras espanholas.
Mas voltando ao local do crime, quer dizer das férias, a estrada divide o empreendimento da linha do comboio. Este passa duas ou três vezes por dia, talvez quatro. Ao passar deixa um
barulho ferrugento e arrastado no ar, da luta constante de ferros com ferros, as rodas contra os trilhos.
Os funcionários são uma espécie de veículos todo-o-terreno, explicando-me melhor, polivalentes. Tanto estão no bar ou na esplanada a servir cafés ou outra coisa qualquer, como conduzindo
os hóspedes aos seus apartamentos servindo de cicerones, mudar as roupas das camas ou as toalhas das casas de banho, como limpar os apartamentos nos dias a isso destinados. Também
trabalhar na receção, e sempre com um sorriso nos lábios.
Na estrada junto ao aldeamento, há do lado esquerdo no sentido Moledo-Caminha, um passeio de cimento pintado de amarelo. É simultaneamente ciclovia e passeio pedonal. Muitas pessoas,
fazem todos os dias jogging e rolam nas bicicletas. Há um senhor de cabelos brancos, que pelo menos duas vezes por dia, andou lá para cima e para baixo com o seu cão Shar Pei pela trela.
Esse senhor sou eu, me, e o seu cão é o Zullu.
Apesar de estar de férias continuava a acordar cedo todos os dias. O cão depressa me rondava para o levar a passear e também para fazer qualquer coisa. Numa destas saídas matinais com o
Zullu, ia eu caminhando em passo curto e lento no dito passeio, e o meu companheiro, o cão, cheirava tudo por onde passava, quando oiço latidos, que pelo som, eram de cão pequeno. Olho
para todo o lado e não vejo nada. Dois ciclistas aproximavam-se. Rapidamente chegaram a onde estávamos, e os latidos aumentaram de volume, mas continuava a não ver. Só quando passaram,
é que reparei: O homem levava na bicicleta, uma cestinha com compras. A mulher transportava um Buldogue Francês numa gaiola moldada ao seu corpo. Achei aquilo engraçado. O som dos
latidos foi-se perdendo na distância, e a visão dos ciclistas também.
O Zullu continuava a cheirar tudo. Já estávamos bastante afastados do aldeamento. Eu continuava à espera que ele fizesse com força e doçura por seu bem qualquer “cousa” mas nada. Muito
devagar, andamos mais de um quilómetro e chegamos à passagem de nível na periferia sul de Caminha! Passei para o outro lado da estrada, e regressei junto às moradias de férias. No meio
destas, há um terreno vago, espaçoso e limpo de vegetação, à espera que alguém construa lá mais uma. O bichinho puxou-me para lá. Pensei que ia resolver-se. Já era sem tempo! Parou e
demorou um pouco mais que o habitual a cheirar um pequeno arbusto. Talvez sentisse o cheiro de outro animal que lá deixou a sua marca. Enquanto esperava, a minha imaginação começou a
funcionar aceleradamente. Aquele terreno já era meu. Pensar não custa dinheiro. Por isso, deixem-me imaginar em grande. A casa era muito espaçosa. Entrava-se através de um portão em
madeira. Desembocávamos num grande jardim e daí a uma ampla varanda. Quartos e escritório da parte da frente. Sala e cozinha para traz. Em frente à sala, uma brutal piscina cheiinha
de água límpida e transparente. Em frente a esta, uma pequena inclinação do terreno, com as espreguiçadeiras bem alinhadas. No primeiro andar, dois quartos numa espécie de águas-furtadas,
completadas com varandas. No outro lado do terreno, árvores de fruto e produtos hortícolas. Estava deliciado com estes pensamentos, quando sou terrivelmente acordado para a realidade
pelo Zullu, que deu um forte esticão na trela, por causa dum bando de pombas que pousou a pouca distância de nós. É sabido que ele adora pombas. Só não as apanha se não puder! Nesse
instante disse de mim para mim: Daa, cai na real! Acorda! E acordei. Decidi-me a voltar ao aldeamento. Antes de chegar, atravessei novamente a estrada e num pequeno canavial junto à
linha férrea, o Zullu decidiu-se cumprir a sua obrigação. De uma vez por todas, voltei ao meu T1 no empreendimento!
O dia começa a raiar por volta das seis da manhã, e entra no quarto sem pedir licença através dos furos nas persianas. A essa hora, o galo inicia a sua sinfonia de cânticos com pequenos
intervalos entre si. Seguem-se as rolas com o seu rolhar caraterístico. De vez em quando as araras também dão um ar da sua graça. Encostados a um dos muros do aldeamento, há algumas
casinhas com portas em rede contendo diversas aves. Uma cheia de rolas. A seguir outra com uma galinha normal, uma garnisé e um periquito convivendo no mesmo espaço. Logo a seguir, um
galo sozinho, coitado! Por fim um compartimento com duas ou três araras. Tudo isto muito perto do nosso apartamento.
Num outro dia, mas desta vez bem ciente da realidade, regressei ao terreno para melhor o inspecionar e poder depois contar como foi. Atravessei-o até ao fundo através do capim cortado
de fresco, pisando aqui e acolá alguma hortelã que vai renascendo verde e viçosa. No fundo deste espaço, há uma vala que se estende por muitos metros nos limites daquelas vivendas e
terrenos. Esta está seca, mas penso que vai dar muito jeito no inverno, quando o período pluvial for mais forte, para escoamento das águas. Para lá desta vala, uma floresta densa de
austrálias, quase impenetrável, a precisar de limpeza. Quando tudo observava, reparei numas flores silvestres que me chamaram à atenção. Colhi algumas para colocar na mesinha de
cabeceira da minha companheira enquanto dormia. Assim, ao acordar, iria sentir que alguém a ama muito. Digam lá se não é um gesto bonito e romântico!
No segundo dia acordei cedo. Enquanto a minha parceira dormia, pois não tem culpa que eu não tenha palha no ninho, tomei o pequeno-almoço e fui inspecionar o aldeamento, e tirar
algumas fotografias, enquanto havia sossego. De máquina em punho, percorri o espaço todo. Uma foto aqui, outra foto acolá. Neste percurso arranjei um amigo improvável, um gato. Preto,
matizado de amarelo, chegou-se a mim a miar de uma forma lânguida, miau. Simpatizou comigo e não pude ficar indiferente. Chamei-lhe tareco, fiz-lhe umas festinhas e deu a volta
toda a traz de mim. Entrei no apartamento e ele ficou à porta. Não o deixei entrar, porque temi a reação do Zullu. Passados uns minutos voltei. Ele tinha desaparecido dali. Um dia
depois vi-o na esplanada do bar, entregue aos mimos de um turista alemão ali hospedado.
No dia marcado regressamos. Foi muito agradável, mas tinha chegado ao fim. Metemos todos os pertences nas malas e fizemos o mesmo percurso, só que agora no sentido contrário.
Notou-se um certo alívio no Zullu ao chegar a casa, a sua casa!
Valeu a pena, pois tivemos momentos de descontração num ambiente diferente e longe das rotinas habituais
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ECOS DA COELIMA
Por: Mattusstyle em 12.12.2021 às 18:35
CONTORNOS DA GRAVE CRISE
AVIVAR MEMÓRIAS
A grave doença está aqui e bem visível. Dói, sente-se e respira-se. Os responsáveis pelo vírus desta doença, que todos os dias se inala o seu cheiro, se ouvem os seus sorrisos e se sente
a sua arrogância.
Não se poderá desculpar, tolerar ou perdoar a quem promete e até obriga a acreditar numa equipe de “iluminados” todos “superquadras” oriundos das melhores castas da gestão empresarial,
dotando a Coelima de uma gestão inteligente, honesta e de sucesso.
Pois então é o que se vê!
Em primeiro lugar, ordenados saco azul, automóvel e despesas pagas para os diretores de competência duvidosa.
Em segundo lugar por aí em diante… O rei Simões de formação militar/GNR inibido e complexado, fez-se ouvir. “Temos que disciplinar esta cambada que só entra tarde, vai para os bares e
não trabalha”. Mandou afixar cartazes com a mensagem: “Trabalho, confiança no futuro e honestidade”:
O senhor absoluto na gestão financeira há vários anos começa a ensaiar o seu plano maquiavélico para dominar em absoluto o princípio do fim. Enganou a família Coelima e que o quis ouvir
pronunciando-se sobre dados viciados de gestão, ao ponto de mencionar falsos resultados e hipotéticos lucros. Afastou os seus frágeis opositores, criando um clima de quero, posso e mando.
Envolveu-se a si e à Coelima no estranho negócio das ações da Bordalima.
Em resumo, a sua mensagem traduziu-se em disciplinar tudo e todos para dominar sem contestação. Aqui está o resultado…
Olhamos à nossa volta e vemos:
- Diretor financeiro: Funciona como pau mandado do grande chefe, perito na arte de enganar os fornecedores, passar cheques sem cobertura e preencher letras de crédito.
- Diretor dos recursos humanos: Tem por missão a arte hipócrita de abanar-se todo por que passa e massificar os despedimentos que segundo diz por excesso de mão-de-obra, e admitir
quadros técnicos, e que técnicos! Pagando a cada um deles o valor salarial de três despedidos. Sem dúvida uma boa técnica de gestão de recursos humanos.
- Diretor do GPAC: Com grande folclore, anuncia através da técnica da envolvência positiva das massas, a solução do sempre problema adiado das entregas. Constitui uma equipe de luxo
treinada em França, investe dezenas de milhares de contos em equipamento, e é o que se vê.
- Diretor industrial: Diz-se boa pessoa o que não chega, constando-se nada entender mesmo ele próprio o papel que desempenha.
- Diretor do mercado português: Admitido sem qualquer experiência no ramo têxtil. Entra na Coelima e desde logo se torna conhecido como “hábil” e estratega comercial. Vender muito e a
qualquer preço e de proporcionar a entrada de sua esposa na Coelima que como se sabe com dotes de ballet mas sem experiência, e passados alguns meses sair para gestora de uma associada
sob a responsabilidade de seu marido.
- Diretor de marketing: Já o era sem o ser e a sua cisma de ter muitos doutores, mais conhecido pelo puto com “bocas do palácio”, precisando de crescer mais para aparecer.
- Diretor do mercado externo: Outra admissão sem experiência no ramo têxtil, pelo que consta, é portador de toda a sabedoria nesta área, mesmo sem conhecer, mas o que parece ou notar-se,
é saber digerir outras coisas melhor que propriamente a sua responsabilidade.
- Diretor sem pasta: A sua conflitualidade metafórica dos números e da sua poesia, entrega a atmosfera pesada da direção um ar metafisico e estranho.
- Diretor da confeção: De tão pouco a que se poder dedicar, tenta distribuir por todos os engenheiros ao seu dispor, várias tarefas, entre elas ver quem entra e sai da toilet.
- Diretor dos acabamentos: Diariamente se nota o esforço que faz talvez para compensar o muito que ganha. Não se poderá excluir as muitas responsabilidades da família Coelima nesta
matéria, enquanto responsáveis pela admissão de todos os exemplares dinamizadores de uma complexa crise que já se adivinhava mas que se faziam de ouvidos moucos. Para os referidos
“iluminados” a sua passagem deixa referências indicadoras de se governarem com o desgoverno, e ingenuidade dos Coelimas, a quem por inteiro cabe toda a responsabilidade da grava crise
que se instalou. O drama está na rua. SINCERAMENTE!...
DO ANTES PARA O DEPOIS
Já se desenhava o descalabro da grande empresa têxtil e de referência no norte e em todo o país, que foi a Coelima.
Naquele tempo, quando a crise se instalou definitivamente na empresa e foram nomeados diretores por parte do Estado para evitar a falência, e por força das normas impostas, todos os
diretores atrás citados, deram em debandada, exceto o dos Recursos Humanos. Ficou para gerir as rescisões que tiveram de ser feitas para emagrecer os quadros do pessoal, sem as quais
não haveria recuperação possível.
Foram então nomeados à pressa diretores escolhidos no quadro do pessoal existente. Começaram aí os abusos de poder perpetrados pelos novos chefes. Não todos mas muitos não tinham
formação técnica, académica, psicológica e muito menos moral para desempenharem um cargo daqueles. Alguns, muitos, de simples colegas passaram a chefes. Por encosto, oportunismo ou
executores do trabalho sujo dos antigos chefes, ficaram com os vícios destes e os podres continuaram. Enquanto colegas, houve pequenas discussões, quase sempre sem importância, em que
se concordava ou se discordava. Estes novos chefes aproveitaram o poder para executarem as suas mesquinhas vinganças, em nome da razão que não lhes foi dada tempos antes. É ridículo mas
foi verdade.
Assim como o estado em que se encontram as finanças de Portugal, é fruto de governantes sem escrúpulos que passaram pelo poleiro, a Coelima também foi vítima de diretores e chefes sem
escrúpulos que por lá passaram. Alguns ainda lá estão!
Há histórias incríveis, bem visíveis que aconteceram e que eram anúncio do descalabro final. A Coelima já estava a saque. Já havia histórias invisíveis que aconteciam subterraneamente,
cujos contornos maquiavélicos são difíceis de contar.
Constou naquele tempo que um funcionário das cargas dos rolos de tela para o exterior, detetou por acaso, que estavam a ser carregados mais rolos que aqueles que constavam das guias.
Alertou o chefe para o que estava a acontecer. No dia seguinte foi despedido! Chegou-se à conclusão que o chefe era o maior do gang.
Outra: Trabalhadores de um determinado setor, detetaram que o valor de um frete aéreo, era duas vezes mais o valor das empresas concorrentes. Avisaram o chefe. Este mandou-os calar
ameaçando-os. Estava a governar-se à custa do afundanço da Coelima.
A secção de caixa da empresa mais parecia uma instituição de crédito. Todos os dias eram emprestados ou emprestadados dezenas, centenas ou milhares de contos a funcionários. A garantia
eram vales em papel de um simples bloco de apontamentos com a respetiva assinatura.
Os esquemas eram constantes a todos os níveis e em todos os setores da empresa. Os mais visíveis e escandalosos aconteceram a nível financeiro.
Nasceram muitas empresas na região à custa da Coelima, fruto de engenharias financeiras dos seus chefões. Pessoas que direta ou indiretamente estavam dentro do esquema começaram a ser
perigosas para outros tantos. Os subornos dos chefões para os chefes passaram a ser frequentes. Com dinheiros de quem? Da empresa, claro! O perigo continuava. Era preciso afastá-los
definitivamente. Aqui começa outra história.
Alguém naquela empresa precisou construir uma casa. Serviu-se da instituição de crédito caixa Coelima, e pediu emprestado um valor entre os oito e os doze mil contos. Única garantia
que deixou, um vale assinado por si. Foi usado por um chefão para tramar um chefe que sabia de mais. Por aquela quantia vendeu a alma ao diabo. Era seu amigo! Unha com carne como
costuma dizer-se. Quem tem amigos assim, não precisa ter inimigos! Como ia dizendo, o chefão acenou-lhe com o vale: Ou fazes este serviço ou executo esta dívida imediatamente. Traiu
o amigo. Ganhou-lhe o gosto. A partir daí, as traições e ameaças para com tudo e todos que lhe fizessem sombra, foi uma constante. Mais uma vez, um episódio de lesa pátria, quer dizer
lesa Coelima aconteceu. Ah!.. O vale foi rasgado e a dívida ficou paga. Quer dizer… A promiscuidade atingiu níveis descontrolados. Enfim...
Muitas histórias e episódios escabrosos como estes aconteceram. A Coelima foi vítima de muitas aves de rapina. O estado em que está hoje é fruto mais que evidente do que se passou
naqueles tempos. Algumas destas aves de rapina ainda por lá andam. A velha carcaça ainda deve ter alguma carne para comer. No vai e vem destas agitadas marés, quem paga sempre é o
mexilhão. Os trabalhadores inocentes foram as maiores vítimas.
A gestão das empresas é espelho da gestão do Estado. Uns arrastaram os outros para o fundo. Tanto uns como outos andaram a gastar acima das suas possibilidades. O resultado está aí,
uma profunda crise financeira, de valores, falta de responsabilidade, mas sobretudo crise de moral. O oportunismo é assustador. Uns vão para as empresas com a intenção de se orientaram
a si e aos seus, lavando em muitos casos famílias inteiras à miséria e ao desespero.
Isto sem o mínimo escrúpulo ou pudor. Acontece o mesmo com a maioria dos governantes. Querem o poder para terem acesso aos tachos. A legislatura é curta. Precisam governar-se enquanto
é tempo.
A carapuça será enfiada na cabecinha certa. Só a quem servir.
Desculpem lá, mas não resisti a publicar o que também se escreveu naqueles tempos a propósito da Coelima.
OS CUCOS
VOO RASANTE SOBRE UM NINHO DE CUCOS
A crise mora aqui e ao que parece está para durar. Os cucos ainda voam rasante, ainda cantam e até ainda têm garras para debilitarem ainda mais o apetecido ninho.
Salários, matéria-prima e trabalho, é coisa que não há, mesmo com o valor da faturação de Janeiro oscilando aproximadamente os 800 mil contos. Onde para o dinheiro?
Vamos apanhar um dos cucos, obriga-lo a cantar sinfonicamente bem, dizendo se já receberam ou não a sua mesada de Janeiro.
Mas levantemos um pouco o pó do passado recente para entendermos o triste presente. No presente, a cassete já exaustivamente gasta, ainda vai dizendo para (in) justificar o passado.
“A Coelima foi barbaramente fustigada por uma abrupta subida da taxa do juro inerente ao desenvolvimento e modernização do equipamento industrial. Este patético argumento de mercearia,
mais parece um perigoso discurso de adolescentes que a triste e lamentável realidade que estamos vivendo.
Continuando, não se entende nestes pressupostos, os contornos da verdade desta patranha, porque a ser verdade, não se digere sem um inexorável esforço, os desenvolvimentos por conta e
risco da Coelima, a que se assistiu nas empresas satélites. Ora vejamos:
- BORDALIMA:
Depois de colocados os homens de mão por serem só de insuspeitável confiança, assistiu-se a um sem fim de facilidades, isto ainda dentro da empresa, o que se veio a verificar
esta continuidade mesmo depois da sua instalação noutra localidade. O fornecimento das matérias-primas sem controlo e a pagar só no papel, não eram exceção, pois as mesmas tínhamos direito
a devolução para a Coelima quando não vendidas. Os negócios paralelos com ou sem permissão quer no mercado nacional e externo, eram uma constante etc.
Resultado: Os então gestores da Bordalima agora, é só vê-los!...
Era hilariante divulgar-se os valores sujeitos à Bordalima e Coelima implícitos das suas saídas. Se o primeiro mal não saiu, o segundo nem se fala. Mas aqui atendendo-se à grande pressão
exercida pelo famoso malabarista/GNR, para tomar de assalto as suas ações e o seu lugar, o que veio na verificar-se com uma diferença. Um sai e locupletou-se com as ações em seu nome mas
da Borbalima. O outro entrou locupletando-se também com as ações que pôs em nome de sua esposa. Não esqueçamos os rumores postos a circular da má fama deixada por este ex-gestor que
prejudicou a Bordalim, parecendo inverdade, vislumbrando-se na prática a estes rumores pelos seus estranhos negócios com a Ditel. Mas deixemos isto para depois.
- AGRPARAÍSO:
Do paraíso bem a Coelima pode esperar, e a agro também. O que é isto? Parece mais uma miragem! Sabe-se produzir kiwis e afins, e fornecer os mais aleijadinhos à famigerada cooperativa de
triste memória, que por sua vez cabia-lhe a importante missão de fornecer couves, tomates e iogurtes fora de prazo e também kiwis mas agora os completamente paralíticos, não se falando do
famoso negócio das carnes e do vinho que mais complicado, para a cantina do povo, esta bem como a cooperativa gerida pela sargente chico. Ainda hoje os sócios fundadores da cooperativa,
trabalhadores da empresa, convidados/obrigados a participar no projeto, estão esperando os resultados do ativo e passivo e participação nos lucros. De resto consta-se nada saber sobre o
investimento na agricultura.
- FRIMINHO:
Outra paranoia muito brilhante. O desafio do futuro congelado (a Coelima) está a ganhar movimento nos lares portugueses. Projeta-se o investimento, e congela-se peixe e
refeições para a cantina. Ardilosamente, tudo está pensado, até era muito engraçado ver-se os administradores a fazerem charme apreciando junto ao povo os apetecidos pratos. O resto já
se sabe, o referido sargento chico lá ia comandando as tropas com o beneplácito do comandante atém sair, e desertando faz a sua própria companhia.
Por fim este (inteligente) empreendimento foi entregue a um senfazer funcionário da empresa, e posteriormente oferecido, mesmo oferecido com a condição de exclusiva garantia de esgotar
os seus produtos na cantina e nos sujos bares da Coelima. Brilhante negócio.
- SOPSI:
Quem te viu e quem te vê. A desgraça nunca vem só.
Também a onda das novas tecnologias, afetou a cabeça do grande mago dos negócios rentáveis. Nomeado o gestor embora boémio e irreverente, reunia as condições pela sua agressiva vida no
domínio da informática e não só. Assim se viu nascer e crescer dentro de portas este bizarro sonho, que depois de ajustadas as regras da não transparente autossuficiência, muda-se e desde
logo com grande folclore, mais para esconder o que se viria a constatar que poe eficiente estratégia comercial. À Coelima não era permitido questionar nem tão pouco fiscalizar, mas lá se
iam tolerando estas birras, a troco de outras razões mais importantes. Aqui já sem vê o implícito deixa andar do GNR, a notar pelas desalianças e alianças com o gestor da Sopsi, que
permitiu que o estado das coisas arredondasse em monumental cratera de quase dois milhões de contos agravando-se o facto, meses antes por ordem do GNR se injetarem dezenas de milhares
de contos na que já era defunta.
- ARQUINHO:
A saber-se, resultado da solvência de uma dívida à Coelima, a sua existência ainda que efémera, já se interrogam os deuses sobre a saída do seu administrador, apesar de ser mandado pelo
senhor Simões. Sabe-se esta associada ter um grande cliente e chama-se Coelima, absorvendo-lhe quase toda a produção e ter adiantado os salários, numa da mais recente operação bancária.
Foram feitas algumas aquisições ou vendas de equipamento de escritório, já a operar na Coelima, usando alguém das suas habilidades de vendedor na sua zona de influência, movimentando-se
no azimute da cobiça quer de ser gestor da Ditel. Bom mas isto complica-se na medida em que o atual gestor poder. Não há problemas ouvem-se vozes… “ Compra-se 51% das cotas da sua
empresa familiar está resolvida a questão”. Assim se disse, assim se fez. Retira-se o gestor, e assim se vê rir mais uma. Paga-se as cotas adquiridas e faz-se o necessário investimento
para dotar a nova associada de infraestruturas de suportem à Ditel. Mais dezenas de milhares de contos a voar. Tudo ok, revelando a prática tudo completamente ao contrário, pelo que a
inviabilização deste projeto com este gestor, foi ainda sem ter começado, posto em curso. Conhecem-se os contornos da incompatibilidade negocial entre o novo gestor da Ditel e o novo
gestor e patrão da TCA, traduzidos nos preços dos tecidos para transformar muito mais caros e vendidos a outro cliente, bem como ver parada uma máquina adquirida que custou dezenas de
milhares de contos de acolchoar edredões, continuando-se teimosamente e já se sabe porquê a utilizar esta prerrogativa com um nosso forte concorrente da Covilhã, apesar de este em
tempos nos criar problemas. O resultado foi o gestor que nunca exerceu, vendeu à Ditel cotas que lhe restavam, e o desfecho deste édipo resultado em prenda de casamento.
Regressando ao passado porque estamos a citar o presente, toda esta panóplia lamentável dirigida pelo ex-administrador em chefe não ativo que até nos irmãos amigos via terríveis inimigos,
arrepiou os seus então conselheiros e colaboradores de tão altos e perigosos tornando-os inquisidores de um processo que o levaria à queda. Tudo isto parece mais um filme de ficção de
Spilberg que a triste realidade palpável.
Estes pecados que mesmo a viver-se 100 anos, não existe espaço na oração para serem perdoados.
CONCLUSÃO:
Que o manhoso elevou-se a bondoso, deixando depressa transparecer as suas cândidas fraquezas sorrindo ao aninhar dos novos cucos, agora mais inteligentes, habilidosos e perspicazes.
Tudo se transforma, tudo se repete, só agora com algumas nuances. Se o ex via os irmãos amigos como terríveis inimigos, o atual presidente via nos irmãos inimigos, terríveis amigos com
a diferença de o fluxo de desenvolvimento ser agora mais sinuoso e económico/belicista mais desastroso, por serem muitos artistas.
O auspicioso plano de uma nova filosofia de gestão e uma nova imagem está em marcha com o aparecimento de um técnico de acabamentos inglês para administrador com um contrato de oiro,
desde logo mostrando aos nossos clientes e concorrentes serem capazes de produzir tecido estampado, encolhê-lo com uma máquina secreta e fazer uma nova imagem, através de uma agência
inglesa de publicidade. Uma verdadeira loucura que custou mais que 100 mil contos. De nada valeu a inteligência e capacidade de gestão entre outros do Simões, presidente do conselho,
demonstrando a inadequação deste projeto comandado a milhares de quilómetros de distância.
Loucuras da Ana Salazar, Cenoura, Makenzie e outras, envolvendo centenas de milhares de contos, tudo isto manipulado financeiramente pelo Exmo. Simões.
Intolerável inocência da família Coelima na gestão, ficando mesmo possuídos de terrível cegueira perante a extraordinária ubiquidade do GNR, autoproclamando-se administrador da Bordalima,
Ditel, Arquinho, a Sopsi é outra história, produto de acordo secreto dos não amigos e depois muito amigos. O desplante deste senhor, inviabilizar propostas de recuperação de empresa
tentando fazer vingar uma sua proposta, incluindo-se a si e aos seus brilhantes colaboradores como alternativa à crise por eles provocada. É de morrer a rir não acham?
O que é feito Exmo. do seu muso inspirador algures em Lisboa, onde se vai aconselhar? Não estará este zangado de entender os conselhos ao contrário? Quanto custará esta megalómana vaidade
à Coelima? Que bom seria saber-se, o que se passa com os cheques sem provisão em mãos dos fornecedores, com garantia de prioridade de pagamento a troco de luvas, do negócio emergente da
venda do fio, bem como o desvio de stocks destinados a determinados mercados, para serem vendidos e esses mercados pela ex-Bordalima a preços mais baixos do que anteriormente acordados
com a Coelima e clientes. Quem se está a governar com o negócio já agora, não se poderá entender como uma pura provocação, os aumentos devidos e que aumentos aos trabalhadores da Ditel,
quando a Coelima tem os seus salários em atraso.
Poder-se-ia escalpelizar outros processos e outras manobras, mas seria demais fastidioso mergulhar mais na prostituta imundice em que estamos todos atolados, deixando para quem vem ou
vier, a descoberta de toda esta embrulhada, mas cuidado, que por muitos vizinhos que sejamos, nunca vemos os defeitos dos abutres experimentados.
Se o estúpido plebeu Simões rei quis ser, e os seus pajens o palácio deixaram arder, os escombros do ardido palácio os devem f…
Deste muito pouco abrir de olhos, devemos todos retirar a dimensão merecida das coisas, de tanta vergonha vergonhosamente junta, é caso para dizer que Pevidém, Guimarães e Portugal
têxtil estão de luto.
E AGORA!?
…Sinceramente!…
OS CIGANOS
Por falar em Pevidém, já agora mais esta:
OS CIGANOS DE PEVIDÉM
Falava-se há muitos anos
Numa história de ciganos
E um carro a eletricidade,
Que um cigano nada tolo
Vendeu um dia a um parolo
Dos tais que vão à cidade.
Mas nestes tempos de agora,
Essa façanha de ouro
Já não espanta ninguém,
Pois foram mais refinados
Os ciganos acampados
Em terras de Pevidém.
Fugindo à chuva e ao vento,
Fizeram acampamento
Num largo municipal,
E ali dormiram bons sonos,
Feitos reis e reais donos
Do reino de Portugal.
Nem pedidos, nem ameaças
Nem a Guarda e suas praças
Os fizeram arredar pé,
Pois ninguém mostra coragem
De expulsar a ciganagem
Do largo que era do Zé.
Mas houve alguém de alto cargo
Que tomou a peito o encargo
Usando um processo novo:
- Deixou o trono aos profanos
E foi comprar aos ciganos
A terra que era do Povo;
Como dinheiro é uma praga,
Que uns gastam e o Zé paga,
O chefe ganhou aos pontos:
- Num gesto de “quero e posso”,
Comprou o que era já nosso
Por uns milhares de contos…
E o velho cigano tétrico
Que vendeu um carro elétrico
Perante estes: é um mono:
- Pois estes, sem um paleio,
Tomaram terreno alheio
E foram vendê-lo ao dono…
Agora, corrida a fama,
Ou se um cigano outro chama,
Vai ser um grande escarcéu:
- Todos acampam em vaga
Na terra que compra e paga
Aquilo que já é seu.
Dinheiro?... - Nada de novo:
- Há sempre a bolsa do povo
E as novas taxas de agora,
Que vão rendendo uns patacos
Para abrir mais uns buracos…
Ou lançar janela fora.
E o povo no seu marasmo,
Fica calado de pasmo,
Bendiz a sorte que tem,
Por ter Alguém, em seus ócios,
Capaz de fazer negócios
Como esse de Pevidém.
Zé Povo
Acontecimento verídico, escrito em verso naquele tempo por alguém.
Enfim, são os gestores e as empresas que temos, são as regiões e autarcas que temos, são os governantes e o país que temos!
Onde estão os descendentes dos nossos reis heróis? Onde estão os seguidores dos protagonistas dos gloriosos descobrimentos? Onde está o Portugal de outros tempos?
Os complexos e a vergonha estão a tomar conta do povo! Estamos a ficar com o estigma de ser português! É pena.
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ECOS DE ANGOLA
Por: Mattusstyle em 12.12.2021 às 18:35
ANGOLA NO CORAÇÃO
ANGOLA E PARTICULARMENTE LUANDA
Não nasci, mas cresci, estudei, trabalhei e vivi intensamente naquela grande terra!
Há muitos anos atrás, com praticamente toda a família que era numerosa, tinha eu 10 ou 11 anos, atracamos no porto de Luanda, e por muitos anos por lá ficamos naquele território. Também não posso dizer que vivi naquela terra a minha meninice, porque passados dias de ter chegado, o meu pai pôs-me a trabalhar. Tive de ser adulto antes do tempo. No entanto, vivi a minha juventude de uma forma intensa e irreverente. Também não brinquei, pois não tive tempo, mas estudei, trabalhei, farrei e gozei tudo que havia de bom. Fiz amigos e namorisquei. Quem sabe se um dia lá voltarei!
Angola fica situada na costa ocidental de África e está entre o Equador e Trópico de Capricórnio, é, portanto, um país tropical, banhada pelo oceano atlântico.
Tem espaços imensos e horizontes largos, tanto físicos como mentais da terra e das gentes que lá viviam.
Longos meses de calor, mas muita humidade. Praias maravilhosas de norte a sul que dava para desfrutar quase o ano todo, e interior ora verdejante ora seco principalmente na savana.
Terra potencialmente muito rica em quase tudo, tanto no solo como no subsolo.
Na cidade de Luanda vivi enquanto lá estive. Era uma cidade linda e com muita vida, tanto diurna como noturna. Essa vida fervilhava a cada segundo que passava e em cada poro dos seus habitantes.
O amanhã não era relevante. O que contava era viver o presente intensamente.
Terra grande que dava para o pessoal se espreguiçar à vontade. As grandes distâncias eram já ali. Não se pensava em pequeno, só em grande.
Em Luanda como em outras cidades, a cultura era elevada, tanto dos letrados como daqueles sem formação académica.
As cores eram vivas. O tempo não as desbotava.
Após eclodir as lutas de libertação, um boom económico explodiu. A qualidade de vida era uma realidade. Também havia focos de miséria. Infelizmente havia.
As mentalidades eram diferentes. Até parecia que não tínhamos nada a ver com Portugal, este pequeno e mesquinho jardim à beira mar plantado.
Tinha inúmeros sítios de interesse. Angola tem muitas maravilhas naturais.
Em outros pontos deste site, vou falar de mais temas desta que foi uma maravilhosa terra.
UM POUQUINHO DE HISTÓRIA
Angola deriva de N’gola, palavra bantu. Os bantus eram povos que habitaram numa região muito próxima e um pouco para leste da atual Luanda.
A economia de Angola era predominantemente agrícola. Só a partir dos anos 70 se começou a diversificar. O café tornou-se numa das principais culturas. O “robusta” mais naturalmente e o “arábica” duma forma mais elaborada. Algumas fazendas de cana do açúcar de quilómetros e quilómetros de extensão a perder de vista. Angola chegou a ser o maior produtor mundial de milho. Também se produzia em grandes quantidades o sisal, óleo de coco, de palma e amendoim, algodão, tabaco e a borracha. A produção intensiva de batata, arroz, cacau e banana, foi uma constante e muito importante para a economia daquele território. Havia ranchos e grandes explorações de gado bovino, caprino e suíno que era preciso percorrer de jipe.
A rosa de porcelana, flor natural que em água e aspirina durava fresca cerca de seis meses, exportou-se em grande escala para todo o mundo.
Foi introduzido no deserto do Namibe o caracul, raça de carneiro, cuja pele começou a ser exportada para a Europa para confeção de vestuário de agasalho.
Os recursos minerais são incalculáveis, especialmente diamantes, petróleo e minério de ferro; possui também jazidas de cobre, manganês, fosfatos, sal, mica, chumbo, estanho, ouro, prata e platina. As minas de diamante estão localizadas perto de Dundo, no distrito de Lunda.
Foram descobertas jazidas de petróleo em mais ou menos 1966, ao longo da costa de Cabinda, e mais tarde mais para sul desta cidade até Luanda.
Angola tornou-se num dos mais importantes países produtores de petróleo. Isto ajudou e de que maneira o desenvolvimento económico. No ano da independência, foram localizados depósitos de urânio perto da fronteira com a Namíbia.
A música é muito ritmada e a dança acontece espontaneamente. A presença constante no dia-a-dia das pessoas está inserida num contexto sociocultural e é uma forma de intervenção. Esses ritmos apelativos estão no sangue e na alma de cada um e manifesta-se deste tenra idade. A identidade musical de Angola destaca-se hoje em dia pelos diversos estilos: Semba, Kuduro, Kisomba e mais alguns.
ANGOLA PROFUNDA
MAIS ANGOLA
E porquê mais Angola? Porque há sempre algo mais a dizer sobra aquela terra tropical.
Vivi sempre em Luanda.
Visitei algumas cidades e localidades, não tanto como gostaria de o ter feito, e estive lá tantos anos! Agora não há nada a fazer. Não está nos meus planos voltar. A minha mulher e o meu filho nunca lá estiveram e gostaria de lhes poder mostrar, mas está muito difícil.
Vamos falar sobre Luanda? Não das parangonas dos jornais nem das manchetes, mas tão só de trivialidades. Da simplicidade do que foi nosso quotidiano. Está bem?
Ok vamos lá.
Não, não é por nada, é que conheço melhor Luanda que o resto de Angola.
Pois claro estive lá largos anos da minha vida!
Antes e até 1977. Foi neste ano que vim para a santa terrinha, Portugal.
Luanda era uma cidade linda multicolorida. Não há invernos para lhe estragar as cores. É difícil lá ter estado e não gostar de voltar.
Morava na cidade alta. Próximo havia o ringue de jogos do Vilinha (Vila Clotilde), clube onde joguei basquetebol. O barulho da claque ouvia-se perfeitamente. Começou a morder um bichinho cá dentro. Eu e um irmão íamos assistir aos treinos, depois treinar e por fim jogar fazendo parte do clube.
A Contracosta junto ao Restinga, era a praia que frequentávamos aos domingos de manhã. O sol maravilhoso e as ondas com mais de 3 metros de altura onde nos balançávamos, eram o forte daquelas manhãs domingueiras. Uma fugida ao Restinga para comprar uma bebida era habitual. O regresso a casa faz-se de machimbombo. Este está completamente cheio e há gente em pé. O Jorge convida uma amiga a dar o lugar a três. Também não é assim tão gorda! Chegar e tomar banho de mangueira no quintal.
As idas frequentes ao cinema, principalmente ao Ril. No quartel era bem mais barato! Mas também ao Restauração, S. Paulo, Miramar, Avis, Nacional, Tropical, Colonial e Cazenga. Não havia televisão!...
Apetece-me uma mariscada. Umas quitetas e umas cucas geladinhas ou nocais, tanto faz. Vamos ao Cacuaco? Também pode ser no Amazonas, Portugália ou Baleizão. Por falar em Baleizão, vamos lá comer umas cassatas? Ai aquelas cassatas! São espetaculares! Ou preferem ir a S. Paulo comer uma feijoada picante bem regada com canhangulos? É só escolher.
Aqueles natais no nosso quintal com cinquenta e mais pessoas eram um pequeno mundo. Os veados caçados naquela noite pelo nosso irmão e os leitões em cima da mesa, assados nos fornos da Pastelaria Mimosa. Uma delícia!
Para a festa, vamos à Frigor comprar gelo e carradas de camarão cozido.
O mercado do Quinaxixe não é longe e dá para lá ir de vez em quando. Aproveitar para apanhar gajajas no percurso.
Temos farra este fim-de-semana. Não sei a que propósito mas também não interessa. As farras aconteciam por tudo e por nada. Em casamentos, batizados, carnaval, fim de ano, finalistas e mesmo sem motivo. Já que falei em finalistas, lembro-me perfeitamente da festa de finalistas do meu curso. Foi no Cine Bar Tropical. Começou às nove da noite e acabou às sete da manhã, com ida direta para a praia.
O meu último trabalho foi numa empresa de tabacos da cidade. Quando fui admitido nesta empresa, o chefe do escritório que me entrevistou disse-me os meus direitos e deveres. Um dos direitos eram três volumes de cigarros por mês, um maço por dia. Disse-lhe que não fumava e ele respondeu que passaria a fumar. Olha-me este! Pensei mas não disse nada. Passados uns tempos, guardei na gaveta da secretária os volumes acabados de receber. Por razões que agora não me lembro, apeteceu-me um cigarro. Com eles ali à mão de semear, não resisti. Só depois me lembrei que tinha dado razão ao meu chefe. Passei mesmo a fumar!
Todos os anos havia reuniões com o pessoal administrativo, para acertos diversos, promoções e outros assuntos. No final havia um almoço com todo o pessoal pago pela empresa. Um desses, não me lembro qual, foi num restaurante chinês muito chique que existia na Ilha. Não tinha nada a ver com estes que há cá. Era mesmo fino. Era um empregado para dois ou três clientes, sempre atrás de nós para o que fosse preciso. Lembro-me perfeitamente que o vinho era rosé, adocicado e bom. Bebia um copo e virava-me para o lado para conversar. Quando voltava a olhar para o copo já estava cheio novamente. Perdi o controlo dos copos que bebi e apanhei uma bebedeira monstra. Só tive tempo de chegar a casa para não vomitar no carro da boleia que apanhei. Fiquei doente durante dois dias com uma ressaca de caixão à cova.
Uma amiga das minhas irmãs aparece muitas vezes na sua mini-honda. Temos um grupo espetacular de amigos onde um deles é o animador principal.
As corridas estonteantes das minhas irmãs mais novas, ora de bicicleta ora de patins no passeio da nossa rua, fazem impressão.
Vou frequentemente ao Liceu feminino, para ver as raparigas a sair. Numa dessas fui de vespa, a pequenina que tive. Pus-me a fazer habilidades para impressionar.
Derrapei e caí. Como não tinha um buraco para me enfiar nele, montei e fugi dali com o rabo entre as pernas, como sói dizer-se, carregadinho de vergonha.
Bem feito, quis-me armar…
POR ESSA ANGOLA DENTRO
Vou levar as minhas recordações um pouco para fora de Luanda. Não é por nada em especial, mas porque já falei de algumas coisas da cidade e também porque me bateu cá dentro uma certa saudade. Resolvi por isso escrever agora, enquanto me resta alguma memória para falar de algumas das minhas vivências naquele país tropical. Pequenas histórias que vou reviver, contadas duma forma peculiar muito à minha maneira.
Vamos, venham daí.
PEQUENA VIAGEM RUMO A NORTE
ANOS 50, 60 E 70
Até 1977 residi na parte alta da cidade de Luanda. É precisamente aqui que iniciamos a nossa viagem.
Os cânticos acompanhados ritmadamente com palmas na igreja adventista da Assembleia de Deus, que funciona no Maculusso, vão-se ouvindo cada vez mais tenuemente, conforme nos afastamos.
O clube Vila Clotilde (Vilinha), onde joguei basquetebol e a Liga Africana mesmo ao lado onde estava o ringue que usávamos, estão na mesma.
Ai vilinha vilinha que saudades! Saudades da adrenalina dos jogos de basquetebol. Este clube arrastava multidões para os seus jogos!
Atravessamos a Paiva Couceiro, apontamos para a zona do Miramar, metemos à rua António Enes e entramos na estrada da lixeira. Nesta zona e à saída, muita gente formava um quadrado à volta dum campo de futebol pelado. Sobre aquela terra barrenta, vermelha e endurecida, decorria um jogo de futebol entre bairros. Quem sabe se foi aqui que os Dinis e os Mantorras deste país, iniciaram as suas carreiras futebolísticas!
Aqui e acolá algumas cabras na falta de melhor, comiam papéis!
Definitivamente ruma-mos à estrada do Cacuaco.
Cacuaco. Uma olhadela à praia. As ondas rebentam na areia suja. Um porco preto procura restos de peixe deixados pela maré. Estacionamos e entramos num daqueles muitos restaurantes.
- Camarão e quitetas para todos por favor.
- P'ra beber?
- Cucas e nocais geladinhas. Também laranjadas mission e coco-pinhas.
As quitetas bem picantes com muito gindungo eram uma delícia. A boca picava de ardência. Nada que não se pudesse resolver o fogo deixado na boca com a cerveja muito fresca, mesmo gelada goela abaixo.
- O camarão é do pequenino, pois é muito mais saboroso.
- Ok, ok.
O Cacuaco é uma vila pequena e simpática. Dista de Luanda cerca de vinte quilómetros. Mas é já ali. Aos fins-de-semana triplica a sua população. A população residente é muito pouca. A culpa é do marisco variado que lá se come. E não é caro! A maioria dos seus edifícios são restaurantes. É lá que o marisco sabe bem.
Ali já ou já ali, um ou dois quilómetros mais à frente, lá estava do lado direito a Vidrul, fábrica de vidro que produzia todo o tipo de garrafas e não só. Este nome trás lembranças de gente caricata que viveu ali perto. Uns metros adiante temos e do lado esquerdo a serração do Sr. Matos e ao lado a casinha para onde foi viver a família quando chegou do Puto (Matrópole).
O calor era muito e andar em tronco nu era o mínimo. O mar não era muito longe dali. Uma lagoa pantanosa para onde os patos voavam para se refrescar e logo a seguir o mar.
Por falar em tronco nu, foi assim que muitos portugas andaram os primeiros dias após ter lá chegado. Apanharam escaldões nas costas que chegaram a ficar todas em
ferida. Fui um deles. Não estavam ainda curadas estas feridas, e o meu pai pôs-me a trabalhar em Caxito a mais ou menos cinquenta ou sessenta quilómetros dali.
A viagem foi demasiado dolorosa, pois não conseguia encostar-me a coisa alguma devido à inflamação nas costas!
Já se avista a ponte do Panguila sobre uma lagoa pantanosa. Do lado esquerdo muitas hortas e do direito o desvio para Quinfangondo. Por falar em Quinfangondo, veio-me à lembrança o cacusso ou bagre, peixe do rio grelhado no restaurante do Letra junto ao rio Bengo, acompanhado de muitos finecos geladinhos. É que sabiam bem! Embora com certo sabor a terra do fundo do rio!
Num determinado dia e mês de um ano qualquer que não posso precisar, lembro-me perfeitamente ter descido na companhia de outros rapazes à lagoa do Panguila para apanhar peixes. Viveram estes peixes muito tempo num aquário na nossa casa de Luanda.
Correu a história que numa daquelas hortas, a do Sr. Manuel, uma giboia muito grande lhe comeu o cão. Ouviu os latidos aflitivos e foi procurá-lo. Encontrou a
giboia a fazer a digestão do seu fiel amigo. Ficam inertes quando estão naquele estado digestivo. Foi fácil ao Sr. Manuel matá-la com um simples canivete e
retirar do seu interior o seu cão já morto. Possivelmente ainda aproveitou a pele da giboia para curtir, pois era muito apreciada para vários tipos de artigos.
Continuamos e atravessamos a dita cuja ponte. Rolamos uns quilómetros largos naquele asfalto quente. O sol ia alto e já começava a aquecer o tejadilho do carro. Percurso plano e paisagem ressequida. Capim baixinho e terra barrenta bem à vista. De quando-em-vez, fornos de cal. Fornos que atingem altas temperaturas para transformarem pedra calcária que lá havia em abundância em cal viva ou carbonato de cálcio pronta a ser usada nas suas mais variadas aplicações. Esta cal era abafada em barris hermeticamente fechados para não se correr o risco de oxidar transformando-se em pó, cal morta ou óxido de cálcio.
Porto Quipiri à vista. Esta localidade está em festa. É dia de Nossa Senhora da Muxima.
Paragem obrigatória. O farnel para o pic-nic está na mala do carro. Um Volkswagen carocha com uma mala muito pequena. O motor é atrás e à frente resta pouco espaço para a bagagem. Comprei este carro usado e mandei-o pintar de um vermelho claro. Saiu cor de telha. Até ficou giro. Gostava muito daquele carro. Ainda hoje gosto dos carochas. Consome muito mas a gasolina é barata.
Num país quente tropical, onde se está mais perto do sol, as bebidas sobrepõem-se às comidas. Fruta, fiambre, queijo, panadinhos e passarinhos fritos bem ajindungados. Ninguém dispensa o gindungo. Assim as bebidas escorregam muito melhor.
Mesmo de relance o que é que se vê? Muita bebida e pouca comida. Os recipientes estão cheios de gelo moído a refrescar a cerveja nocal, as coco-piñas, os sprits e a água. O gelo foi obtido na Frigor, para não ter que ir à fábrica da Pepsi nos Coqueiros junto ao estádio. Ficava fora de mão.
Sintonizamos o rádio em ondas curtas para ouvir o relato do jogo Benfica-Sporting no estádio da Luz. Aida estava 0-0 quando deixamos de sintonizar a Emissora Nacional. Ouvir o relato do futebol, era uma forma de nos lembrarmos da nossa santa terrinha.
Porto Quipiri tem pouco mais que uma dúzia de casas rés-do-chão. Tem um lindo jardim onde fizemos a paragem para o piquenique. Ao lado da igreja um café/restaurante que tem tudo. Mais parece uma área de serviço numa autoestrada da Europa! Café, restaurante e armazém de variadíssimas coisas.
Um organizador das festas encaminha os veículos para um descampado que serve de parque de estacionamento. Estacionamos aqui. Uma pequena mas espessa nuvem de pó vermelho dançava a pouca altura, cada vez que pisávamos aquele solo.
Ah já me esquecia! Neste jardim junto à ponte sobre o rio, há atualmente um monumento estranho. Um sopé redondo com crianças á volta segurando uma plataforma também redonda com um enorme crocodilo mastigando um cifrão. As crianças parecem odia-lo, pois aquele crocodilo representa o capitalismo americano, combatido ferozmente pela propaganda. Chamam-lhe o “Crocodilo Dande” crocodilo do rio Dande. Há uma analogia com Crocodilo Dundee, o filme americano e de certa maneira símbolo daquela potência.
Gostava de ficar mas não posso. Tenho de continuar a viagem.
Uma ponte sobre o rio Dande, separa Porto Quipiri da Fazenda Tentativa. Vamos atravessar esta ponte.
Depois de atravessar a ponte, temos à nossa esquerda uma picada, estrada de terra batida que nos levaria à Barra do Dande. Mas não vamos por aí. Seguimos para a direita na estrada principal em direção a Caxito.
O piso é uma mistura de asfalto e maquedame. Do nosso lado esquerdo, quilómetros e quilómetros a perder de vista de cana do açúcar. Do lado direito, plantações muito alinhadinhas de palmeiras para a produção de dendém e deste para a extração de óleo de palma. Devo referir que o óleo de palma, além de fazer parte da dieta dos angolanos, é uma excelente matéria-prima para a produção de sabão. Da sua semente o coconote, produz-se um fino e ótimo óleo.
A espaços vêem-se saguis, macacos minúsculos saltando de palmeira em palmeira. Muitas destas palmeiras começaram a morrer, porque os locais extraem de uma forma selvagem a sua seiva para fabricarem o marufo, bebida altamente alcoólica. E por álcool eles …
Fomos andando e chegamos à fábrica do açúcar. Várias carruagens chegam de vários pontos da fazenda carregadas com cana chamuscada. E chamuscada porquê? Porque antes de ser cortada, é feita uma queimada que só ardem as folhas. Aproveitamos para tirar das carruagens algumas canas para mastigar, engolir o suco doce e deitar o resto fora.
Uma vala de muitos quilómetros vinda da barragem das Mabubas, serve para regar a cana desta fazenda.
Depois duma pequena paragem continuamos o caminho. Sessenta quilómetros depois que saímos de Luanda, chagamos a Caxito.
Caxito traz-me muitas lembranças. A vila simpática e engraçada. Hoje cidade capital de província.
Alguns anos antes com pouca mais de dez anos, o meu pai pôs-me a trabalhar num dos muitos estabelecimentos comerciais desta terra num amigo dele.
Apesar de tudo, criei muitas amizades e bons amigos, quase todos de cor.
Lembro-me perfeitamente que o estabelecimento tinha um quintal nas traseiras. Neste quintal havia várias árvores de fruto: Mamoeiros, bananeiras, mangueiras e goiabeiras. As goiabas maduras, cor-de-rosa por dentro, é que eram deliciosas!
Uma cena caricata aconteceu-me por essa altura. Foi em Caxito que aprendi a andar de bicicleta e foram aqueles amigos de cor que me ensinaram. Numa destas aprendizagens, estavam vários deles a segurar a bicicleta para me poder equilibrar em cima dela, senão quando me largaram. Indo eu muito bem e direitinho sem saber que ia só, quando olho para trás e vejo que eles estão longe, deu-me uma tremedeira seguida de um valente trambolhão que me deixou algumas escoriações no corpo. Mas valeu a pena porque a partir dali não mais precisei de ajuda.
A vala que vinha das Mabubas para a tentativa, passava mesmo junto à vila. De vez em quando, íamos lá tomar banho. As águas eram rápidas, barrentas e arrastavam vários resíduos. Era tal a força da corrente, que a nadar no sentido contrário não se saía do sítio! Devido às impurezas daquela água, apanhei uma bilharziose que se manifestou mais tarde. Descobri por causa duma anemia que aquela me provocou.
A minha lavadeira vivia numa sanzala próxima. Fui a casa dela várias vezes. Gostava muito de mim. Eu era o “monamindele”, menino branco que se dignava conviver com ela. Ensinou-me algum dialeto.
Uma sanzala é um grupo de cubatas de pau e pique. Os paus eram revestidos de barro. As ruas na sanzala eram espaçosas e sempre limpas. Cada morador varria constantemente a sua zona. As cubatas eram todas iguais. Uma sala com uma porta para o exterior e outra para o quintal. Dois quartos, um de cada lado desta saleta.
O homem da casa tinha duas mulheres, a minha lavadeira e outra. Cada uma no seu quarto. O homem ora dorme com uma ora com outra. As mulheres davam-se bem e
criavam os filhos uma da outra em comum.
A luz elétrica que iluminava a vila era fornecida pela Barragem das Mabubas que estava um pouco mais a norte.
Os camiões passam carregadinhos de mangas vindos da fazenda do Libombo na estrada do Ambriz. Os motoristas paravam para refrescar as goelas e nós aproveitávamos para sacar o máximo de mangas. Não se importavam. Eram toneladas e toneladas que transportavam todos os dias!
Aquilo foi bom mas tudo tem o seu tempo.
Um dia já mais crescidote, regressei a Luanda e nesta cidade fiquei a trabalhar, estudar, jogar basquetebol e viver intensamente a minha vida.
Esta viagem não é mais que uma romagem de saudade. Revisitar os meus locais de menino-e-moço, jovem adolescente e adulto na Angola do meu coração.
Esta viagem acabou mas outras se seguirão por essa Angola profunda. Vou voltar a escrever sobre este assunto. Não sei quando mas vou. Me aguardem.
Até sempre.
À LUANDA QUE COHECI
LUANDA EM POESIA
LUANDA...
Luanda debruçada sobre o mar
onde as ondas uma a uma
vêm desfazer-se em espuma
a tua ilha beijar
Luanda da fortaleza em pendor
na expressão de uma aguarela
que o artista com fervor
pintou majestosa e bela
Luanda do batuque pela noitinha
e as acácias em flor
és tu Luanda rainha
senhora do meu amor.
Canção do Duo Ouro Negro.
MÃE LUANDA
Terra vermelha,
Cor do sangue da gente que te percorre
Nos emaranhados de que te fazes,
Livre como o curso do rio de águas amenas e calmas
Onde bebes a saudade e celebras a vida.
Bar aberto
Nas bermas da ternura do teu povo,
Em cada sorriso dos teus filhos,
Mãe de esperanças sem desgostos
Que ao teu balcão a tristeza não se bebe.
Espera-se a madrugada de olhos postos no azul
De mãos dadas com o arco-íris das monções.
Sempre minha, sempre mãe, sempre Luanda
Jaber
AMANHÃ...
Amanhã, vou acender uma vela na Muxima
Amanhã, levo para os meus santos flores de acácias
Amanhã, peço para toda gente que me estima
Amanhã, peço para o novo dia que virá (amanhã)
Amanhã,
Peço ao meu lema que faça com que eu volte
A morar na terra amada que me viu nascer
Quero chegar de madrugada
Para ver o sol raiar
Quero chegar de madrugada.....hoo
Para ninguém ver, se eu chorar
Vou andar por aí, com o meu violão
Vou à Mutamba, tomo um machimbombo qualquer
Por "ma curia a naqui", sou igual a toda a gente
Na linha da Terra Nova, só paro lá no musseque
Com a minha gente, entre mufete e conversa
E de madrugada, com Catembe vou prá Puita
Zag, zag, zag, zag ........ Zanga-zuzi até cair ... até cansar....
Aiuehh.. Que é que vai fazer amanhã meu irmão?!
Duo Ouro Negro
LUANDA TEM......
Luanda tem…
Tem o Sol que nos aquece
E que o coração estremece
Quando sente o seu calor
Tem ocaso de magia
Quando acaba mais um dia
De trabalho e de suor
Luanda tem…
Tem a Lua feiticeira
Que encanta à sua maneira
Nas vielas da Sanzala
Com um luar sempre etéreo
Que nos enche de mistério
Quando a noite nos embala
Luanda tem…
Tem estrelas encantadas
Que em noites bem fadadas
Brilham como diamantes
E nos fazem sentir então
A ternura e emoção
De encontro de amantes
Luanda tem…
Tem o mar… azul profundo
Grande tesouro do mundo
Onde Neptuno se encosta
E a sua Ilha tão bela
Mais parece uma aguarela
Que Deus guarda como amostra
Luanda tem…
Tem a Kianda brejeira
Que bem à sua maneira
Milongo nos põe na alma
Tem o som lindo do quissanje
Que mesmo ouvido de longe
Nos enleva e nos acalma
Luanda tem…
Tem Marginal deslumbrante
Com ondulado de serpente
E feitiço tão profundo
Que cativa e faz vibrar
A paixão que anda no ar
Por este lugar do mundo
Luanda tem…
Tem som quente de rebita
Tem a cor alegre da chita
Com que se faz o kimono
Tem a Saudade com ela
Que cintila como estrela
E me tem tirado o sono…
Luanda tem….
Letinha - 2/05/2007
P’RA QUEM VIVEU EM LUANDA...
"Nasci branco de segunda
Calcinhas ou caluanda
Nasci com os pés no mar
... em São Paulo de Loanda
Brinquei de pé descalço
Em poças de águas castanhas
Tive lagartas da caça
Não escapei às matacanhas
Comi manga sape-sape
Fruta-pinha tamarindo
Mamão a gente roubava
No quintal do velho Zindo
Pirolito que pega nos dentes
Baleizão, paracuca
E carrinhos de rolamentos
Numa corrida maluca
Tinha o Gelo, tinha a Biker
Miramar e Colonial
O Ferrovia, o Marítimo
Chás dançantes no Tropical
O N'Gola era só ritmo
O Liceu uma lenda
Kimuezo e Teta Lando
E os Ases do Prenda
Havia velhas que fumavam
E velhos com ar de sábio
Enquanto novas músicas
Se insinuavam na rádio
"E a cidade é linda
É de bem-querer
A minha cidade é linda
Hei-de amá-la até morrer"
Quem não estudou no Salvador?
Quem não se lembra do Videira?
E das garinas de bata branca
Nossas colegas de carteira?
Depois havia o Kinaxixe
Futebol era nos Coqueiros
Havia praias, um mar quente
Savanas imensas, imbondeiros
E havia o som do vento
O cheiro da terra molhada
As chuvas arrasadoras
O fogo das queimadas
E havia todos os loucos
Do progresso e da guerra
A Joana Maluca, o Gasparito
A desgraça daquela terra
Nasci branco de segunda
Calcinha ou caluanda
Nasci com os pés no mar
Em São Paulo de Loanda"
(Nicolau Santos, um kaluanda)
LUANDA MINHA AMADA
Luanda, minha amada
como eras bela quando te conheci!
Trazias no rosto o cheiro da maresia.
Com teu aroma suave me embeveci.
Um dia parti percorrendo teu corpo,
descendo suavemente pelos teus rios
inebriada pela beleza do teu dorso
tomada pelo fogo dos sentidos.
Ainda era menina ingénua
mas cedo te desejei para mim,
deitar-me no teu seio, nua
beijar-te toda com frenesim.
Nada do que te disse esqueci.
Palavras doces sussurradas
que ternamente te dirigi
enquanto me olhavas.
Dos teus amantes tenho ciúme.
Daqueles que entram por ti adentro
com violência para possuir-te
destruindo o teu sonho.
Ao teu coração quero pertencer,
acreditar que o teu sonho não morreu,
que a paz volta com o amanhecer
e que jamais esqueceremos o nosso amor.
(Alexandra Caracol)
ANGOLA... ANGOLA...
POESIA PARA ANGOLA
SER ANGOLANO É MEU FADO
Ser Angolano é meu fado, é meu castigo.
Branco eu sou e pois já não consigo
Mudar jamais de cor ou condição…
Mas, será que tem cor o coração?
Ser Africano não é questão de cor
É sentimento, vocação, talvez amor
Não é questão nem mesmo de bandeiras
De língua, costumes ou maneiras…
A questão é de dentro, é sentimento
E nas parecenças de outras terras
Longe das disputas e das guerras
Encontro na distância esquecimento.
Neves e Sousa (Pintor e Poeta Angolano)
SIMPLESMENTE DELICIOSO
"Quando te disse
que era da terra selvagem
do vento azul
e das praias morenas...
do arco-íris das mil cores
do sol com fruta madura
e das madrugadas serenas....
das cubatas e musseques
das palmeiras com dendém
das picadas com poeira
da mandioca e fuba também...
das mangas e fruta pinha
do vermelho do café
dos maboques e tamarindos
dos cocos, do ai u'é...
das praças no chão estendidas
com missangas de mil cores
os panos do Congo e os kimonos
os aromas, os odores...
dos chinelos no chão quente
do andar descontraído
da cerveja ao fim de tarde
com o sol adormecido...
dos merenges e do batuque
dos muquixes e dos mupungos
dos embondeiros e das gajajas
da macanha e dos maiungos.
da cana doce e do mamão
da papaia e do caju....
tu sorriste e sussurraste
"Sou da mesma terra que tu!"
Ana Paula Lavado (In " Simplesmente delicioso " do livro " Um beijo sem nome")
A GALINHA D'ANGOLA
Coitada, coitadinha
Da galinha d’Angola
Não anda ultimamente
Regulando da bola
Ela vende confusão
E compra briga
Gosta muito de fofoca
E adora intriga
Fala tanto que parece
que engoliu uma matraca
E vive reclamando
Que está fraca
Tou fraca! Tou fraca!
Tou fraca! Tou fraca! Tou fraca!
Vinicius de Moraes, Toquinho
O BROCHE
BROCHE - ALFINETE DE PEITO
Broche é um acessório (ou joia) decorativo projetado para ser presa ao vestuário. Ela é usualmente feita de metal, frequentemente prata ou ouro, mas em alguns casos, bronze, aço ou algum
outro material. Broches são frequentemente decorados com esmalte vítreo ou com pedras preciosas e podem ser utilizados unicamente como ornamento, ou também ter uma função prática de
segurar ou prender as pontas de um manto, por exemplo.
Muitas vezes são usados a fim de se exercer publicidade e propaganda distribuídos como brindes, esses são relativamente de baixo custo devido a serem fabricados de aço, ferro ou alumínio
e terem apenas plástico e papel na sua "face".
Eram muito usados na Antiguidade entre os romanos e recebiam o nome em latim de fibula.
Fonte de ajuda: Net
PREÂMBULO
Não matem o broche…
O broche está subvalorizado. Não matem o broche. Não façam dele uma coisa insidiosa e percebam que ele é mais do que apenas a vontade de ter um orgasmo.
O broche não é um recurso. Não é alguma coisa a que devamos recorrer quando mais nada funciona ou quando a única parte do corpo que mexe é a imaginação. O broche não merece o desleixo
e o cansaço. E muito menos a complacência dos amantes. Amigo de mão e de boca, o broche é mandado para a conversa como quem se contenta com uma lata de atum sem perceber que ali está o
melhor do caviar iraniano.
E nesta confusão de sabores não há género. Tanto é o gajão macho que se entrega e se torna madraço, como o “grelame” fêmeo que age de forma pouco caprichosa perante a preguiça.
O melhor exemplo que conheço de maus tratos infligidos sobre o broche dá-se em início de dança. Quando a mulher faz notar que ainda é cedo para o sexo, que se conhecem há pouco tempo,
que não, ela não é como as outras, ou qualquer outra ideia sobreposta à evidência… «não me apetece fo… fazer amor, nem me apetece explicar-te porquê», o macho, na sua imensa generosidade,
faz saber que não tem mal, que ele também não é como os outros, ou qualquer outra ideia sobreposta à evidência «posso já não fo… fazer amor, hoje mas um broche terei sempre».
Portanto, um broche é um “second best” em vez de um “second to none”. É o Mourinho do Barcelona, o Goebbels, o adjunto. Em casos extremos, é até o treinador de bancada. O que manifesta
intenção, mas, no fundo, não apita nada.
Matar o broche é também não exigir um mi… Obviamente que caminham juntos, não obrigatoriamente ao mesmo tempo ou de mão dada, mas sempre, sempre pelo mesmo traçado. É simples. Dar e
receber, troca por troca. A quantas de vós, estimadas súbditas, vos foi feito um mi… depois de terem feito um broche? Quantas vezes o vosso orgasmo e o vosso prazer foi substituído pelo
cigarro costumeiro ou pela aniquiladora frase «que bom... Bolas, agora fiquei mesmo cansado...». Tudo isto é matar o broche. Neste caso, é fuzilá-lo por defeito do nosso próprio prazer.
Porque ele as há que lhes tomam raiva e acabam por exterminá-lo por despeito.
E compreende-se.
Fonte de ajuda: Net
PEQUENO CONTO - O BROCHE
Luanda final dos anos sessenta. Corre ao ano de 1969.
Está um lindo dia de sol. Está calor mas não é aquele calor abafado e sufocante, prenunciador de tempestades tropicais. As acácias não tardam a aparecer cobertas de flor, espalhando o
seu perfume pela cidade.
O Tony assustou-se, saiu sangue na expetoração e isso é mau, poderá ser doença pulmonar. Foi ao médico da empresa e este após exame superficial disse que não era nada. Mas um mau
pressentimento não o deixou descansado.
Depois de exames mais rigorosos, foram detetadas lesões nos pulmões. Longos períodos de tratamento esperavam-no. Muito descanso, muitas e muitas consultas e muitos medicamentos, irão
tomar conta da sua vida. Também muitas consequências negativas: A doença em si, as fragilidades físicas, a perca do emprego e sobretudo a derrota psicológica que aos poucos irá minar
a sua mente.
Muitos projetos e anseios do futuro imediato serão adiados por tempo indeterminado. O mundo acaba por desabar sobre a sua cabeça. As esperanças de cura ainda estão numa percentagem
bastante baixa.
O tempo vai passando demasiado devagar, e os progressos são invisíveis, pelo menos aparentemente. Os comprimidos e as injeções intramusculares são mais que muitos. Sente-se intoxicar
dia-a-dia e as nádegas como um crivo. Ora uma ora outra, são todos os dias picadas com injeções. Os progressos de recuperação não se veem.
Um dia veio a primeira hemoptise, a segunda e outras. A morte ronda a vida do Tony. Aos vinte e poucos anos está a perder a esperança de vida. Mas uma forte determinação e vontade de
viver ponha-o muitas vezes a pensar e de vez em quando em voz alta. Essa voz interior diz-lhe: Não se pode morrer com esta idade. Há muita coisa para realizar, mas sem tempo e sem futuro.
Conta apenas o presente. Não há como que fugir disto.
Num outro dia, uma hemorragia mais forte, teimou e consegui romper através da boca, quase o derrubava. Além da perda de sangue, também tinha dificuldades em respirar. A morte esteve
mais próxima. Ficou tão fraco e fragilizado, que teve de ser transportado de urgência ao hospital.
Enquanto os familiares tratam dos trâmites no guichê, o Tony fica à porta olhando para o exterior, focado no verde das acácias da avenida, que ainda não estão floridas. Está nesta
contemplação, quando de repente aquele verde se transforma numa “chuva” como a de uma televisão mal sintonizada e perde os sentidos.
Quando veio a si, sente uma dor forte nos braços. Um enfermeiro de cada lado apertam-no fortemente para o manter de pé. Não é fácil de segurar um corpo morto!
- Larguem-me - disse ele irritado.
Estavam realmente a magoá-lo bastante.
Naquele estado, fica internado.
Para manter o sangue mais ou menos coagulado ou menos líquido nas veias, esteve uma semana, noite e dia com um saco de gelo no peito e pedras de gelo na boca. Foi horrível, ter o peito e
boca congelados durante aqueles dias, pode-se dizer que foi mesmo um martírio. Quando a vontade de viver é mais forte, fazem-se todos os sacrifícios.
Inicialmente ficou numa enfermaria que estava completamente cheia. Tiveram de arranjar uma cama extra.
Os dias corriam tão devagar que pareciam eternidades.
Ao fim daquela semana, as melhoras começaram a aparecer e pouco tempo depois já andava a pé pelos corredores do hospital.
Nessa enfermaria, conhece o Avelino Costa, mais conhecido por AC, que também tinha caído na desgraça daquela doença. Este AC é um poeta e conta lindamente em verso a diferença entre ricos
e pobres, e das migalhas desperdiçadas pelos ricos que alimentavam muitos pobres.
O Tony gosta do que lê e escreve uma prosa elogiando a sua poesia. Ficam amigos e consideram-se irmãos. Aquela amizade fraterna, iria prolongar-se por muitos e muitos anos.
Mais tarde, muitos daqueles doentes, foram transferidos para quartos de duas camas, um andar mais acima.
Uma amizade muito forte estabeleceu-se entre quase todos os internados daquele andar. As amizades na desgraça, conseguem ser sempre ou quase sempre mais fortes que em qualquer outra
circunstância.
Passado algum tempo, ninguém mais naquele piso está acamado. Todo o mundo vai comer ao refeitório, andam pelos corredores e até podem sair de vez em quando para assar um ou dois dias
com a família.
Aquele hospital, chamado de Pavilhão de Infectocontagiosas, tem três pisos:
No primeiro, aquelas doenças mais complicadas, como as hepatites e outras do foro mais contagioso. As visitas falam através de um comunicador.
No segundo piso, pequenas enfermarias, repletas de doentes com tuberculose, alguns em estado crítico.
No terceiro piso, gabinetes e consultórios médicos, refeitório e quartos com duas camas. Neste andar, os doentes são aparentemente pessoas saudáveis, mas por dentro tem os pulmões
minados pelo bacilo de koke.
No extremo deste andar há uma sala de convívio, onde se pode passar o tempo, lendo jornais e revistas ou livros de um pequena biblioteca, e também vários tipos de jogos: cartas, damas,
gamão e outros, além de poderem conversar uns com os outros.
Estas conversas, servem muitas vezes para cada um contar a sua história. Histórias de vida do antes, durante e após doença. Era quase sempre pedido a cada um que contasse como adoeceu
e como veio ali parar. Necessidade de conhecer os erros que não podem dali em diante cometer ou repetir. A vida é feita de ensinamentos e é preciso aprender com os erros. Daí para a
frente, muitos irão com certeza ser diferentes.
Em grupo ou dois a dois, cada um vai contando aos outros ou ao outro a sua história de vida e como chegou ali.
O AC era motorista de longo curso. Fazia milhares de quilómetros, palmilhando quase todo o norte de Angola através de estradas e picadas, em exposição contínua ao sol, ao vento,
à chuva, ao calor e ao frio. Muitas vezes o camião fica enterrado em lamaçais, apanhado naquelas tempestades. Estas situações foram-se sucedendo e o corpo resistindo até onde pode.
Era preciso abrir o vidro para poder respirar. Aquela exposição constante ao calor, vento e frio, acabou por o afetar do lado esquerdo. Um dia uma dor forte daquele lado, levou-o ao
médico e a doença foi detetada. Foi empurrado para aquele hospital.
A sala de convívio vai de lado a lado de toda aquela parte do andar. Umas janelas muito amplas de todos os lados. Umas vistas privilegiadas daquele terceiro piso sobre toda a periferia
do pavilhão. Todos os dias se veem perfeitamente os mortos a chegar do hospital central para a casa mortuária. O Instituto Universitário de Anatomia é ali ao lado. De-quando-em-vez, um
ou outro cadáver, é transportado da casa mortuária para lá. Com toda a certeza para ser estudado pelos universitários do curso de medicina. Tudo isto e muito mais, é observado todos os
dias.
No topo do primeiro piso, é o sector da legião feminina. De longe-a-longe, uma espreitadela. Parecem todas boas, tal é a fome de mulheres que reina por lá.
Naquele dia o Manel morreu num acidente. Os seus familiares dançam e choram a sua morte junto à casa mortuária. O choro e as danças fúnebres estão ao rubro. Ai ué Manelelé ai ué. Pés
descalços no chão, cantam e dançam naquela terra vermelha, cujo pó paira a meia altura. É aquela a sua forma de expressar os sentimentos tristes.
Ao fim de algum tempo, todos naquele piso sabem interpretar análises e assim saberem como está o interior do seu corpo. Quantidade certa de globos vermelhos ou brancos, velocidade de
sedimentação para testar os níveis de infeção e outros.
Todos os hóspedes daquele pavilhão, foram-se tornando cada vez mais frágeis e muito mais sensíveis. Quase todos perderam por afastamento, amigos, namoradas e alguns até familiares. O
medo de serem contagiados afastava-os. A partir de certa altura do tratamento, a doença deixa de ser contagiosa, mas as pessoas não sabem. O afastamento é gradual e vai acontecendo,
ficando reduzidos a um ou outro familiar. Isso dói muito, tornando os portadores dessa doença mais sensíveis e dando para ver quem é realmente amigo. Para muitos este estigma é terrível.
A seleção faz-se.
O Tony, acunhado de “Antoine” por ter a mania dos francesismos, apanhou um resfriado. Pediu um fim-de-semana e foi com um grupo às “meninas” ao Bairro Operário. Este bairro é composto
de casas térrias de madeira. As meninas disponíveis estão à janela com uma boa postura e o melhor sorriso, como mercadoria na montra à espera que a comprem!
O dinheiro tinha de ir contado. Há o perigo de serem roubados se aparecerem os chulos.
Devido à abstinência forçada, um orgasmo não é suficiente e há vontade de continuar.
- O preço é só para uma, se continuares pagas outro tanto – diz a gaja.
- Toca a saltar – acrescenta.
O chão é de terra batida e fria. O pénis ainda está ereto e o resultado… Deitou uns dias depois pus cor-de-rosa por este.
O médico é chato e autoritário, mas o “Antoine” tem de lhe por o problema. Aproveitou a consulta semanal e… receitou-lhe britacil. Ao fim de quinze dias estava bom.
O “TRABUCO”
Figura típica e castiça que lá foi parar.
O andar ou caminhar do Trabuco, é um pouco como que aos empurrões. Segundo ele, teve quando criança, a poliomielite (paralisia infantil), nos dois membros inferiores. Daí aquele andar.
É muito falador e conta histórias incríveis.
Mais à frente ele vai contar algumas destas histórias.
Numa das mesas, o “Trabuco explica as regras que serão aplicadas no campeonato de sueca. Quem perde salta fora.
Após esta explicação, alguém pergunta:
- Como te chamas e como vieste cá parar?
- Sou o Trabuco.
- É mesmo esse o teu nome?
- Não, é uma alcunha, mas por agora chamo-me assim.
- Como vim parar aqui? É uma longa história. Não sei por onde começar!
- Começa pelo princípio, ora bolas!
Então começou a contar a sua história.
Estabeleceu-se de imediato um silêncio em toda a sala, que nem uma brisa que entrava pela janela, desfolhando os jornais em cima das mesas, interrompeu.
- Ora bem, sou natural de cá, Luanda, e a minha família vive na Praia do Bispo. Trabalhava numa clínica. Era o chefe administrativo e também o caixa. Meti-me em altas rodas, acompanhando
gente da classe muito alta: Médicos, engenheiros, advogados e empresários diversos. Frequentávamos locais onde se paga a peso de ouro. A minha pedalada depressa se esgotou, mas eu estava
a gostar daquelas andanças. O dinheiro não colaborava nada, pois acabava rapidamente. Não tive outro remédio senão recorrer aos dinheiros da clínica. E então “moi meme” socorria-se de
umas notas normalmente milonas. Meti a mão na massa, como normalmente se diz. Primeiro esporadicamente, e depois mais amiudadamente. Esta situação arrastou-se por muito tempo.
É só um empréstimo por pouco tempo dizia a mim próprio para me consolar. Mas não, não foi assim. Ao fim de bastante tempo nisto, um buraco de milhares registava-se no caixa. Não tive
hipóteses de o tapar. Deixei andar e passaram-se meses e anos nisto. Até que um dia a empresa foi selecionada pela Fazenda (Finanças) para ser inspecionada por causa do IVA. Azar o meu.
Os fiscais caíram na Clínica e descobriram o buraco.
- O que aconteceu? Perguntaram algumas vozes.
- Quem foi e quem não foi? Era a pergunta que andava no ar na empresa e rapidamente chegaram a mim. Fui apanhado!
Dois médicos eram sócios e donos da clínica. Um deles pegou prontamente no telefone para chamar a polícia.
Parou um pouquinho para respirar, prosseguindo logo a seguir.
- Rolava muito dinheiro, pois faturavam bem e vendiam as amostras gratuitas de medicamentos oferecidas pelos laboratórios. Isto era crime mas eles estavam-se nas tintas. Tentei impedir
que chamassem a polícia, dizendo que sabia a origem de todos os “pós” que caiam naquela empresa. Alegadamente referia-me às amostras gratuitas e não só. Como profissionais da saúde,
nunca quiseram saber das ilegalidades em que andavam metidos e chamaram mesmo as autoridades e eu fui preso.
Apresentei queixa contra eles. Um deles assumiu todas as culpas e foi
impedido durante dois anos de exercer a profissão e ficou com residência fixa. O outro continuou o negócio e a clinica nunca chegou a fechar.
Conclusão, fui parar à choldra. A falta de condições e a minha condição física frágil, provocou-me uma doença pulmonar. É por isso que estou aqui. Estou aqui numas condições especiais,
sob prisão, e ainda não acabei a pena.
- Temos de ir descansar. Depois acabas a tua história, se é que ainda não acabou! – Disse um dos ouvintes.
Um grupo grande de doentes descansa na varanda numas camas de cura. São assim chamadas. Uma espécie de espreguiçadeiras construídas de forma especial para se adaptarem ao corpo das
pessoas.
O Trabuco acredita piamente em espíritos e quer contar mais uma história da sua vida.
- Ora conta lá – Ouviu-se uma voz.
Inicia mais uma das suas histórias.
- De vez em quando falo com o espírito do meu irmão.
- Acreditas em espíritos?
- Claro que acredito, porque eles existem!
Dizia isto com tal convicção, que não lhes restava respeitarem e ouviram as suas histórias.
- O meu irmão morreu com leucemia aos catorze anos. Eu era muito apegado a ele e senti muito a sua morte. Ainda hoje sinto a sua falta. Quando estou preocupado, preciso de alguém para
partilhar essa preocupação. É quase sempre com o seu espírito que partilho esses momentos. Aparece sempre para me ajudar.
Pequena pausa e...
- Há uns tempos atrás, convivi forçadamente com um fulano, que por sinal já morreu, de quem não gostava mesmo nada, nem ele de mim. O seu espírito de vez em quando persegue-me para me
azucrinar a existência. O que me vale, é que o espírito do meu irmão aparece sempre em minha defesa.
- Não gozem que isto é verdade!
- Ok, Ok, continua.
- Não consigo esquecer a morte dele. Estava a conversar comigo quando se ficou. Para mim foi um choque. Aquela imagem não me larga o tempo todo.
- Por agora não me apetece falar mais deste assunto. Vou descansar um pouco na cama.
E foi-se embora.
O quarto do Zé Policia é paredes meias com o do AC. Em alguns períodos junta-se lá um grupinho a conversar. Fala-se de tudo e de nada.
Ficou a saber-se, que este policia veio para a Angola numa comissão de serviço.
Sabe-se lá porquê, foi apanhado por aquela doença. Esta entrava sem pedir licença, e arruinava a vida de muita gente.
Tinha deixado a mulher e dois filhos na metrópole. Não teve coragem até ali para lhes contar que estava doente.
Para muitos era um drama assumirem perante outros que tinha contraído aquela doença. Alguns viam os amigos, as namoradas e até familiares afastarem-se.
Para muitos deles, era um estigma ser tuberculoso.
No curriculum futuro da maioria, não iria constar este passado. Muitas portas fechavam-se pelo facto de transportar ou ter sido apanhado por esta maleita.
Uma noite já para lá das vinte e quatro horas, foram todos acordados com gritos vindos do fundo do corredor.
Doentes e enfermeiro apareceram para ver o que se passava. À porta do último quarto ao fundo do corredor, o Trabuco estava caído no chão com um canivete na mão, e no quarto o Daniel,
único ocupante naquela altura, estava sentado na cama, muito assustado.
- O que é que se passou? - Perguntou o enfermeiro.
Nem um nem outro souberam contar ao certo. Estavam os dois bastante assustados e muito confusos.
Mais tarde, alguém encarregar-se-ia de perguntar ao Trabuco, como foi parar aquele sítio, atravessando aquela hora da noite quase todo o corredor!
Voltaram todos para as suas camas para passar o resto da noite. Pela manhã andava muita curiosidade no ar para saber o que se passou.
Aparentemente aqueles doentes eram pessoas saudáveis, só que por dentro estavam minados, mas isso não se via a olho nu. A cura seria sempre uma questão de longo prazo, deixando marcas
psicológicas em cada um. Não adiantava ser impaciente.
Quando apanharam o Trabuco a jeito, apertaram com ele para que contasse o que se tinha passado naquela noite.
Respirou fundo e muito devagar começou a contar:
- Eu acho que sou sonâmbulo. O espírito do meu inimigo, aproveitou-se e foi ao meu quarto provocar-me para apunhalar o Daniel no último quarto ao fundo do corredor. Praticamente
arrastou-me até lá. Fui à gaveta, peguei no canivete que uso para descascar a fruta e lá fui pelo corredor adiante atrás dele. Quando à porta do quarto me preparava para entrar e
executar a tarefa, apareceu por trás o espírito do meu irmão, empurrando-me provocando a minha queda, e assim não levar por diante os desígnios do espírito mau. Mais uma vez apareceu
para me ajudar. Ao cair gritei, assustando o Daniel e acordando toda a gente. Foi isto que se passou.
Alguns risos mal disfarçados, irritaram-no, pois para ele, aquela é a verdade das verdades.
Há que respeitar as suas crenças!
Num determinado dia, aquele pavilhão foi invadido por estagiários do curso de enfermagem. Aqueles doentes foram as suas cobaias. Todos o fizeram do bom gosto e nasceram ali algumas amizades com os futuros enfermeiros ou enfermeiras.
Os dias continuavam a deslizar de uma forma demasiado lenta. Os minutos pareciam horas e as horas pareceriam dias!
Deram por falta do Trabuco, mas pensou-se que teria ido a alguma consulta externa. Esporadicamente acontecia com alguns.
Apareceu um pouco tarde e não houve tempo para conversas. Teria de ficar para o dia seguinte.
Logo pela manhã e depois da ronda do enfermeiro para dar os medicamentos e aplicar as injeções, assim como depois de todos terem tomado o pequeno-almoço, juntaram-se na sala de convívio
para aí interrogar o Trabuco.
Tirando estes delírios, pouco mais havia para fazer.
Quando se proporcionou, choveram perguntas.
- Então, vais ou não contar onde foste ontem?
- Calma, já vos conto. Disse isto com um sorriso mal disfarçado.
E começou devagar muito pausadamente medindo as palavras:
- Como se aperceberam, ontem esteve um lindo dia de sol. Apeteceu-me um pouco de liberdade. Dei um pequeno passeio à baixa. Não fui a pé. Além do calor, é um esticão. Saí sorrateiramente.
Na situação em que me encontro aqui, não adiantava pedir. Se tivesse de o fazer, inibia-me a vontade e seria com toda a certeza, um não. Com alguns trocos no bolso, fui para a paragem e
apanhei o maximbumbo para a Mutamba. Estava cheio, apenas um lugar livre mais ou menos a meio. Uma senhora de meia-idade iria ser a minha companheira de banco naquela pequena viagem.
Deixou-me o lugar junto à janela.
Luanda está linda! As acácias em flor dão uma beleza impar a esta cidade. Os meus olhos enxergaram tudo por onde passava. Sentia-me bem com a liberdade que desfrutava. Rapidamente
chegamos à Mutamba e todo o mundo começou a sair. Quando me preparava para sair também, aquela senhora de meia-idade pôs-me a mão no ombro e não me deixou levantar, gritando bem alto:
- Ladrão, ladrão, dizendo isto virada para mim! E continuou:
- Roubou-me o broche de diamantes que trazia aqui no peito que me custou trinta contos!
- A senhora está enganada, não roubei nada – repliquei.
- Chamem a polícia, chamem a polícia – gritava muito alto.
- Fiquei deveras assustado. Queria tudo menos a polícia. Estou aqui sob prisão, saí sem autorização. Imaginem a minha situação e como fiquei preocupado!
- O que é que fizeste? - Perguntou alguém.
- Bem, a polícia apareceu. A senhora dizia que a roubei e eu dizia que não. Não saiamos disto. Fomos os dois parar à esquadra. Ela a afirmar e eu a negar, e o tempo ia passando. Até que
a certa altura o polícia perguntou à senhora:
- Não o teria deixado em casa?
- Não, eu trazia o broche no peito - replicava a senhora.
- Não quer ligar para casa para saber se está lá - sugeriu o polícia.
Com alguma relutância lá ligou.
- Está Maria, vê no guarda-joias que está no meu quarto, se está lá o meu broche de diamantes - disse ela ao bocal do telefone e passados uns segundos, a voz do outro lado da linha disse
que sim, estava, pelos gestos de cabaça que a fulana fazia.
- A senhora desfez-se em desculpas e eu só queria sair dali antes que o polícia me identificasse. Se sou apanhado estou tramado.
Resolvido o problema, mandou-nos embora. Já fora da esquadra, a senhora continuou a pedir-me encarecidamente que a desculpasse e para me compensar pelo incómodo puxou duma nota de vinte
paus.
- Minha senhora, por amor de Deus! Pensando que achei pouco, sacou uma de cinquenta escudos. Fiz uma careta e pensei: Esta pensa que compra a minha dignidade com uma nota de cinquenta!
Como hesitei, acenou com uma milona (Mil escudos). Eu estava teso e aquela nota fazia-me um jeitão do caraças. Por breves instantes pensei onde iria com aquela milona. Passaria no
Baleizão e pedia uma daquelas cassatas de gelado de vários sabores e regalava-me. Ou então no Amazonas que até é perto da esquadra, e comia uns camarões médios com muito gindungo e
bebia uns canhangulos ou umas cucas geladinhas. Também pensei na Biker e na Portugália. Aí comia umas tapas de carnes variadas e matava a sede com uns finecos de Nocal ou Eka. Mas
também podia ser uma daquelas sanduiches espetaculares no Polo Norte e um sumo multisabores num copo gigante.
Tive de voltar rapidamente à realidade. Aquela nota estava ali bem à frente dos meus olhos a provocar-me uma tentação enorme! Nesses instantes fiquei naquela de pego na nota ou não
pego? Mas antes que ela se arrependesse, fiz um gesto brusco para lha sacar da mão. Só que o gesto foi tão brusco que bati com a mão com alguma violência na mesinha de cabeceira e
acordei!
- Vai-te lixar. Era um sonho. Que tanga que nos deste a todos! - Diziam um grupo de vozes. De qualquer maneira foi uma história fantástica.
Obrigado.
Risos e mais risos
IR AO MAR E VOLTAR
A IDA
Luanda num dia qualquer de 1976. São sete horas da manhã. O Toyota, conduzido pelo Figas na companhia do Pulga, acaba de parar à porta do Murta, para todos irem à pesca. O Alface é
apanhado no caminho.
O dia está lindo e promete e o carro já está em movimento. O depósito do gasóleo para o barco e os remos estão na mala.
Na zona da Praia do Bispo, entra o Alface e aí mesmo a equipa fica completa.
Os quatro amigos lá foram para mais um fim-de-semana de pescaria como tantos outros.
Passaram a Corimba e lá estava o cais construído em madeira para as partidas e chegadas do Kapussoca e do Kitoko, que estavam momentaneamente ou não desativados, barcos de transporte
de pessoas de e para a Ilha do Mussulo. O Hotel Costa do Sol está todo imponente no ponto mais alto. Logo a seguir a Quinta Rosa Linda. Ao passar neste lindo espaço, afloraram nas mentes
dos quatro amigos, boas recordações do não muito distante casamento de um amigo comum ali realizado.
Logo a seguir, menos de um quilómetro, o Futungo de Belas e o Clube de Pesca onde estava o barco guardado.
Naquele dia foram cedo para poderem “comprar” uma âncora algures num daqueles muitos barcos ali guardados. Na última pescaria, a mesma ficou preza nas pedras a cem metros de profundidade.
Foram forçados a cortar a corda e abandoná-la no fundo daquele mar.
Esse dia foi demasiado preenchido e carregado de aventuras mais que qualquer dos anteriores e com a adrenalina elevada à sua potência máxima.
“Comprada” que estava a âncora, os quatro amigos dirigiram-se para o local onde estava o seu barco tipo chata com motor de popa. Recolheram as rodinhas para em cima das mesmas o barco
rolar na rampa a caminho da água.
Nos primeiros metros, são apenas utilizados os remos, pois a hélice continua levantada. Esta só é colocada na água, quando houver profundidade suficiente, e assim não correrem o risco
de bater no fundo arenoso.
O barco tem uma pequena cabine para guardar os diversos utensílios. Um banco à frente e outro atrás, onde se sentam para a respetiva pesca. Dois a bombordo e dois a estibordo. O motor
já ronca e o barco desliza nas águas com destino à contracosta do Mussulo.
Enquanto desliza naquela superfície líquida, o Alface como de costume, pega na sua cana de corrico, coloca a amostra no anzol e lança a linha à água. A amostra meche e faz um certo
ruida nas águas, atraindo no seu encalço, vários tipos de peixes de superfície. O mais atrevido e que por isso mais vezes é apanhado, é o sarrajão, peixe-serra graúdo da família do
atum.
Nas idas e vindas para os locais escolhidos naquele mar para as pescarias, são pescados desta maneira, principalmente vários sarrajões. A sua carne tal como o atum é escura. Os seus
filetes dão bifinhos fritos de cebolada. Uma delícia!
Nessa como em outras idas, não fugiu ao habitual, foram pescados alguns. No final eram repartidos pelos quatro amigos.
NO MAR DO MUSSULO
Já muito longe da contracosta do Mussulo, são afinadas as coordenadas para o local certo. A sorte por vezes ditava a descoberta à primeira das pedras nas profundidades, entre cem e cento
e cinquenta metros, condição única para se encontrar peixe graúdo de profundidade: Garoupas, corvinas, pargos e cachuchos. Principalmente estes. Nunca menos que um quilo e meio a dois
quilos cada peixe.
As garoupas e as corvinas como outros peixes de profundidade, por vezes soltavam-se ao chegarem à tona. Das suas bocas saía uma espécie de balão devido à descompressão. Não tinham forças
para voltar ao fundo e morriam no balançar das ondas. Quase nunca era possível apanhá-los, pois afastavam-se do barco com o movimento das águas. De-quando-em-vez, pescavam peixe-espada
branco. Este peixe estava adaptado a viver tanto nas profundidades como na superfície. Todos já sabiam de que peixe se tratava mesmo antes de chegar ao cimo. Por vezes tinham a sensação
de que o perdiam, pois subia e descia. Só quando esticavam o fio é que davam conta que ainda lá estava. Ao chegar ao barco e antes de o meterem neste, matavam-no com pancadas na cabeça
com uma moca de madeira, da qual estavam providos. Chegava com a boca aberta carregada de dentes afiados prontinhos a morder. Uma mordidela daquelas era demasiado perigosa.
Lançada a âncora para estabilizar o barco, cada um atirava borda fora os seus cinco ou seis anzóis em cada fio de nylon de 3mm, com certo cuidado para não ensarilhar. Os anzóis eram
grandes e os filetes de sardinha que serviam de isco também. A sardinha de Angola era grande e com muitas espinhas. Raramente era utilizada na alimentação. Era matéria-prima das fábricas
de farinha de peixe. Esta farinha era depois usada no fabrico de diversas rações.
O mordiscar de peixe miúdo, não era para levar em conta. Só os esticões fortes. Logo que um destes se sentisse, era puxar sem descanso e sem dar tréguas para não se soltar. Por vezes os
dedos ensanguentavam e apresentavam cortes devido ao deslizar do nylon.
O chumbo que levaria a linha com os anzóis ao fundo, pesava entre um quilo e um quilo e duzentos gramas. Tinha de ser assim, pois as correntes profundas arrastavam-nos para longe.
Nessa manhã ao atravessarem o Futungo de Belas, os quatro amigos não deixaram de reparar nas lindas vivendas, a maioria com piscina no jardim. Quem vivia ali, era gente abastada. O que
se via transpirava a luxo. O clube está situado na extremidade norte deste luxuoso bairro. O barco balançava nas ondas e os amigos fizeram uma pausa para petiscar e beber. Comentavam
entre si de quem seriam aquelas vivendas.
O Alface e o Murta com fome enjoavam. Por isso quando iam para as pescarias, levam comida e bebida. O Murta comida numas embalagens de plástico e o Alface cucas em gelo numa geleirinha
portátil. Assim, quando o enjoo vinha, sinal da fome, faziam a dita pausa para comer e beber deixando os anzóis no fundo. Normalmente o Figas e o Pulga só queriam uma cervejinha. Quando
puxavam as linhas, apenas vinham cabeças, sinal que tinha peixes que foram entretanto comidos por outros.
Estes amigos como muitos outros que se dedicavam à pesca, não o faziam apenas por desporto ou distração, faziam também por necessidade. A luta entre os movimentos de libertação continuava
e a falta de bens fazia-se sentir muito duramente.
Em outro fim-de-semana qualquer, os quatro amigos tiveram sorte. Encontraram o sítio certo, pedras nas profundezas. Perderam a âncora mas pescaram muitas garoupas. O Figas pescou a maior
com quatro quilos e meio. Mais parecia um cherne! Convidou os restantes companheiros para no dia seguinte, domingo, irem a sua casa comê-la assada no forno. Não havia batata nem se sabia
ao certo quando chegaria o barco com este tubérculo. Usou batata-doce. Todos foram unânimes. Estava uma delícia. Aquele peixe com a pele escura e a carne branquinha, era delicioso.
No fim-de-semana anterior a este, os quatro amigos lá foram mar adentro como de costume. Enquanto se aproximavam do local escolhido de acordo com as coordenadas, os três que não faziam a
condução, preparavam os filetes de sardinha para servirem de isco, lançando a restante carcaça ensanguentada à água. O cheiro a sangue atraiu alguns tubarões. Rondaram o barco pela
frente, lado, trás e por baixo. O receio apoderou-se dos pescadores de fim-de-semana, mas rapidamente foi vencido pela adrenalina e espírito de aventura. Um dos tubarões distinguia-se
dos outros. Enorme, lombo azulado, rondava o barco nadando com certa personalidade e elegância. A barbatana escura que era o seu leme, saía para fora da água. O Alface apoderou-se do
arpão maior e tentou espetá-lo no tubarão. Foi impedido a tempo pelos companheiros. Nunca se sabe o poderia acontecer. Mas o bichinho a aventura ficou a morder nas suas cabecinhas.
O Murta ficou encarregado de durante essa semana, ir ao Pão de Açúcar, comprar um anzol gigante. Este veio com uma corrente de dois metros também em aço. Pesava cerca de quatro quilos.
Lá estava ele na pequena cabine, juntamente com outros apetrechos à espera de ser estreado. Mas agora faltavam os tubarões. É preciso atraí-los.
Nas calmas preparavam-se para lançar os anzóis a cem metros de profundidade, quando apareceu um pequeno cardume de peixe-gato. O peixe-gato atrai o dourado. Os amigos sabiam isto. Há
que preparar os cabos de aço. Os dourados devem estar a aparecer. O dourado grande, mede cerca de um metro e meio, dá muita luta e é considerado um bom peixe para pesca desportiva,
precisamente pela luta que dá.
Anzóis nos cabos de aço de meio metro à espera. Não esperaram muito. Apareceram quase de imediato. Não podiam dar mais que o comprimento dos cabos, caso contrário nunca mais os
segurariam, e puxados de imediato para o barco. Apanharam quatro, um para cada amigo. Nesse fim-de-semana os congeladores das geleiras das suas casas, ficaram cheios de filetes deste
peixe.
No final destas lutas com os dourados, apareceu o tubarão conhecido deles, o maior. Finalmente ia ser estreado o anzol gigante. Espetaram neste uma sardinha inteira a sangrar. A
corrente tinha sido previamente presa à corda da âncora que media cem metros. Atiraram várias vezes a sardinha para a frente do tubarão, mas este não havia meio de morder o isco. Tinham
a informação que peixe ferido não vai para o fundo. Estavam preparados, para no caso de morder o anzol, arrastasse o barco até lhe faltarem as forças. Isto não aconteceu, porque
afastou-se sem morder o isco. No fundo no fundo suspiraram de alívio, pois era imprevisível o que pudesse acontecer e podia correr mal.
Estas aventuras intensas, deixaram os amigos muito cansados.
Aproximaram-se da contracosta do Mussulo. Deixaram o barco a pouca distância da praia. Prenderam a âncora enterrada na areia para o manter no local e deitaram-se a descansar. Adormeceram
todos. Enquanto dormiam aconteceu a baixa-mar. O barco estava assente na areia a mais de dois metros da água. Que chatice ia ser um problema para o voltar a pôr no mar.
Foi uma trabalheira. Aos poucos lá o foram arrastando até à água. Aí chegado foi a trabalheira maior. As ondas estavam ligeiramente alterosas e sempre que uma se aproximava, eram
obrigados a afastar-se para não serem arremessados contra as tábuas da embarcação. Esta luta durou três horas. Quando finalmente conseguiram, resolveram voltar ao clube rapidamente,
pois o mar estava agitado com muita calema. Era preciso regressar a tempo de guardar o barco no clube pois este tinha horas de encerrar.
Num daqueles fins-de-semana, que correu mal a pescaria, resolveram conduzir o barco até um dos pontos distantes da ilha, para uma zona pouco profunda, perto do Morro dos Veados. Aí,
levantaram o motor de popa e conduziram-no apenas com os remos. Avistaram muitas barracudas (pescada gigante), mas não conseguiram pescar nenhuma apesar dos esforços. Aquele dia foi
mesmo para esquecer. Há dias assim, azarentos. A calema começou a aumentar tornando-se incomodativa. Deram meia volta e foram para o clube. Não adiantava insistir.
O REGRESSO
O dia para os quatro amigos não iria terminar sem mais um tremendo susto. A meio caminho entre a ilha e a costa da Corimba quando regressavam, um deles olhou para trás e alertou os
companheiros para a onda gigantesca que se aproximava deles. O Figas pôs a aceleração no máximo, mas mesmo assim, a onda aproximava-se perigosamente. Na presença daquela onda, o barco
parecia uma coisa minúscula, uma casquinha de noz. Estavam preparados para saltar para a água, caso se aproximasse demasiado, para não serem atirados contra as tábuas. A ansiedade era
intensa e o coração batia fortemente no peito de cada um. O motor sentia-se impotente para arrastar aquela casquinha a mais velocidade. Quando pensaram que o choque com aquele monstro
que o perseguia seria inevitável, afastou-se ligeiramente, e rebentou a menos de dez metros do barco. Um grande suspiro de alívio soltou-se daquelas quatro bocas.
Já no carro do Figas quando regressavam às suas casas, foram rodeados por uma manifestação de apoio ao Nito Alves. Pensaram que iam morrer. Mas não, deixaram-nos ir embora. Apanharam
um susto!
Mais dois fins-de-semana e pronto. Acabaram-se as pescarias, pelo menos durante algum tempo. Uma daquelas vivendas do Futungo de Belas foi adotada para residência particular do
Presidente Agostinho Neto. Foi estabelecido um perímetro de segurança à volta do bairro e o acesso ao clube e ao barco ficou interdito por tempo indeterminado.
A luta entre os movimentos não tinha ainda terminado e a falta de bens essenciais continuava, principalmente alimentos. As bichas para tudo e para nada formavam-se espontaneamente.
Estava difícil aguentar a situação.
Perto do final de 1976, o Alface comprou numa agência uma passagem e dias depois partiu num 707 da TAP e chegou a Lisboa. Bastante tempo depois foi visto num dos muitos hotéis da zona
de Albufeira como guia turístico. Perdeu-se de vista no meio de muitos turistas estrangeiros.
Em meados de 1977 foi a vez do Murta. Farto do pensamento a matraquear-lhe a cabeça para partir, viajou num Boing 747 desembarcou em Lisboa nos voos internacionais e carregadinho de
malas e sacos transitou para os voos domésticos com destino ao Porto. Passado muito tempo, alguém o viu hospedado numa casa de turismo rural nos arredores de Alfândega da Fé em
Trás-os-Montes. Tinha negócios em Espanha e atravessou várias vezes a fronteira de Quintanilha perto de Bragança. Parece que tinha uma residência algures em Espanha não muito longe
da fronteira. Desapareceu da vista naquele vai e vem de Portugal Espanha e Espanha Portugal.
Já perto do final desse mesmo ano, o Figas na companhia da sua mulher e filha, passou no aeroporto de Lisboa em trânsito para os Estados Unidos da América. Arranjou um contrato de
trabalho em S. José da Califórnia. Por lá ficou em terras do Tio Sam.
Por fim o Pulga. O Pulga gostava dumas cervejinhas. Não quis afastar-se dos seus fornecedores habituais de bebida. Praticamente todos os dias depois das dezoito horas, era vê-lo na
esplanada do Amazonas, só ou acompanhado a beber uns finos e a comer os respetivos aperitivos: Ginguba, tremoços, camarõezinhos e dobrada. Saboreava cada fino com aquela sabedoria de
quem sabe beber. Ao fim de dez ou quinze finos e outros tantos pires de aperitivos, suspirava e dizia: Estou jantado. Ia para casa que não era longe dali. No dia seguinte sensivelmente
à mesma hora repetia a dose. Resolveu ficar, passando a ser mais um cidadão da novel República de Angola.
ANGOLA SELVAGEM
UM PARAÍSO EM RECURSOS NATURAIS
Angola é um país riquíssimo em belezas naturais que proporcionam paisagens de cortar a respiração, com espetaculares formações rochosas, quedas de Água, praias, lagoas e imensos
rios.
Com capital na cidade de Luanda, Angola localiza-se na costa Sudoeste do continente Africano, fazendo fronteira a norte e a nordeste com o Congo, a leste com a Zâmbia e a sul com a
Namíbia, por fim a Oeste é banhada pelo oceano atlântico.
Com cerca de 12 milhões de habitantes praticamente distribuídos principalmente na orla costeira e na região de Huambo, Angola possui uma grande variedade de etnias que permitem que
este país possua uma grande diversidade cultural.
A língua oficial é o Português, no entanto existem cerca de 42 línguas, sendo que as mais faladas resumem-se a três, o Quimbundo, O Quicongo e o Umbundo.
Toda esta riqueza cultural consequentemente manifesta-se nas mais diversas áreas, desde a música, a pintura, a dança, a escultura em madeira, e inevitavelmente a gastronomia.
Com um clima apenas definido por duas estações, designadas localmente pela estação da chuva e pela estação de Cacimbo (Agosto).
Este país é um destino muito apetecido por turistas de todo o mundo que procuram viver novas experiências admirando as belezas da África plenamente expressas neste extenso país tropical,
banhado pelo Oceano Atlântico.
As vastas florestas tropicais, rios, lagos, lindíssimas quedas de água, montanhas, formações rochosas únicas, grutas, cavernas, desertos e praias belíssimas.
O território angolano atrai muitos turistas também pela riqueza da sua vastíssima fauna que inclui toda a espécie de animais, desde elefantes, leões, Antílopes, zebras, gazelas,
rinocerontes, girafas, avestruzes, macacos, gorilas e muitos mais.
Resumindo e concluindo, Angola não tem sete mas muito mais maravilhas da natureza.
Angola está a implementar uma política de preservação ambiental e de sustentabilidade. Em conformidade com esta política, vai eleger as suas maravilhas da natureza, colocando-se na
linha da frente no continente africano. Aliás, já foram divulgadas em 2013 as vinte e sete a concurso, entre praias, grandes relevos, grutas, falésias, quedas de água, rios, lagoas
e áreas protegidas. Serão eleitas as sete maravilhas.
SELVAGEM, FASCINANTE, MISTERIOSA, ESPETACULAR!
LOANDA - LUANDA
LUANDA DE TODOS OS TEMPOS
Luanda, antigamente Loanda, é a maior cidade de Angola e a sua capital. Está situada na costa do Oceano Atlântico. É o principal porto marítimo e centro económico do país.
Foi fundada em 25 de Janeiro de 1576 pelo fidalgo e explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de São Paulo da Assunção de Loanda.
Tem uma população entre 7.5 e 8.5 milhões de habitantes. É a terceira mais populosa cidade lusófona do mundo, à sua frente estão apenas São Paulo e Rio de Janeiro, no Brasil — é,
efetivamente, a mais populosa capital lusófona do mundo, à frente das demais, incluindo Maputo, Brasília e Lisboa.
Luanda tem diversas indústrias: De transformação de produtos agrícolas, produção de bebidas, têxteis, cimento, recentemente fábricas de montagem de carros, materiais de construção,
plásticos, metalurgia, cigarros e sapatos. Descoberto recentemente petróleo nas imediações, este é refinado na cidade. A refinaria foi várias vezes danificada durante a guerra civil
que assolou o país entre os anos de 1975 e 2002. Luanda possui um excelente porto natural, sendo as principais exportações o café, algodão, açúcar, diamantes, ferro, sal, cobre, ouro,
trigo e milho.
Os habitantes de Luanda são, na sua maioria, membros de grupos étnicos, e o dialeto falado é o quimbundo. Existe uma população de origem europeia, constituída principalmente por
portugueses estimados em 414.243 pessoas e uma importante comunidade chinesa estimada em 67.000. A língua oficial e a mais falada é o português, sendo também faladas várias línguas
ou dialetos. Luanda foi a principal cidade a acolher os jogos do Campeonato Africano das Nações 2010.
ETIMOLOGIA
A cidade adquire o nome através da sua ilha (Ilha de Luanda). Foi nesta ilha onde os primeiros colonos portugueses se radicaram. O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu. O prefixo
lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantu, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e, neste
caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. Ndandu significa valor ou objeto de comércio e alude à exploração dos pequenos búzios colhidos na ilha de Luanda e que constituíam a moeda
corrente no antigo Reino do Kongo e em grande parte da costa ocidental africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.
Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam o significado do vocábulo, de
Lu-ndandu passou-se a Lu-andu. O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que se referia a uma ilha, e resultou em Luanda.
Outra das versões para a origem do nome refere que o mesmo deriva de "Axiluandas" (homens do mar), nome dado pelos portugueses aos habitantes da Ilha, porque quando aí chegaram
perguntavam o que estavam a fazer, estes responderam "uwanda", um vocábulo que em kikongo, designava trabalhar com redes de pesca.
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OUTROS ECOS
Por: Mattusstyle em 12.12.2021 às 18:35
TOURS - FRANÇA
VIAGEM
Em 1997 mais ano menos ano aconteceu uma situação inesperada. Por esta razão, fomos convidados a passar uns dias em França a convite de um familiar lá residente. Apenas quatro ou cinco
dias. Tours é o destino.
Aproveitaremos para conhecer aquelas paragens. Tudo pronto lá fomos.
Um 707 da TAP transportou-nos de Pedras Rubras até Orly. Nenhum de nós tinha estado em França. Foram experiências novas. Do avião saímos através duma extensa manga direitinhos ao sector
das valises. Em Portugal dizem malas.
O dito familiar e um amigo esperavam para nos levarem de Paris a Tours, cerca de duzentos quilómetros. A noite já ia alta quando iniciamos a marcha. Chegamos a Tours de madrugada.
Aproximava-se o final de Dezembro. A temperatura estava muito baixa, graus negativos.
A casa estava situada na zona histórica da cidade. Esta e muitas outras eram construídas com pedra calcária. Não tinha grandes condições, mas tinha aquecimento fornecido por um fogão a
lenha, aceso noite e dia.
ESTADA
Tirando o primeiro dia, nunca comemos uma refeição digna desse nome. Petiscamos. Baguetes de pão, fiambre, queijo, camarão, patés, saladas compradas feitas e ostras foram a nossa dieta
para aqueles dias. Bebia-se vinho, panachés, colas e água.
Num determinado dia, levou-nos às compras ao Auchan. Tal como o Alcampo em Espanha e o Jumbo em Portugal, não fizessem eles parte do mesmo grupo! Tiramos umas fotos no parque e nada mais
se passou que mereça realce.
Tiramos mais algumas fotos num jardim da cidade. O nosso filhote tinha sete aninhos na altura destes acontecimentos.
Numa daquelas manhãs acordamos todos bastante cedo. O familiar precisava de ir algures a uma quinta naquele Vale-du-Loire, comprar vinho. Deixou-nos no Continent nos arredores da cidade
e lá foi à vida dele. Só viria ao fim da tarde. Entregou-nos alguns francos para comermos por lá. No pequeno centro comercial `entrada do hipermercado, havia apenas duas casas de comidas,
o Flunch self-service e o Mac. Numa olhadela aos tabuleiros das pessoas que saíam do Flunch, não gostamos do especto das comidas, pois eram muito esquisitas. Não tivemos remédio senão
comer hambúrgueres. Demos uma voltinha no híper e reparamos que nos topos das prateleiras estavam expostos produtos de vários países. Num desses topos lá estavam artigos típicos
portugueses.
O velhote (familiar) cultivava uma horta biológica na periferia daquela cidade. Chamavam àquelas hortas jardins. As pequenas casinhas onde guardavam as alfaias, eram todas iguais quanto
à construção mas pintadas de diferentes cores. Vistas à distância, era um aglomerado multicolorido muito bonito!
Ainda na periferia numa outra direção, havia um grande lago que era ponto de passagem de muitas espécies de aves migratórias, mas principalmente variedades diversas de patos.
Num dos centros da cidade, talvez o mais bonito, há um carrocel estilo antigo, até parece um brinquedo saído do baú guardado no sotam de qualquer família, mas em ponto grande. Muito giro!
Como não podia deixar de ser, o FM deu uma voltinha.
Passamos na Michelin naquelas redondezas, onde noutros tempos o velhote trabalhou. Só vimos de fora.
Em algumas horas daqueles dias, era uma autêntica pasmaceira! Por esta razão resolvemos uma certa noite dar uma voltinha a pé. Percorremos algumas ruas, passamos junto à Gare e entramos
num centro comercial. Espreitamos as lojas de pronto a vestir normais e de alta-costura. Olhamos as montras das perfumarias, os ditos perfumes de Paris, mas estes eram caros como a mer…,
mais que em Portugal. Nível de vida!...
Fomos a um Mac comer. Ensaiei o meu melhor francês para nada. A menina que nos atendeu era inglesa e o francês dela era pior que o meu. Como a colega do lado era francesa, veio em socorro
e entendemo-nos.
No regresso ao ninho perdemo-nos. Demorou um pouco a encontrar a casa mas conseguimos.
RICHELIEU
Dois senhores franceses amigos e conhecidos do velhote, o Maurice e o François (homossexuais), juntaram os trapinhos. Um gerente de hotel reformado. O outro chefe de finanças também
reformado, deixaram o bulício das grandes cidades e foram viver para Richelieu, pequena cidade a mais ou menos setenta quilómetros de Tours. Eram muito porreiros. Fomos convidados para
lá ir almoçar.
Um dia de manhã entramos todos no mercedes e iniciamos a viagem para lá. Quintas e mais quintas no percurso numa planície de alguns quilómetros.
Richelieu foi mandada construir pelo Cardeal com o mesmo nome, para os seus apaniguados. Em algumas ruas, muitas daquelas casas estavam em ruinas. Muitas delas foram compradas e
recuperadas. A casa do Maurice era uma delas. Recuperou-a e ficou muito bonita. Algumas delas, senão muitas, não tinham janelas viradas para a rua. Um portão de acesso a um jardim e à
garagem. As portas e janelas estavam viradas para esse jardim.
Quando finalmente, achamos que iriamos comer uma refeição decente, isso não aconteceu. Balde! Anunciaram o prato de peixe. Era uma empadinha de creme de peixe. A seguir um bocadinho de
cabrito pouco com uma salada que mais pareciam folhas de oliveira, intragáveis. Que fominha!
O François estava a reconstruir uma outra casa mais à frente. Fomos ver. Eram lindas aquelas casas!
O Maurice era um devoto ferrenho de Nossa Senhora de Fátima. Tinha muitos vídeos sobre este assunto. Na sala tinha um lindo piano antigo de cauda. Tocava umas coisas. O FM tentou tirar
umas notas mas não saiu nada. O Mourice pensou que ele gastava de tocar e ofereceu-lhe um pequenino órgão.
A meio da tarde regressamos e deixamos os amantes entregues um ao outro. Que riquinhos!
CHATEAU DE CHENONCEAU
A seguir fomos visitar um castelo “Chateau de Chenonceau”, a cerca de uma hora de Tours indo de comboio. No Vale-du-Loire, está a maior concentração por metro quadrado de castelos deste
género.
Este castelo é muito bonito e elegante. Toda a sua arquitetura é espetacular. Todo ele vai de margem a margem do rio Cher. Por dentro é um mundo. É tudo em grande. Um das lareiras tinha
três metros de largura por um de fundo. Os jardins lindíssimos e bem tratados. Vários ramais do rio Cher rodeavam o castelo como que uma primeira resistência aos invasores. Várias aves
migratórias faziam ali pausa. Uma pequena floresta faz parte daquele conjunto. Ao lado mas no mesmo recinto, um museu de cera, que por falta de tempo e eram caras as entradas, não
visitamos.
REGRESSO
No dia marcado, levaram-nos a Paris para apanhar o avião de regresso.
Passamos por Bloi, na zona de Le Mains e andamos na circular de Paris. Não se sentiram à vontade para conduzir no centro da cidade. Por isso tivemos de nos contentar a ver de longe a
Torre Eiffel. Do mesmo modo os Champs Elysées, o Arco do Triunfo e outros pontos importantes. De Paris pouco vimos ou nada!
Seguimos para Orly. Andamos num comboio sem condutor para nos deslocarmos dum ponto ao outro do aeroporto. Já na sala de embarque, procurei sem sucesso nas free-shops um vinho muito
bom que bebi na casa da madame senhoria do velhote.
O regresso foi atribulado. Houve muita trepidação devido a vários poços de ar na rota. Compramos tabaco perfumes e pequenas lembranças no avião. Sempre é mais barato!
Chegamos sãos e salvos a Pedras Rubras. Estavam familiares à espera para nos transportar a Guimarães. E assim chegou ao fim a nossa aventura francesa.
EXPO'98 DE LISBOA
ECOS DA EXPO'98
RESUMO
Em 1998, um evento mundial aconteceu em Portugal, a Expo'98. Uma oportunidade que não podíamos perder.
Uns tempos antes da abertura, aproveitando uma visita a um grande amigo em Lisboa. Como mora perto da Expo, fomos ver o andamento das obras. Estavam bastante adiantadas. Dentro de pouco
tempo seria a inauguração.
Ficou combinado, que no período de funcionamento, iríamos lá passar uma semana para visitar a dita. Assim foi.
No período de 22 de Maio a 30 do mesmo mês daquele ano, ficamos hospedados na casa dele. Fomos três dias alternados à Expo. Os restantes aproveitamos para visitar pontos interessantes
de Lisboa.
Levamos uma nossa afilhada, para lhe proporcionar algo diferente. É para isto e muito mais que servem os padrinhos.
Hoje aquele espaço, onde funcionou a Exposição Internacional de Lisboa de 1998, chama-se Parque das Nações.
NA EXPO
Vimos alguns concertos na Praça Sony e em outros palcos.
Assistimos ao espetáculo multimédia Aquamatrix. Foi deslumbrante.
Fomos ver um show fantástico no Pavilhão da Utopia, hoje Pavilhão Atlântico. Assistimos a outro ainda em 3D no Pavilhão do Futuro e interagimos com o próprio espetáculo, pois as imagens
vinham ao nosso encontro. Foi sensacional! Viajamos a alta velocidade nas profundezas do mar, convivemos com peixes, entramos em cavernas subaquáticas numa aventura sem igual. Tudo isto
sem sair do lugar! Entramos num elevador e penetramos mar adentro. Quando o elevador parou, verificamos que não tínhamos saído do mesmo sítio!
O problema era as longas esperas nas filass para conseguir os bilhetes para as entradas.
Havia também diariamente muita animação no recinto, sem falar nos concertos.
Aquele espaço tinha recantos lindíssimos.
Ah!... Uma das visitas que consideramos obrigatória foi ao Oceanário. Aquário gigantesco, talvez o maior do mundo, com inúmeras espécies de peixes e alguns mamíferos.
Fomos comer a alguns restaurantes que por lá havia.
Onde eram as entradas, é hoje o Centro Comercial Vasco da Gama. Do outro lado permanece a Gare do Oriente.
Em suma, foi um mundo maravilhoso que valeu a pena ver.
Aquele espaço continua atrativo.
RESTO DE LISBOA
Uma das saídas foi para ver Lisboa, quer dizer, alguma coisa da capital.
Na gare do Oriente, inteiramo-nos das várias linhas do metro que percorriam a cidade: Vermelha, amarela, azul e verde. Penetramos no interior da terra e entramos naquela toupeira a que
chamam metro.
Lá fomos com destino ao Animax (Zoo de Lisboa). Neste parque de diversões o pagamento era efetuado com uns cartões de código de barras. Carregava-se com x e descarregava-se y nos vários
divertimentos. Um destes divertimentos era jumping. Um barco subia devagarinho até uma altura muito considerável, caindo depois quase abruptamente na água. Era um suspense!... Os miúdos
foram sem medos. Era mesmo pura adrenalina!
Fomos à baixa pombalina e visitamos vários sítios: Portas de Santo Antão, Estação do Rossio, Av. da Liberdade para visita a um amigo dos tempos de África, Rossio e comemos no Mac desta
zona. Visitamos o Coliseu e a antiga sede do Benfica. Demos uma saltada ao Chiado. O incêndio naquela praça tinha acontecido há pouco tempo. O prédio ainda estava queimado e bem
chamuscado!
Aterramos numa esplanada para beber qualquer coisa e verificamos depois que era um bar dos gays e não bar de gays. Paciência. Convivemos com o Fernando Pessoa e até o cumprimentamos,
mesmo à beira da estação do metro no Chiado! A sua figura rígida e em bronze, lá está toda imponente e ao mesmo tempo com um aspeto humilde. Foi bom vê-lo. Gosto muito das poesias dele.
Mesmo ao lado, a estação parece um poço profundo. Por acaso tem escadas rolantes. Porque senão...
Também passamos na Rua Augusta e apreciamos todos aqueles artistas de rua. Paramos na Praça do Comércio e confirmamos que na estátua de D. José e seu cavalo, a pata direita deste é
realmente a esquerda!
Não podíamos deixar de ir ao Colombo. Aquele Centro Comercial é um mundo de grande, uma autêntica cidade. Chamam aos espaços ruas e praças. Tem vários andares e pontes a ligar as várias
alas. No topo tem um parque de diversões. Entre outros uma montanha russa sobre a cabeça das pessoas. Bowling e uma pista de karting. A nossa afilhada fez uma corrida e classificou-se
razoavelmente. O FM andou nos mini-karts, pois ainda era pequenato.
O nosso filhote subiu mais um degrau na escada da sua vida nesse período. Fez oito aninhos. Apagou as velinhas no bolo do seu aniversário na casa dos nossos com toda a família deste.
Festejou com o padrinho e ainda bem porque raramente acontece. A distância...
REGRESSO
No regresso fizemos uma paragem no Pombal num grande parque junto à nacional 1. Comemos uma refeição num restaurante de dimensões apreciáveis que lá existe e vive praticamente dos
viajantes. Um centro comercial fazia parte daquele complexo, onde se podiam comprar todo o tipo de artigos por preços acessíveis.
No centro do parque de estacionamento, há um pequeno jardim zoológico, onde predominavam as aves. Para as crianças havia um pequeno parque de diversões.
Depois do corpo e do espírito mais ou menos saciados, reiniciamos a marcha.
A outra paragem foi em Coimbra. Num parque de lazer na margem do “basófias”, assim chamam ao Mondego porque no verão leva muito pouca água, e no inverno um caudal assustador, fizemos
uma pausa de pouco tempo, pois já não era cedo.
A tarde aproxima-se rapidamente do seu fim. Era preciso por as rodinhas a rolar no asfalto sem grandes pressas, pois é preciso chegar são e salvo.
Com um olhar abrangente despedi-me da cidade. Não pude impedir um sentimento nostálgico ao dar-me conta que na realidade Coimbra tem mais encanto na hora da despedida.
Chegamos a Guimarães já de noite. Eu pessoalmente cheguei cansado mas com a sensação do dever cumprido. Não teria outra oportunidade na vida!
Enfim, foi bom, muito bom, melhor dizendo, foi ótimo.
SERRA DA ESTRELA
PASSEIO À SERRA DA ESTRELA
Março de 1998
Um grupo de amigas, amigos e conhecidos, pensaram no assunto, organizaram o passeio, fomos convidados e aceitamos.
No dia marcado lá fomos todos. Vários carros formavam a caravana. Rodinhas de todos os carros a rolar no asfalto na direção do Porto e daí a Albergaria-a-Velha. Entramos no IP5, era assim que se chamava na altura, e embicamos no sentido de Viseu.
Na zona de Fornos de Algodres saímos e seguimos por estradas secundárias, passando por esta povoação e outras e só paramos em Paços da Serra. Esta povoação está situada a meio caminho entre Gouveia e Seia. Pertence ao concelho de Gouveia. Aqui, um casarão com o nome de “Casa Eira-Velha” tinha sido previamente alugado para albergar o grupo durante a estada do mesmo. Paços da Serra é uma terra castiça e simpática em plena serra da Estrela.
Comemos e descansamos da viagem. Marcou-se para o dia seguinte a subida à Torre.
Chegou o dia que nos brindou com um tempo lindo logo pela manhã.
Apontamos os carros para Seia. Atravessamos esta cidade e começamos a subida para o ponto mais alto da serra. Era preciso vencer uns quilómetros largos para chegar ao cimo.
Um sol radioso marcou presença, mas a neve não, exceto mesmo no cume da montanha. Muito pouca neve. Apenas o suficiente para manter os turistas entretidos. Como ia dizendo, iniciamos e
percurso. A primeira povoação que atravessamos foi Sabugueiro. Depois foi sempre a subir. Reparamos a espaços, cestinhas de cachorrinhos na beira da estrada para vender. Mas segundo nos
avisaram, havia muita gente a vender rafeiro por “serra da estrela”. Nem sequer paramos para ver.
Depois de alguns quilómetros percorridos lá chegamos à Torre. Como se previa, pouca neve! Várias lojas com artigos diversos: Vestuário, artesanato variado, presuntos e queijos. Comprei
postais ilustrados, presunto e queijo da serra para trazer.
Divertimo-nos com a neve, tiramos fotografias e a meio da tarde iniciamos a descida.
Paramos junto à lagoa grande e fizemos um piquenique para comer o farnel.
Continuamos serra abaixo. Atravessamos novamente Seia e regressamos ao casarão para passar mais uma noite.
Resolvemos tropeçar num pastor que se atravessou no nosso caminho e combinamos comprar-lhe uns cabritos no dia seguinte, já mortos e esfolados para trazermos. O pastor apareceu.
Era novo, fino como um “alho” e engraçado. Por brincadeira picado por algumas mulheres do grupo, não se fez rogado e até se mostrou atiradiço! Foi risota até mais não de partir
a moca!
No dia marcado, regressamos com os carros repletos de pertences e muitos produtos da serra. Produtos genuínos e bons que em nossas casas saboreamos condignamente.
Foi bom, mas como tudo teve um fim. Regressamos todos sãos e salvos à nossa santa terrinha, Guimarães.
Até um dia Serra da Estrela.
NORDESTE TRANSMONTANO
Visita ao Nordeste:
Ribeira de Pena, Vila Pouca de Aguiar, Carrazedo de Montenegro, Valpaços, Mirandela, Macedo de Cavaleiros, Azibo, Bragança, Cachão, Vila Flor, Chaves e Alvão.
Conheço mal, para não dizer que não conheço o Nordeste. Conheço mal o centro e sul interior. Tenho uma vontade enorme de conhecer terrinhas deste Portugal desconhecido.
É preciso começar por algum lado! Como alguém diria, começar pelo princípio. Para mim o princípio é de norte para sul. Não fosse eu do norte carago!
O nordeste transmontano é um bom princípio. Vou começar por aí.
Venham daí. Vamos?
VIAGEM E ESTADA
Ano da graça de 2009, Sexta à noite, Julho 18.
- Ouve linda, amanhã vamos dar um passeio.
- Pode ser, aonde?
- Ao Nordeste, mas sem um destino definido.
- Ao Nordeste? Explica-te!
- Blá, blá, blá, wiskas saquetas, está a situação explicada. Quer dizer, vamos fazer aquela viagem que prometemos e nunca mais nos resolvemos a faze-la.
Neste Verão resolvemos fazer a viagem há muito anunciada ao nordeste Transmontano.
No dito cujo dia seguinte, Sábado, carro apontado à estrada e lá fomos.
Portagem de Guimarães Sul e autoestrada em direção a Trás-os-Montes.
O ar estava límpido. O tempo brindou-nos com um sol radioso logo pela manhã. O dia pôs-se quente mas francamente suportável.
Depois de comer alguns quilómetros de asfalto, comentei com a minha parceira:
- Está a ser monótono. Vamos sair no Arco de Baúlhe e seguir pelos montes. Até porque, convém-te rever a terra dos teus primeiros anos de profissão!
- Acho bem. Como foram difíceis os primeiros tempos da carreira de professora!
Estrada fora com algumas curvas, chego rapidamente à fronteira do Minho com Trás-os-Montes, Cavez. Depois duma curva apertada, um barzinho surge na minha direita. Manobra rápida e
um pouco perigosa, estaciono à porta. Café e bolinhos para aconchego do estômago, pois já estava a ficar um pouco enjoado devido à fome. Foi esta a primeira paragem.
Ribeira de Pena seria a próxima mas não foi. Estrada no cimo do monte e esta vila no fundo do vale com a sua moldura urbano bem à vista do olho, melhor dizendo ao alcance de vista.
E olhando de cima, a visão não era má de todo.
- Descemos, não descemos, como é? - Perguntei.
- Não vale a pena.
Não descemos. Em frente é o caminho.
Monte acima, passa aqui por baixo da A7, repassa ali e volta a passar acolá!
Depois de lamber mais alguns quilómetros de asfalto, surge a A24 e logo a seguir Vila Pouca de Aguiar. Linda, simpática, limpa e arrumadinha, de ruas bem alinhadas, e como está na moda,
uma só para peões. Estacionamos onde pudemos, e estacionamos bem. Num sítio com várias esplanadas junto a um parque infantil. "Tas se mesmo a ver num tas se?" Enquanto os papás tomam uma bebida e põem a conversa em dia, os filhotes brincam no parque, puxam o cabelo uns aos outros e assim não chateiam os adultos! É giro não é? Mais dois cafezinhos da ordem. Era preciso despertar totalmente, pois muitos mais quilómetros de estrada esperavam ser percorridos por nós.
Demos uma voltinha a pé para desentorpecer as pernas, e ala que se faz tarde. A estrada está à nossa espera.
Vamos por onde, por onde vamos?
- Ó senhor, qual o melhor caminho para Mirandela?
- Sei lá! Vão por Valpaços: Por aqui, por ali, por acolá. Se não foi assim foi quase, pois pouco percebi do que me estava a tentar explicar.
- Muito obrigado.
Embiquei o carro na direção indicada e lá fomos estrada fora. A povoação a seguir mais ou menos significativa por onde passamos, foi Carrazedo de Montenegro. A paisagem é interessante!
Quintas e quintas pelo monte acima, de castanheiros geometricamente alinhados ao longo da estrada e não só. Está ali o dedo humano de quilómetros e quilómetros de plantações! Isto até
praticamente até Valpaços uma distancia razoável mais à frente.
A paisagem é esta, de Vila Pouca a Valpaços. A estrada serpenteia nestas montanhas, rasgada através destas harmoniosas plantações.
Nesta última localidade, Valpaços, nem paramos, mas percorremos de carro algumas ruas passando pelo centro da vila ou cidade? Razoável e simpática.
Passada a Cooperativa Agrícola, foi engolir estrada durante muitos quilómetros, atravessando o IP4 até Mirandela. Neste percurso, a paisagem mudou um bocadito. Na mesma a mão humana nas
extensões sem fim de altos e baixos a perder de vista, mas desta vez de oliveiras. É de admirar o alinhamento certinho como estas foram plantadas!
Depois de dois ou três quilómetros de Valpaços, a estrada alarga e é quase uma via rápida. Faz-se lindamente até Mirandela à beira Tua plantada.
De-quando-em-vez, uma montanha escarpada, despida de vegetação, com penedos e pedras num equilíbrio curioso. Neste trajeto, e durante largos quilómetros, avista-se o IP4. Este parece
uma cobra deslizando naquele terreno acidentado. É assim este Nordeste!
Ao longe avista-se o casario e o cimo dos prédios. Mirandela à vista!
MIRANDELA
Aqui chegados, deparamos com alguma confusão e grande movimentação. Além duma festa religiosa, os campeonatos de Jet Ski iam acontecer nesse fim-de-semana na albufeira das provas de
motonáutica da cidade de Mirandela. Por acaso consegui um lugar no parque de estacionamento mesmo perto do cais de descarga das máquinas aquáticas!
A azáfama era intensa. Guardas e mais guardas para proteger o acesso para junto dos competidores.
Mas voltando um pouco atrás, ainda vínhamos a uma distância razoável, e já víamos o reclamo no cimo de um dos hotéis da cidade. A primeira coisa que vimos, foi o dito cujo e várias
pontes, uma delas romana sobre o rio Tua.
Quando chegamos perto, as piscinas do hotel mesmo ao lado da ponte, saltaram à vista, dando no olho, ou chamando à atenção com as suas águas límpidas e transparentes que davam um ar de
frescura àquele local. Atravessamos a ponte e contornamos uma rotunda mesmo no fim desta. O parque das provas estava mesmo ali ao lado.
Mirandela é linda! O rio concede-lhe uma beleza ímpar e refrescante. As suas margens estão repletas de bonitos jardins, estatuetas, esplanadas, espaços relvados e movimentações constantes
de máquinas aquáticas a motor, deslizando nas águas daquela albufeira. Algo que é impossível não ver devido à sua imponência, é um chafariz gigante, com um repuxo de muitos metros de
altura, mesmo no meio daquele rio. Lindo!
Num outro ponto e também junto à margem dum rio mais pequeno que vai desaguar naquela grande superfície líquida, há parques de lazer todos relvados, para pausa e descanso. Agradável
mesmo!
Carro estacionado, dirigimo-nos à dita rotunda, e dali à rua só para peões. Percorremos essa rua até ao fim, e deparamo-nos com um jardim e o mercado aí plantado. Este jardim tem umas
dimensões razoáveis de arbustos com flores e espaços relvados. Num dos recantos deste jardim, uma estátua em bronze de uma mulher e uma criança, sobre um pedestal de granito em homenagem
às mães do mundo.
Entramos no mercado para ver e tão depressa entramos como saímos. Praticamente, saímos antes de ter entrado! Insignificante e não tinha nada para ver! Só que à saída, não resistimos
a um restaurante com uma bruta esplanada. “Restaurante Jardim”. O cansaço e a hora próxima do almoço ajudaram. Nem é tarde nem é cedo, vamos almoçar aqui. O que tem, o que não tem,
decidimos. Posta com batatas murro.
Também decidimos que íamos passar ali a noite. A D. Manuela já estava com um cansaço a roçar o extremo.
- Ó dona, há por aqui uma residencial ou um hotel para passar a noite e aproveitar para dormir uma cesta?
- Há uma aqui à frente mas não aconselho para os senhores. É um bocado pobre e não tem ar condicionado. (Esta acha que temos cara de ricos!). O Mira Tua na rua sem carros é melhor.
Deve ser um pouco mais caro, mas vale a pena.
Esta conversa e outra treta de deitar fora, deu-nos a senhora enquanto esperávamos pela comida. Devia ter necessidade de conversar e também de afiar a língua! Presenteou-nos com
um caudal de tretas que nunca mais acabavam. Mas but, quer dizer mas pronto.
Aceitamos a sugestão e dirigimo-nos ao hotel. No percurso de regresso, pois já lá tínhamos passado, verificamos onde estava a caixa Multibanco, não fosse preciso mais dinheiro, o
quiosque das revistas e jornais para ajudar a passar o tempo, os restaurantes e esplanadas para retemperar forças e porta de vai e vem do hotel. Entramos.
- Boa tarde, tem quartos?
- Devido às provas, tenho tudo cheio. Só se for uma suite! Dá para três pessoas, mas faço-lhe um desconto.
O senhor que nos falou, tinha acabado de chegar à receção. Forte e robusto, de meia-idade. Pelo tom de voz e a forma desenrascada como falou devia ser o patrão ou o gerente. A menina
e o senhor alto com quem tínhamos falado antes, quase nos despacharam.
- Pode ser, mas com uma condição: Disponibilizava-mo já, preciso descansar urgentemente.
- Está bem. É o 302 e são 55€. Vou mostrar-lhes a suite. A D. Manuela estava tão exausta, que quando viu a cama, já não saiu do quarto!
Enquanto ela ficou a descansar ou dormir, sei lá, o Mattu's, moi meme, aproveita para dar uma volta a pé pela cidade. Visitei alguns sítios pitorescos e tirei fotografias. Fui de um
a outro lado das margens daquele grande espaço aquático. Atravessei o riacho numa ponte que separa o parque de manutenção física duma zona habitacional com prédios. O pequeno rio de
margens empedradas e bem cuidadas, ia desaguar ao Tua.
No gaveto destes dois rios, um espaço relvado com um passeio em madeira a atravessa-lo. Mesmo no centro desse espaço relvado, uma estátua duma mulher feita em bronze. Tirei algumas
fotografias.
Quando regressava, uma sebe que servia de divisória aquela parte do espaço, chamou-me à atenção. Tufos viçosos e bem cuidados de flores miudinhas de cor lilás, alfazema! Escolhi o que
me pareceu mais denso e chamativo, e tirei-lhe uma foto.
Continuei a visitar alguns sítios pitorescos à volta do rio, enquanto a minha sócia descansava no Mira Tua.
Um dos bares tinha a esplanada suspensa por cima das águas. Se alguma viga cedesse, todo o mundo ia parar ao rio!
A montagem das barracas da feira, que iria acontecer no dia seguinte, provocava um barulho infernal dos martelos com ferros e ferros com martelos! As músicas brejeiras já ecoavam no ar.
Tudo isto muito próximo de um dos hotéis da cidade.
Tinha o polo molhado do suor, pois o calor era bastante, doíam-me os pés de caminhar, o cansaço meteu-se comigo e o apelo na minha mente, obrigaram-me a decidir. Vou para o hotel
descansar.
- Já que me acordaram, também não fico aqui - disse.
Preparamo-nos e voltamos para a rua.
- O hotel está pago. Vamos aproveitar os entrementes para visitar as redondezas – comentei.
Depois de percorrermos a pé alguns pontos próximos do hotel, eis o comboio turístico mesmo numa extremidade da ponte romana. Aproveitamos e fomos dar uma voltinha, e assim conhecer
pontos mais distantes da cidade. Nunca pensei que Mirandela fosse tão extensa e tão linda!
Mas que linda! Quem é ela?
Que deixa a gente pasmada!
É a cidade de Mirandela,
Do Nordeste é a mais bela,
À beira "Tua" plantada.
Mas é lindo, quem diria!
Tanta luz e tanta cor!
Pinceladas de beleza,
Feitas pela Natureza,
No Portugal interior.
Castanheiros e oliveiras
Por aqueles montes além,
Duas das grandes riquezas,
Que aquela gente tem.
No minicomboio, ficamos rodeados duma parolagem que nunca mais acabava! Tinham cara de “emigreiros” e com a ajuda da música residente da aparelhagem, cantavam aquelas canções malucas do
Quim Barreiros e outras. Coitados dos nossos ouvidos, foram massacrados a viagem toda! Paciência.
Esta viagem durou um pouquinho e deu para ver os locais mais interessantes daquela cidade. Quando acabou e já não era sem tempo, resolvemos visitar localidades das redondezas.
Onde ir primeiro? Eis a questão! Macedo de Cavaleiros e Barragem do Azibo. Dois ou três quilómetros mais à frente na direção de Bragança, é a entrada para o IP4. Para lá nos dirigimos,
e para a frente é que é o caminho. Andamos e andamos, passamos as placas indicando desvios para Miranda do Douro, Foz Côa, Vimioso e Guarda. Só depois apareceu a entrada para Macedo,
mas Azibo nada! Percorremos esta Vila de rua em rua e não achamos nada de especial. Uma vila como tantas outras. Já estávamos a sair num outro extremo, e nada que nos indicasse o caminho
para o Azibo. Numa paragem, uma senhora esperava certamente o autocarro. Parei e perguntei:
- Por favor informa-me onde é a barragem do Azibo?
- Tem de voltar para traz e apanhar a estrada para Bragança. Mais à frente vai encontrar placas a informar.
- Muito obrigado.
Lá tivemos de procurar a saída e novamente no IP4, andamos, andamos e nada.
AZIBO
Depois de nos fartarmos de andar, uma placa indicava à nossa direita: Azibo. Finalmente!
Mais um ou dois quilómetros, o máximo na nova direção, lá estava a famosa barragem e respetivo empreendimento balnear e turístico. Refrescante, repousante e bonito. Só de olhar já acalma!
Estradas de terra batida, extensões enormes de relva, uma praia em cada margem da albufeira. Um oásis no deserto e um paraíso perdido no mundo. Maravilha mesmo!
Carros e carros a perder de vista. Estavam estacionados em tudo quanto era sítio. Tinha esse senão, não ter onde estacionar. Como não gosto de andar para trás, continuei. Lá encontrei
onde estacionar. No parque dos autocarros: Largo espaçoso de erva seca cortada rente. Tem alguns bares de construção definitiva e muitas mais de roulottes com respetivas esplanadas.
Foi num destes que nos sentamos e refrescamos com bebidas, apreciando aquela bonita paisagem cheia de vida. Descansamos e tirei uma ou duas fotos. À saída, deu-nos no olho um reclamo
a dizer residencial. Vários negócios prosperam à custa daquelas praias artificiais.
Aquilo é bonito realmente!
Dali a Bragança não distava mais que vinte e cinco quilómetros. Já que é tão perto, aproveitei para visitar aquela cidade nordestina.
Se assim pensei, assim o fiz. Lá seguimos estrada fora.
O terreno neste percurso é semiplano. Pouca vegetação e seca. Uma ou outra vinha baixinha como no sul. A espaços largos, extensões grandes de capim ou feno seco duma cor amarelo dourado.
O que há pouco tempo fora erva verdejante era agora paisagem seca e agreste, parecida com o Alentejo em tempo de verão.
Bragança aproximava-se. Finalmente estava-mos a rodar nas ruas a avenidas da cidade. Uma placa indicava a direção da zona histórica.
- É para lá que vamos.
Meios perdidos, mas lá encontra-mos o que procurávamos. Pisos de pedras pretas e subidas até ao castelo. Tasquinhas e barzinhos dentro das muralhas. Engraçado! Tomamos uma bebida num
destes bares e aproveitamos para fazer uma xixada. Depois de mais algumas fotos ao local, uma porta oval talhada na muralha servia de saída das viaturas. Apontamos a essa saída, exterior
do castelo, novamente a cidade, IP4 e regresso.
A fronteira de Quintanilha distava dali cerca de 5 quilómetros. Resolvemos não ir. O regresso a Mirandela foi tranquilo. Chegamos ainda com sol e que alívio parecia que estávamos em
casa!
NOVAMENTE MIRANDELA
Mais uma voltinha, mais uma fotografia.
- Onde vamos jantar e o quê?
- Estamos na terra das alheiras…
- Pau de cera, ou pode ser. É a mesma me…, coisa.
Uma tasquinha típica da terra foi a escolhida. Alheiras, legumes e arroz. As alheiras estavam muito secas e os legumes eram feijão-frade com couves. Que balde, comemos mal! Como alguém
diria, passou a vez. Para ajudar a passar o tempo, mais uma voltinha, embora já houvesse poucas forças para tal. Aproximamo-nos do hotel. Como ainda era um pouco cedo, aterramos numa
explanada em frente e pedimos chá para os dois. Era preciso ajudar a digerir a porcaria do jantar.
Cerca das nove e trinta, entramos no hotel. Pedimos o cartão e subimos à suite 302. Era cedo mas antes que acabassem as poucas forças que nos restavam, tivemos de o fazer. É a vida!
Ouvíamos a música que ia para o ar do outro lado da ponte.
- Qual festa qual quê! Vamos dormir.
O cartão não funcionou à primeira, mas funcionou à segunda. Os lençóis eram brancos e cheiravam a lavado. As almofadas um pouco grossas para o que estávamos habituados, mas serviram
perfeitamente. Tapamos toda a luz do luar que pudesse vir da janela. Estávamos tão cansados, que a minha "cara-metade" adormeceu quase instantaneamente. Eu fiquei mais um pouco acordado
e a pensar: Uma resenha de imagens passaram como que um filme a correr na minha mente. Imagens do que vi durante a tarde no passeio solitário que efetuei. O filme reteve-se por instantes
nos tufos de alfazema e mais precisamente naquele que fotografei. Naquele momento, tive a sensação que um perfume a alfazema, emanava da minha companheira deitada a meu lado na cama
daquele hotel! Com este pensamento perfumado, adormeci suavemente. Eram mais ou menos vinte e duas horas.
Acordamos no dia seguinte. Uma luz ténue tentava espreitar pelo único espaço que a cortina grossa e espessa, duma cor grená escura não conseguia tapar. O sol propriamente dito viria
um pouco mais tarde. Este realmente não tardou. Parece que nesse dia nasceu mais cedo para nos alegrar. Eram oito horas de la manhana.
Acordamos bem-dispostos, pois tínhamos dormido umas horas jeitosas.
Tomamos um banho, juntos. A água do chuveiro jorrava com força. Ao mesmo tempo que nos lavava, massajava os nossos corpos. Foi um banho relaxante. Vestimos a única muda de roupa lavada
que levamos.
Frescos e viçosos como uma alface acabada de regar, ficamos prontos para descer para o Piano Bar no 1º andar. (bar do hotel). Um pequeno-almoço buffet, estava à nossa espera. Ainda era
cedo mas não fomos os primeiros. Já lá se encontrava um casal: Uma senhora de meia-idade e um jovem. Deviam ser mãe e filho. O jovem aparentava 20 ou 22 anos. Enquanto ela comia um pão
com queijo e uma chávena de café com leite, ele empanturrava-se com cereais. Repetiu três ou quatro vezes. Também não comeu mais nada! Pela T-Shirt dum qualquer clube náutico, talvez se
tratasse de um competidor das provas dessa tarde nas águas do Tua.
Pão, queijo, fiambre, compotas e geleias, sumos e café com leite, estavam à nossa disposição. Foram os primeiros retemperadores de forças daquele dia. A minha parceira comeu pouco, mas
eu abasteci o organismo o melhor que pude, para aguentar mais algumas passeatas que iriam ser feitas e estavam já planeadas. Estômago composto e rua. Decidimos tomar os cafezinhos numa
esplanada próxima. Passavam poucos minutos das oito.
Dirigimo-nos para a saída.
Na receção estava agora um jovem de estatura mediana. Entreguei o cartão e disse um até à próxima. Saímos.
O sol ainda não se tinha mostrado. Não demoraria muito a aparecer com toda a força. Depois de tomados os cafezinhos da ordem começamos realmente a funcionar.
- Está decidido, vamos a Vila Flor. Já sei o caminho para lá.
Atravessamos outros pontos da cidade e lá fomos estrada fora. Vila Flor espera por nós. Estávamos a entrar no carro para iniciar a viagem quando o telemóvel tocou. Era o rececionista
do Hotel dizendo que eu não tinha pago a conta! Disse que paguei e que tinha o recibo comigo. Estava em nome de outra pessoa e era referente ao quarto 202 e não 302. Não repara-mos!
A situação foi esclarecida e partimos.
Excetuando algumas montanhas verdes de pinheiros, alguns eucaliptos e escassos sobreiros, o relevo é pouco acentuado. A vegetação é baixa e composta sobretudo de arbustos, tojos e mato.
Ao longe uma capelinha parece equilibrar-se no cume duma montanha. Ao aproximamo-nos, verificamos tratar-se do mosteiro de Nossa Senhora da Assunção. Para lá ir, era preciso fazer um
desvio. Não o fizemos. Já faltava pouco para o nosso destino, Vila Flor.
VILA FLOR
À entrada desta vila, avistam-se plantações de oliveiras e castanheiros, mas sobretudo de muitos pomares. Rolamos na avenida principal daquele burgo, metemos por ruas e ruelas, passamos
numa feira de produtos da terra, currais de cabras e ovelhas para serem vendidas. Continuamos e fomos parar à zona mais antiga. Reparamos na promiscuidade de carroças, carrinhas e carros
diversos junto àquelas casas antigas tão bonitas, tapando as vistas das mesmas.
O casarão que serviu de cenário à novela da TVI, lá estava todo imponente. As suas portas e janelas de formas arquitetónicas, de uma beleza única, sempre agradáveis de ver, lá estavam
intactas e fascinantes. Como não podia deixar de ser, tirei uma foto. Pena que uma carrinha de transportar animais, tapasse metade da casa!
Caminhamos noutras ruelas com pisos bem cuidados com pedra de granito.
Saciamos as vistas e resolvemos partir de regresso à base, Mirandela.
Ao nosso lado, e numa extensão razoável, a linha do Tua parecia caminhar lado a lado com a estrada. Numa das descidas, pareceu-nos avistar ao longe uma cascata de água. Talvez fosse
uma miragem do deserto. Estava-mos perto do Cachão. Um anúncio mais a traz, falava da barragem com este nome. Umas placas colocadas num desvio pouco antes desta localidade, indicavam
umas terriolas com nomes de nascentes. Pensei que a dita barragem fosse para aquele lado! Não era.
- Ó senhor, por favor diz-me como se vai para a barragem do Cachão?
- Volte para traz e ali mais à frente onde diz Dona Sancha, vire à direita e vá sempre naquela estrada. Passa os depósitos da água, duas curvas meias coisas e é a seguir. Não vê logo a
barragem. Deve ter onde estacionar o carro e vá a pé num estradão de terra. A estrada subia serra acima, não encontrei onde estacionar. Tive de procurar onda dar a volta. Regressei com
o rabo entre as pernas, como sói dizer-se sem ver barragem alguma. Balde!...
Andamos, andamos e chegamos novamente ao ponto de partida, Mirandela. Nem paramos. Pé na tábua e gás para caminho de regresso a casa.
Velocidade razoável na estrada nacional que mais parecia uma via rápida. Atravessamos o IP4 e chegamos rapidamente a Valpaços. Aqui chegados, dirigimo-nos para o centro. Esplanada,
bebidas e descanso refastelados na dita debaixo do guarda-sol. Valpaços em direção a Chaves mais pelo interior.
Relativamente às construções, esta zona mudou um pouco. Enquanto no Nordeste as construções concentram-se nas localidades e o resto é deserto de quilómetros e quilómetros sem se ver
uma casa. Nesta estrada e principalmente no Minho, as pessoas constroem onde tem os respetivos terrenos. Por isso, nos trajetos que ligam as localidades umas às outras, há construções
em todo percurso. É por esta razão que em Trás-os-Montes as localidades crescem muito. Pudera, no resto dos percursos não há vivalma!
Passamos no miradouro de S. Lourenço e vimos Chaves por um canudo. Não foi bem por um canudo mas as vistas para a cidade são deslumbrantes. A cidade de Chaves não é assim tão pequena
como pensei! Fomos parar ao extremo sudoeste da cidade. Seguimos por uma estrada que tinha uma placa a dizer A24.
Andamos e fartamo-nos de andar e A24 de grila. Como para a frente é que é o caminho, não voltamos para trás. Depois de andar bastante tempo, uma entrada para a autoestrada. Estávamos
perto de Vidago. Da A24 á A7 foi um instantinho. E como dizia um colega: Coisa linda, uma placa a dizer Guimarães!
Já nesta última autoestrada, deu para apreciar as belezas da serra do Alvão. É mesmo bonita se for vista com olhos de ver! Velocidade moderada na A7, regresso calmo e sem incidentes.
O dia estava quase no seu término quando chegamos. Os últimos raios de sol tentavam esconder-se para lá da linha do horizonte. Era o fim da tarde, fim do dia e o fim da viagem ao
Nordeste. É o fim da linha, aliás do passeio.
Muita coisa ficou por ver. Haverá mais. Não sei quando mas haverá.
E assim, a viagem terminou precisamente onde começou, Guimarães.
Até á próxima Trás-os-Montes.
CARVALHO CENTENÁRIO DE CALVOS
A SOMBRA VERDE
"Um poema ou uma árvore podem ainda salvar o mundo." - Eugénio de Andrade.
O carvalho!...
Carvalho de Calvos, carvalho centenário de Calvos ou como diz o povo, Carvalha Grossa, de seu nome científico Carvalho-alvarinho (Quercus robur).
Este exemplar de carvalho tem cerca de 500 anos e a sua preservação está inserida no projeto Póvoa de Lanhoso e a sua herança. Deste projeto fazem parte o património humano, cultural,
artístico, paisagístico e outros. Já fazia falta, é digno dos povoenses e bem hajam os seus promotores.
Devido a uma doença, teve de lhe ser amputado um dos ramos principais. Este facto permitiu salvar a árvore mas também para recobrar o seu vigor.
Dentro do cercado, mesmo ao lado, existe uma outra árvore centenária da mesma família, talvez um primo, o sobreiro (Quercus suber).
Bem perto deste carvalho, no exterior do cercado de proteção, existe um outro exemplar bem mais jovem, mas que demonstra já um porte assinalável e um grande vigor vegetativo, podendo
vir a ser no futuro um outro exemplar notável desta espécie.
É o mais antigo da Península Ibérica. Com o objetivo de preservar o maior exemplar desta espécie na península ibérica, foi criado o Centro de Interpretação do Carvalho de Calvos, na
Póvoa de Lanhoso. A importância deste carvalho enche a alma de quem o visita. Na base do tronco existe uma cavidade de origem natural mas que foi utilizada durante muitos anos para
deposito de lixo, o que poderá ter contribuído para o desenvolvimento de humidade e consequentes doenças no interior da mesma.
Os números deste carvalho esmagam-nos, pois são impressionantes! A saber:
- Cinco séculos de idade.
- Altura = 23 m
- Diâmetro médio da copa = 40 m
- Perímetro a altura do peito = 7,3 m
Para acabar, uma palavra de elogio para aqueles que idealizaram e concretizaram este espaço de convivência com a natureza a partir da preservação de uma árvore. Espero que um dia não
seja uma exceção mas que muitos como este, estejam espalhados por todo país. Obrigado.
O espaço, no qual está inserido o magnífico carvalho de Calvos, está muito bem conseguido. Fazer um piquenique ou ver as crianças brincar à sombra duma árvore frondosa como esta, é um
enorme prazer.
Fonte de ajuda: Net
O PIQUENIQUE
Agosto 11, 2012
Realizou-se neste sábado o piquenique da família Matos. Embora sejam habituais este tipo de piqueniques nos passeios de família, este realizou-se a propósito da chegada dum familiar
vindo da Venezuela. É sentimento comum a quase todos os emigrantes, visitarem periodicamente ou de longe-a-longe a sua santa terrinha, para matar saudades e não só.
Já lá vão mais ou menos quatro décadas desde a sua ida para aquele país sul-americano. Que me lembre, esta é a segunda vez que vem a Portugal.
Para que todos pudessem estar um pouco com ele e ele com todos, pensou-se neste convívio, pois não é fácil conseguir disponibilidade duma família numerosa para visitas individuais.
O local escolhido para este encontro familiar, foi a Carvalha Grossa, ou Carvalho Centenário, na Freguesia de Calvos, limítrofe à sede concelho, Póvoa de Lanhoso. Por sugestão de alguns,
foi escolhido e bem escolhido este local. Bem porque é lindíssimo e enquanto convivem uns com os outros, também se convive com a natureza, o que é muito bom e faz bem. É acessível a todos
e é na Póvoa de Lanhoso que estão as nossas raízes mais profundas.
Como já trabalhei naquelas paragens, aproveitei para redescobrir as raízes familiares e da terra que me viu nascer. Quando a curiosidade e a necessidade de saber pediram mais, investiguei
através de pessoas mais velhas residentes, livros e internet.
A Póvoa de Lanhoso tem muito património que vale a pena ver e descobrir. Património histórico abundante: Entre outros o Castelo e Castros ibero-celtas; Património arquitetónico
interessante: Mosteiros, igrejas, pelourinhos, casas senhoriais e outros; Personalidades famosas: Maria da Fonte, António Lopes, Martin Moniz, Gonçalo Sampaio e muitos outros; Património
etnográfico riquíssimo; Património paisagístico lindíssimo; Muito e muito mais!
Mas voltando ao piquenique, conviveu-se, comeu-se, bebeu-se e brincou-se, jogou-se à bola e à malha, tomamos café no bar da carvalha e as crianças brincaram no parque infantil
da mesma.
Embora a figura principal, motivo pela qual estávamos ali reunidos, tivesse chegado quando a tarde já ia para lá do meio, correu minimamente bem. O tempo passa rápido e não espera por
ninguém. Não se conviveu tanto como seria desejável mas valeu a pena.
O dia aproximava-se rapidamente do seu termo. Era preciso meter os utensílios nas malas dos carros e regressar às suas casas. Um a um os carros foram desaparecendo, ficando o local como
quando lá chegamos, vazio. Vazio não! A frondosa carvalha ficou e mais imponente que nunca e com a vaidade estampada no tronco, pois foi visitada e admirada por uma grande família, pelo
menos numerosa!
Com as mãos no ar, acenei para me despedir do pessoal que ainda restava e com um olhar abrangente antes de partir, despedi-me da carvalha.
DIA DA MÃE
Dia das Mães, também designado dia da Mãe, é uma data comemorativa em que se homenageiam as mães do mundo e por conseguinte a maternidade.
Em Portugal comemora-se no primeiro Domingo do mês de Maio, mas nem sempre foi assim.
É um dia especial para mães e filhos. O comércio agradece, pois neste dia compram-se inúmeros presentes para oferecer às mães.
Crê-se que a ideia nasceu nos Estados Unidos da América, espalhando-se rapidamente por todo o mundo.
Maio, 5 de 2013 – Domingo
Acordei cedo neste dia. Não tinha sono e também não me apetecia ficar na cama. A minha cara-metade dormia. Estava a aproveitar o resto da madrugada para descansar mais um pouco. O dia já
se vislumbrava através da janela.
Fiz a minha higiene pessoal e vesti-me, pois o Zullu já me rondava numa marcação cerrada para o lavar à rua. Assim fiz. Nós os dois, eu e o cão, lá fomos porta fora e rua acima. Andamos
cerca de meia hora. Cheirava tudo quanto era coisa e não fazia coisa nenhuma. Ao fim desse tempo, voltamos para casa. Na cozinha, limpei a baba do bicho. Baba-se porque estica a corda,
quer dizer a trela até mais não. E depois? Depois baba-se todo e quando se sacode, é biscas por todo o lado!
Da cozinha fui para a sala. Eis que esbarro com um lindo ramo de flores num suporte espetacular em cima da mesa. Estranhei e disse de mim para mim: Não lhe deram flores na escola, ontem
quando nos deitamos não havia aqui nada, como vieram estas cá parar? Aproximei-me para ver melhor. Eram realmente lindas e havia uma folha A4 escrita por baixo do suporte. Escusado será
dizer que o li. Foi o nosso filhote que o deixou lá durante a noite. Não se esqueceu da mãe no seu dia. Passei os olhos pela folha escrita. Palavras lindas dirigidas à mãe!
Inventei uma peta qualquer para a atrair à sala. Também reparou no ramo das flores e na folha escrita. Conforme lia, notava-se em brilho especial nos olhos e uma expressão de felicidade
no rosto!
Adorou. Aquelas palavras encheram-lhe a alma. Tinha ganho o dia, embora este estivesse no seu início.
Tomamos o pequeno-almoço, acordamos o FM e preparamo-nos para o encontro no café de cima com alguns familiares, para dali partirmos para a Póvoa de Lanhoso, mais propriamente Carvalha
Grossa em Calvos.
Carrinhos na estrada e lá fomos. Atravessamos a Vila e chegamos ao local combinado.
Piquenique II
Um grupo restrito de familiares organizou um piquenique a propósito do dia da mãe. Fomos convidados e aceitamos com muito gosto. E aceitamos porque segundo pareceu, recusar estava fora
de
questão, e por outro lado veio mesmo a calhar, pois estávamos mesmo a precisar dum convívio saudável, com pessoas amigas e com a natureza.
Conversamos, comemos e bebemos, jogamos a bola e a malha e divertimo-nos naquele espaço relvado. Relvado? Aquilo era relva ou rerva? Eu acho que era mesmo erva. Mas isto não interessa
nada, o que interessa, é que aquele local estava verdejante, refrescante e acolhedor. O resto é treta.
Ah já me esquecia! A carvalha recebeu-nos de ramos abertos e emprestou-nos a sua sombra verde!
O dia estava lindo e solarengo, mas por breves instantes, o sol foi-se embora aborrecido sabe-se lá com quê, e o tempo arrefeceu ligeiramente. Já se procuravam agasalhos para emprestar
às crianças. Praticamente não foi preciso porque voltou logo de seguida com mais pujança e portou-se lindamente até virmos embora.
O FM fez-nos companhia o tempo todo.
Uma das crianças calçou uns chinelos de média altura de umas das adultas, e convidou as outras para irem ao baile. Parecia uma gatinha com botas! Foi um dos momentos engraçados.
Fomos ao bar da localidade tomar o cafezinho da ordem, para acordar ou para não adormecer. Primeiro as mulheres e depois os homens. O bar estava cheio de gente! Também onde é que aquele
pessoal vair o tempo, ainda mais sendo Domingo que não se trabalha! Estavam expostas miniaturas de símbolos daquela terra. Tirei algumas fotos. Um dos elementos comprou garrafinhas de
sumos da coca-cola. Provei. São realmente bons. Regressamos ao local de crime, quer dizer do piquenique.
Quando achamos que estava na hora de vir embora, arrumamos os tarecos, melhor dizendo, os utensílios e levamos tudo para os carros.
À saída, olhei para trás e mentalmente, despedi-me e agradeci à carvalha por tudo aquilo que nos proporcionou: A sua companhia, a sua sombra e a sua imponência. Muito obrigado.
Viemos embora e chegamos a casa, satisfeitos. Tinha sido um dia fantástico.
Querida Mãe!
Tu que nos guardaste em teu ventre aquecido e do mundo fomos protegidos...
Tu que nos trouxeste para a vida, o que mais poderíamos querer?
Nos deste um cantinho dentro de ti e já crescidinhos, nascemos para te conhecer...
Em teus braços fomos acalentados com teu amor e dedicação.
Nosso coração por ti, todos os dias acariciado...
Te conhecer por fora é só uma forma de nos fortalecer para o mundo, mas o que há de mais profundo vem do teu íntimo Ser...
Oh! Maravilhosa Criatura...Nascida do Amor Divino que nos ampara a todos os momentos de nosso Viver!
O que mais poderíamos querer?
Rogar com todas as forças que Deus abençoe todas as mães e se nem sempre ao nosso lado podemos ter-te até a tua lembrança nos faz reviver... que maravilha!...
Nunca estarás sozinha Querida Mãe!
José Guilherme S. Filho.
Da Natureza eu preciso
Não serre a serra, porque dela dependemos nós,
Tanto hoje como amanhã.
Agora usufruímos do seu clima benfazejo.
Mas, se a devastarmos, só a lembrança temporã.
Não mate a mata, porque dela outros seres precisarão.
Sem elas, os desmoronamentos são a certeza.
Certamente, com sua falta, a natureza se rebela.
E o resultado, já sabe: sofrimento e tristeza.
Não ria do rio, porque dele tiramos o liquido mais precioso,
Sem água nós não podemos viver.
Por mais que não entenda, não deixe a ambição florescer
Verdadeiramente sem ela (a água), podemos todos morrer.
Não mangue do mangue, ele tem a importância de dar o equilíbrio ambiental.
Caso destruamos e construamos moradia por ambição,
As consequências serão danosas para todos,
Sem exceção, seja marginal, seja cidadão.
Por isso, não serre a serra;
Não mate a mata;
E não mangue do mangue.
Apenas aprecie esses lugares com admiração.
Só deixe lá pegadas, retire apenas fotografias.
E só leve de tudo a forte recordação.
Assis Cavalcante
É tudo
INTERESSES - HOBBIES DA VIDA
BASQUETEBOL
EU E O BASQUETEBOL
Quando era puto, participei num torneio de futebol, organizado pelo clube do concelho onde nasci, Maria da Fonte. Jogava a avançado, mas naquele dia o guarda-redes
sentiu-se indisposto e o escolhido para a baliza fui eu.
Logo nos primeiros lances do jogo, disputava a posse da bola com os avançados contrários, quando levei uma joelhada no estômago que me deixou prostrado no chão com
falta de ar durante largos minutos. Por causa desta situação, a prática continuada do futebol morreu para mim.
Como não praticava futebol... Ainda jovem mas já em Luanda - Angola, vivia numa zona na parte alta da cidade. Nessa zona havia um clube modesto de bairro mas muito
simpático, que se dedicava apenas à modalidade desportiva do basquetebol. Era um clube muito carismático, pois arrastava multidões para os jogos em que participava.
Esse clube chamava-se: Futebol Clube Vila Clotilde e usava no equipamento as cores do Barreirense. O campo de jogos era um ringue ao ar livre cedido gentilmente pela
Liga Africana, associação sediada no bairro da Vila Clotilde.
Aquando dos jogos, a claque era participativa e barulhenta e ouvia-se perfeitamente nuns quantos quarteirões em redor. Eu morava muito perto. Aquele entusiasmo
começou a afetar-me e meteu-me o bichinho no corpo. Comecei a ver os treinos, a participar neles e finalmente a jogar oficialmente, sendo mais um atleta a fazer
parte a nível federado daquele simpático clube!
Foi assim que nasceu em mim a paixão pelo basquetebol.
Devo dizer que a nível dos juniores, os campeonatos eram disputados sempre em Portugal entre os campeões de Portugal, Angola e Moçambique. De quatro anos seguidos
que vieram disputar o título, em dois deles foram campeões.
Mais tarde esses juniores passaram a seniores e era uma equipa de sonho, pois praticava um basquetebol altamente técnico e artístico. Um americano que foi jogar
para uma das equipas da cidade disse um dia: O basquetebol do Vilinha, assim era conhecido o clube daquele bairro, é um carrossel de luxo!
E foi assim.
CARROS ANTIGOS
O GOSTO PELOS CLÁSSICOS
Não sei a propósito de quê, a partir de certa altura da minha vida, comecei a gostar de carros antigos. Acho-os lindos, belos, espetaculares e... Muitos mais
adjetivos podia enumerar!
Gostava de colecionar mas as possibilidades financeiras são reduzidas ou nenhumas para esse efeito. Sou especialmente amante do "carocha".
Como não posso ter os carros ao vivo ou materialmente falando, tive molduras de vários deles. Já não me faltou tudo!
É assim a vida!
DANÇA
PORQUE GOSTO DE DANÇA?
Porque gosta da dança? Não sei bem mas vou encontrar uma explicação...
Como já disse, cresci em África, mais propriamente em Luanda - Angola. Naquela imensa terra e particularmente em Luanda, abundavam os clubes exclusivamente de
dança. A propósito de quê e de nada, todos os fins-de-semana havia farras. Estas farras eram nada mais nada menos que festas dançantes. Aconteciam nos clubes que
existiam para o efeito e noutros locais a propósito de nada, ou em casamentos, batizados, carnaval, fim de ano, festas de finalistas, e por aí adiante.
Como não podia deixar de ser, fui contagiado por essa febre geral. Sem saber porquê e quando, dei comigo a participar nessas festas. A princípio de uma forma
tímida, pois era a aprendizagem, mas depois mais desenvoltamente e com vontade e gosto de estar em todas.
Ainda hoje me morde esse bichinho!
VESPAS
COMO ENTRARAM AS VESPAS NA MINHA VIDA?
Como é que as vespas entraram na minha vida?
Não estou a falar de vespas ou abelhas que me tentaram morder. Aliás, já fui mordido por algumas. Dói que se farta e deixavam marcas por algum tempo. Mas não,
estou a falar de vespas de duas rodas.
Quando comecei a trabalhar ainda muito novo, uma parte do ordenado que recebia mensalmente, era para pagar a prestação de uma vespa 50cc que entretanto adquiri.
Porque estava na moda e também porque precisava libertar-me dos machimbombos (autocarros), mas também porque ter transporte próprio era outra coisa. Eu podia
continuar a usar os "machimbombos" mas não era a mesma coisa.
Mais tarde passei-a a um irmão mais novo e comprei uma de 150cc. Para esta era preciso a carte de moto. Enquanto não tinha a carta, foi usando a vespa só à noite
e por caminhos pouco ou nada trilhados pela polícia. A relação da juventude com a polícia era uma espécie de amor e ódio. Era preciso evitar encontros.
Nesse período usava-a quase exclusivamente para participar e ver jogos de basquetebol. Estes devido ao calor eram realizados sempre à noite.
Só muito mais tarde me libertei da vespa para comprar um carrito.
Hoje mato saudades vendo de-quando-em-vez exposições de clássicos. Os carros antigos trazem as vespas e verse virsa, matando dois coelhos de uma só cajadada.
Deu para entender não deu?
MÚSICA
VIVER SEM MÚSICA NÃO!
É preciso música para dançar! A dança acontece ao som da música. Logo aí a fronteira entre o gostar de dançar e de música, é demasiado ténue ou inexistente.
As farras eram sempre ou quase sempre com música ao vivo com grupos musicais que proliferavam por toda a Angola.
Quando se falava em farras, falava-se de música, quem ia tocar, que músicas, etc. Por tudo isto, muito cedo comecei a ter as minhas preferidas, tanto para ouvir
como para dançar.
Gostei dos Beatles, gosto dos Scorpions e dos Pink Floid e ainda de algumas bandas acuais. A música africana e particularmente a angolana está-me no sangue. Isto é
inegável.
Deve dizer que as mais lindas baladas que ouvi até hoje, foram produzidas por bandas rock.
Tanto a música como o mar fazem-me relaxar do stress do dia-a-dia.
MAR
O MAR! O MAR! QUE ME ACALMA!
Vou contar uma pequenina história.
Quando cheguei de Angola nos anos 70, fui viver para uma localidade no vale de S. Torcato em Guimarães rodeado de montanhas por todos os lados.
Nesses primeiros tempos, sentia um mau estar, uma espécie de claustrofobia. Inicialmente não sabia o porquê daquele mau estar. Depois descobri que era a falta do
mar. Comecei a partir daí a deslocar-me frequentemente à localidade mais acessível para contemplar o mar, Póvoa de Varzim.
Com o tempo habituei-me a não ter permanentemente o mar por perto.
Voltando um pouco atrás e ainda em terras africanas. Nessa época, um irmão mais velho gostava de espaços livres em terra firme. Dedicou-se talvez por isso à caça.
Eu em contrapartida gostava de tudo que se relacionasse com o mar: Pesca, praia, barcos, nadar nas ondas, viajar de barco, mais peixe que carne na alimentação e
muitas coisas mais.
Conjuntamente com colegas, compramos um barco e íamos à pesca todos os fins-de-semana. Gostava de aventuras no mar e da adrenalina que isso provocava.
LITERATURA - POESIA E PROSA
LER E ESCREVER...
Desde muito cedo comecei a gostar da leitura. Primeiro histórias aos quadradinhos principalmente livrinhos de cowboys do Tim Tim e outros. Depois romances de bolso do
Ross Pinn, Alexandre Dumas, Coboiadas, policiais e aventuras, nomeadamente os mistérios de Paris. Posteriormente romances históricos de espadachim como os Três
Mosqueteiros e outros que tais.
Com o decorrer dos tempos e o avançar na idade, comecei a ser mais seletivo. Escolhia livros de certos autores que por isto ou por aquilo me caiam no goto. Li muitos
livros de autores portugueses. Debrucei-me sobre a história da literatura portuguesa. Gostei particularmente das obras de Alexandre Herculano, Júlio Dinis e Camilo
Castelo Branco. Gostei da poesia lírica de Luís de Camões, de poesia de Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Soares de Passos, António Gedeão e Beltost Brecht.
Durante algum tempo, li com entusiasmo os livros de Frederich Forsith e Colleen McCulough. Esta última retrata muito bem e de uma forma épica a gesta do povo
australiano.
Hoje dou igual valor à história bem contada e à descrição pormenorizada do espaço onde as personagens se movimentam. E é tudo que me ocorre dizer sobre este tema.
OUTROS QUÊS E PORQUÊS
AFINAL HÁ OUTROS!
Afinal há outros! Gosto de África, mais propriamente Luanda - Angola. Cresci lá, estudei, trabalhei e... Gosto de tudo que diz respeito àquela terra: Espaços, música
e respetivos ritmos, gastronomia nomeadamente as moambadas, mosongué e tantas outras comidas, e todos os frutos tropicais.
O mar de Angola e principalmente o Mussulo. As farras, a Ilha, a Kissama e tudo e tudo...
Acalento um sonho por realizar, de um dia visitar a Austrália. Sidney e Brisbane são as cidades que mais gostaria de visitar, mas também o norte tropical como por
exemplo Darwin e os corais de Queenesland.
Também gostaria de um dia poder ir ao Japão, New York e S. Petersburgo.
Sou um mau bebedor mas sou um bom garfo. Gosto de leitão no sítio certo, Bairrada, bacalhau e de uma boa mariscada. Sou amigo do meu amigo mas fico podre com as
traições. Sou calmo e pachorrento e gosto da proteção do aconchego familiar. O meu mundo é a minha família direta e também o Zullu do meu filhote, o cãozinho Shar
Pei, o nossas rugas. Infelizmente já morreu.
BENFICA
COMO E QUANDO COMECEI A GOSTAR DO BENFICA
Há muito tempo atrás, era eu um puto com mais ou menos 7 ou 8 anos de idade, andava na escola primária. Tinha um colega, vizinho e amigo, o Zeca e ambos gostávamos de jogar a bola.
Naquele tempo inventávamos bolas para jogar futebol. De trapos com meias ou de borracha sempre de tamanhos mínimos, pois grandes eram caras e dinheiro era o que menos havia. Mesmo as
pequenas eram difíceis de conseguir. As poucas que íamos conseguindo arranjar, eram nas rifas, nos furos ou compradas com uns trocos ganhos a fazer pequenos favores. Era feito um esforço
do caraças por causa do raio da bola! Mas but...
Aos fins-de-semana não perdíamos o relato dos jogos dos nossos clubes favoritos. Às segundas-feiras fazíamos um a dois quilómetros a pé para ir à vila comprar o jornal “O Primeiro de
Janeiro”. Devorávamos tudo com os olhos lendo todos os resultados e a composição das equipas. Sabíamos de cor o nome de todos os jogadores.
Este Zeca tinha um irmão mais velho. Fisicamente eram pouco dotados, do tipo meia "leca".
O frio na nossa “parvalheira”, quer dizer na nossa santa terrinha, era difícil de vencer naquele tempo, principalmente para gente pequena e pobre. Na maior parte do tempo andavam
descalços e a geada incomodava p’ra caramba.
Um dia qualquer daquele ano, e já lá vão uns anos largos, os pais compraram um sobretudo para o irmão do Zeca. O sobretudo dava-lhe pelos pés. Passado algum tempo era um casaco e depois
uma jaqueta e até que deixou de servir. Nessa altura passou para o Zeca. Este foi crescendo mas o sobretudo não. Repetiu-se a história do irmão. Começou por ser um sobretudo rente aos
pés. Conforme crescia, passou a ser um casaco ligeiramente comprido, depois um casaco normal e por fim uma jaqueta de
Aquelas de "fazer entre o milho". Desculpem, ia dizer um palavão mas não disse! Por vezes em certos contextos seria o melhor, falar o português vernáculo, pois este é insubstituível.
Passado algum tempo deixamos de o ver com aquele casaco. Deixou de servir, talvez.
Mas não era esta história que queria contar.
Como ia dizendo, tanto o Zeca como eu gostávamos de jogar a bola. Nem sempre haviam parceiros disponíveis para formar equipas. Por isso, improvisávamos balizas com uma pedra de cada lado,
e fazíamos remates para ver quem marcava mais golos.
Os clubes da moda de então, eram o Porto e o Benfica. O Zeca escolhia prontamente ser o Porto. A mim não restava alternativa, tinha de ser o Benfica.
Em todas os joguinhos de bola em que participávamos, era sempre o Benfica-Porto e o Porto-Benfica. Tanto o Zeca como eu encarnávamos os respetivos clubes com alma e coração. A partir
daquela altura, aqueles clubes passaram a ser as nossas alegrias, tristezas, euforias, dores de barriga e uma panóplia de sentimentos e paixões que só o futebol consegue dar.
Assim nasceu em mim o amor ao Benfica, a paixão e a chama imensa! Gosto do Benfica e pronto. Não há explicação possível. O vermelho passou a ser a minha cor preferida. Passei a ver as
águias com outros olhos e outro sentir.
Mas o Benfica passou a ser também sofrimento e murros no estômago, alegria e êxtase.
Os não benfiquistas não vão achar graça nenhuma ao que estou p'ra aqui a dizer. Mas que diabo, não é agora que vou mudar! Que querem que eu faça? Mudar agora? Não, agora é tarde. Até
porque é uma questão de princípio. Por falar em princípio, isto já vem desde o princípio da minha existência!
Habituei-me a ter o vermelho como cor preferida. Como é que ia agora gostar das outras cores! A águia passou a ser uma ave simpática. Vê-la agora como ave rapina não é nada agradável.
Há um princípio ao qual sou fiel: Muda-se de casa, de carro, de camisa, de médico, de mulher/marido, mas nunca de clube!
Sou benfiquista mas agora já não sou doente. Se ganhar, tudo bem fico contente, mas se perder paciência, fica para a próxima. Tenho mais coisas com que me preocupar.
Como alguém diz, é a gente a falar, mas não é bem assim. Tenho de confessar que por vezes, quando os resultados não são os melhores, sinto um nervoso miudinho, dá-me um nó na garganta,
uma dor no peito e à noite custa-me adormecer. Doudeiras!
Tento e de vez enquanto consigo mentalizar-me que há mais vida para além do futebol e do Benfica em particular. Não é fácil, porque ser benfiquista é um estado de espírito ou de alma
se quiserem, e lutar contra isso é impossível! Não sofro apenas com o futebol. Também com as modalidades, principalmente o basquetebol. Fui praticante desta modalidade e vivo os jogos
com alguma intensidade. É a vida!
E foi assim como e quando comecei a gostar do Benfica.
ZULLU
ZULLU, O NOSSO CAOZINHO SHAR PEI!
Mas quem é afinal este Zullu?
O melhor é ser ele próprio a contar a sua história.
Então aqui vai.
Olá, eu sou o Zullu e esta é a minha história!
Vou contar a minha história na primeira pessoa. Pessoa? Mas eu sou um cão! Não interessa, façam de conta que sou gente. Por vezes tenho a mania que sou mesmo gente e comporto-me como
qualquer pessoa!
Nasci na Praia da Madalena em Vila Nova de Gaia e fiz parte duma ninhada de 4 filhotes da minha mãe "Mariaa".
A minha origem é incerta. Posso ser um descendente do Chow-Chow, a quem me assemelho pela "língua azul". Há quem diga que surgi inicialmente no Tibete ou no Norte da China há 20 séculos,
sendo que os primeiros exemplares da minha raça eram bem maiores do que sou atualmente.
Fomos perdendo físico na década de 40, por causa da fome devido à revolução comunista de Mao Tse Tung em 1949.
Nessa época, a nossa raça quase foi extinta. O Mao achava que era um luxo ter cães de estimação e mandava castigar os nossos donos por nos possuírem. Só tinham direito de existir os cães
trabalhadores. A maioria dos meus antepassados viraram alimento para o povo esfomeado.
Tenho uma aparência exótica e bastante singular. Sou um cão compacto, de estatura média e forte. Sou pouco ágil porque não faço ginástica. Estou sempre em casa! Tenho pele solta e pregas
no corpo. Quando era pequeno tinha mais. As minhas orelhas são pequenas e caídas para baixo, tapando os orifícios dos ouvidos, o que não é bom porque ganho otites. Não arejam!
Tenho pelo curto. Pareço triste mas sou alegre, calmo, tranquilo e muito meigo. Relaciono-me bem com as pessoas. Não gosto de alguns cães porque me roncam. Ninguém gosta que lhe ronquem,
nem mesmo as pessoas! Sou um pouco cabeçudo. As rugas da cabeça já me causaram problemas. Tive o entrópio. As rugas entram nos olhos e fazem lesões na retina. Tive de ser operado aos
olhos!
Como entrei na vida dos meus donos
Quando o meu dono, o F. M., fez dezanove anos, a mãe dele, queria dar-lhe uma prenda e ele foi dizendo que mão queria nada. Como ela foi insistindo, acabou por dizer que há muito tempo
tinha um sonho de um dia ter um cãozinho Shar pei. Visto que tinha insistido tanto, não teve coragem para recusar.
Pelos vistos ele já tinha o site sobre mim e meus irmãos debaixo de olho. Mal conseguiu o sim, a primeira coisa que fez, foi mostrar o site e respetivo vídeo comigo e os outros meus três
irmãos ainda bebés. Todos ficaram apaixonados.
Depois de combinarem através de mail, lá foi ele, namorada e os pais para me verem. Foi um aaaaaaaaaaaah!... Quando me viram!
Mas que coisa linda!... - Exclamaram todos. Só pude ficar vaidoso. Não me puderam trazer logo, mas uma coisa era garantida, tinha-lhes caído no goto!
No dia marcado foram-me buscar. Tinha pouco mais de um mês. Era muito pequenino e cabia perfeitamente numa caixa de sapatos, e não era preciso ser um número muito grande! Vim no banco
de trás do carro amparado pela namorada do meu dono. Quase desaparecia nas pregas do cobertor onde vinha aconchegado!
A minha história continua...
Entretanto o tempo foi passando e com ele vieram doenças quase todas de origem genética. Parece que a minha existência foi manipulada em laboratório. Nem tudo correu bem.
O equilíbrio entre a doença e a cura era muito ténue. Os medicamentos faziam muito mal, mas sem eles a doença galopava. Foi-me aguentando até próximo da velhice, mas um dia senti-me
muito mal e com muitas dores principalmente nos ossos. Deixei de comer e o andar era com muita dificuldade. Não restou alternativa ao meu dono senão ajudar-me a morrer. Fui um cãozinho
desejado, amado e acarinhado e apesar de tudo fui feliz. Tudo tem um fim e eu tive o meu. Um abraço canino.
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DOURO ACIMA
Por: Mattusstyle em 12.12.2021 às 18:35
CRUZEIROS NO DOURO
Esta história aconteceu em 2016
Há quanto tempo... Sim, há quanto tempo andávamos a pensar em fazer um cruzeiro no douro e nunca mais nos resolvíamos. Pensávamos e não passava disso! Até que num dos cafés dominicais
com uma amiga, em que o filho desta também apareceu, a propósito não sei de quê, falou-se do assunto. Por coincidência, também tinham pensado no mesmo.
Desenrascado como é, o jovem prontificou-se a resolver a situação. De um momento para o outro marcou a viagem. O 22 de Agosto de 2016 foi o dia escolhido ou disponível. Estava a fazer-nos
falta um empurrão destes.
Gente jovem com disponibilidade que nos vai faltando a nós. Só assim, empurrados no bom sentido para a aventura. Foi bom, soube bem, e se calhar vamos precisar de mais empurrões destes.
Qual é o próximo?
Naquele dia, o bando dos cinco… Não, os cinco da vida airada… Também não, nós os cinco simplesmente, a amiga, o filho e namorada, a minha cara-metade e eu, lá fomos por aí a baixo para
depois ir rio acima. Não havia certeza se a partida do barco seria às oito ou às nove. Pelo sim e pelo não, chegamos cedo. Num carro amplo que o jovem desenrascou, estacionamos no parque
de Miragaia ainda não eram oito horas. Devagar devagarinho, naquelas ruas estreitas, dirigimo-nos para as docas da Ribeira. O “nosso” barco e outros já estavam no cais ancorados.
Enquanto esperávamos, demos umas voltinhas naquele espaço. Estava bom tempo e prometia um lindo dia de sol. As esplanadas já estavam a ser montadas para o fervilhar de vida que iria
acontecer à noite.
À hora marcada, os passageiros formaram uma filinha junto à escada que nos conduziria à embarcação. Pouco a pouco o barco foi engolindo aquela gente incluindo nós. De imediato foi servido
o pequeno-almoço. Mesa 8 a “nossa” mesa. Lá estava o triângulo em papel com a identificação do jovem bem visível. Razoável café da manhã: Sumo, pão, bolo, manteiga, compotas e café com
leite. Depois de aconchegados os estômagos, todo o mundo subiu ao convés. Pouco depois o barco largou as amarras e começou as deslizar sulcando as águas rio acima. Passamos a ponte D. Luís e do lado de Gaia lá estava a serra do Pilar imponente e misteriosa como sempre. Todas as outras pontes foram-se sucedendo: Ponte do Infante, ponte Dona Maria, Ponte S. João, ponte do Freixo e outras. No convés, havia cadeiras para toda a gente e bancos laterais, uns a bombordo e outros a estibordo. Ninguém queria perder peta da paisagem. Alguns colocaram-se na proa, talvez para verem a quilha a cortar as águas naquele ram-ram a 20 Km/hora. A maioria no convés passava o tempo cada um à sua maneira. Ora admirando a paisagem, tirando fotografias ou simplesmente não fazendo nada. A certa altura, o sol resolveu começar a queimar a pele daquela gente, pois de um momento para o outro tornou-se forte e intenso. Bom para quem quisesse trabalhar para o bronze.
Lindas paisagens tanto numa margem como na outra.
Foi aproveitar o momento para nos reencontrar, connosco e com a natureza. Foi conhecer novas paisagens, fazer descobertas, descansar e aliviar do stress do dia-a-dia e partilhar
experiências. Subir o rio Douro ou descer de comboio ou de autocarro, é simplesmente lindo! Vale a pena.
Subimos até à cidade da Régua. Para a próxima poderá ser até Barca D’Alva. Quem sebe! O que se aprecia nas margens do rio é divino, deslumbrante. Os desníveis de Crestuma/Lever e
Carrapatelo são experiências ricas, únicas e espetaculares. O serviço de bordo foi muito agradável e simpático. A refeição foi regada com vinho maduro, razoável e fresco.
Antes de descrever os desníveis e a hora do almoço, um pouco de história: O rio Douro é um dos maiores de Portugal, mas também dos mais bonitos. O seu comprimento ronda os 927 Km e é
o terceiro mais extenso da Península Ibérica. Foi e ainda é uma fonte de riqueza para as populações ribeirinhas. É nas margens deste rio que se situa uma das mais importantes, antigas
e tradicionais regiões demarcadas produtoras de vinho. A história do Vinho do Porto é a mais emblemática. As cidades do Porto e Gaia muito devem ao seu rio. Entra por Portugal dentro
em Barca D’Alva. É um canal de transporte privilegiado. Foi a via para transportar os vinhos da Régua para as caves de Vilas Nova de Gaia. Antigamente era um rio perigoso. Com a
construção das barragens, tornou-se um rio navegável para grandes barcos de cruzeiro, que se cruzam ora rio acima ora rio abaixo. A região vinhateira do Alto Douro, Património da
Humanidade, é uma vista deslumbrante.
OS DESNIVEIS:
No percurso até à Régua, há dois desníveis. Devagarinho aproximou-se do primeiro, Crestuma/Lever. Entrou lentamente no pequeno túnel. Atrás de si, a comporta em forma de livro fechou-se.
O barco foi preso num sistema a funcionar em pequenos carris verticais numa das paredes laterais. O nível das águas subiu cerca de 25 metros e demorou mais ou menos 20 minutos. O jovem
aproveitou este espaço de espera para meter conversa com um dos comandantes. Valeu-lhe um convite para visitar a casa do leme. A embarcação com o seu conteúdo, pessoas e bens chegou ao
nível superior e continuou a viagem.
Barragem de Carrapatelo, segundo desnível. O mesmo sistema do anterior, só que a comporta deste era em forma de guilhotina. Este meteu um pouco mais de respeito. Trinta e cinco metros e
cerca de meia hora para chegar lá acima. Visto de baixo para cima, parecia impossível de vencer. Aquela altura era descumunal e metia medo depois de saber que teríamos de ir lá para cima.
Também se venceu e a viagem continuou.
HORA DO ALMOÇO:
Toque para o rancho, comida, almoço, como queiram. Todas as formiguinhas se dirigiram para a toca, sala de jantar. Antes do almoço propriamente dito, foram servidos alguns aperitivos,
sólidos e líquidos: Pão torrado com rodelas de chouriço, mini pataniscas de bacalhau e vinho do porto. Nós escolhemos rosé. Coisa boa, simplesmente delicioso e espetacular! A seguir,
carne estufada com arroz ou batata e legumes, regado com vinho branco maduro fresco que devido ao calor escorregava bem gargantas abaixo. Dizem que as comidas não são grande coisa.
Realmente não são, mas a fome encarregou-se de atenuar as diferenças entre o razoável e o sofrível. Para sobremesa, foi servida uma fatia de bolo que estava bem bom.
A popa não tinha espaço ao ar livre. O seu interior era ocupado com o bar de um lado e as casas de banho do outro. A música de serviço era do Quim Barreiros. O pessoal divertia-se com
esta música brejeira. É sempre engraçado ouvir aquelas letras, cujas intenções se leem indiretamente nas entrelinhas.
- Está a nascer um negócio na tua cabeça, Zé
- Corta o mal antes que cresça, Zé.
E assim por diante.
E o povo divertia-se. Alguns até dançavam em espaço reduzido!
Havia um pouco de tudo: Emigrantes, Brazucas e Portugas.
A namorada do jovem espalhava a sua simpatia, com um sorriso constante estampado no rosto.
Devagar foi vencendo a distância quilómetro após quilómetro. Localidades mais ou menos importantes foram sendo ultrapassadas. Uma delas Castelo de Paiva. Lá estava no topo de uma ponte,
o Memorial em forma de anjo com umas grandes asas viradas para o céu, em homenagem às vítimas da queda da ponte há uns anos atrás. Logo a seguir e à vista desarmada, o abraço do Tâmega
ao encontrar-se com o Douro, sua foz em Entre-os-Rios. Aí, fazendo uma curva ligeiramente à direita, aquele veículo aquático continuou o seu percurso.
As vinhas nos socalcos sempre a subir a partir do rio, é um espetáculo de beleza verdejante, só visto.
Ao fim de praticamente cinco horas, Peso da Régua à vista. Na margem sul, era bem visível o reclame gigante da Sandeman e na margem norte a moldura urbana da cidade. Muitos barcos grandes
e pequenos a entrar e sair da estação marítima. Não nos pudemos afastar muito daquela zona, pois o tempo entre a chegada do barco e a partida do autocarro era muito pouco, o suficiente
para num bar próximo matar a sede, pois o calor tornou-se quase insuportável. O jovem acabou por comprar recuerdos, uma garrafa de vinho do porto rosé e outra de moscatel.
REGRESSO:
Junto ao cais da Régua, o guia da empresa que nos iria acompanhar, juntou muita gente à sua volta tentando informações referentes ao regresso. Desavenças por mau comportamento
da Carris
evaram a que o regresso se fizesse de autocarro e não de comboio. Chegou a hora e o autocarro de dois andares foi comendo aquela gente toda. Iniciou a marcha dirigindo-se pela
parte norte
da cidade nas vias rápidas e autoestradas. A paisagem das vinhas nas encostas continuava a deslumbrar.
Fomos deslizando de umas autoestradas para outras, passando por alguns tuneis de menor importância. Depois de estarmos fartos de comer asfalto durante alguns quilómetros, eis o
túnel do
Marão. Tem 5,7 Km de extensão. Eu como outros ainda o não conhecia. Há males que vêm por bem. A troca do trem pela “caminheta” serviu para isso. Aquela obra gigantesca é de se lhe
tirar
o chapéu. Parabéns à engenharia portuguesa.
Ainda houve tempo para parar numa área de serviço para refrescar as ideias, quer dizer as goelas. Só que os preços foram de tal maneira caros que quase ficávamos com elas entaladas na
garganta. Abusos!
Era quase noite quando chegamos ao Porto. O motorista conduziu o veículo nas ruas da cidade até à estação de S. Bento. Queria que o autocarro nos vomitasse ali. Conversa para trás
e
conversa para a frente, acabou por nos levar até à entrada da Ribeira mesmo juntinho à parte inferior da ponte de Dom Luís. Seguimos devagarinho nas docas. A vida fervilhava nas
esplanadas e restaurantes. Já me tinham falado nas docas do Porto (Ribeira), mas nunca pensei que fosse assim. É mais do que imaginei! Tudo esgotado naquele espaço. Nunca vi tanta
gente
junta no mesmo lugar. A estrangeirada era mais que muita. Mesmo que nos quiséssemos sentar não havia onde. Seguimos para o carro e daí para casa no sentido inverso ao feito de
manhã. Há
muito que a noite nos tinha encontrado quando chegamos a casa. A viagem tinha chegado ao fim. Cansados e satisfeitos de um dia fantástico para mais tarde recordar.
A aventura acabou onde começou, Guimarães.
Da capital europeia da cultura para o mundo, saudações afetuosas.
Ficou com uma ideia do que é um cruzeiro no Douro?
Bem, contado é uma coisa e vivido é outra!